Mostra apresenta os sentidos do viver em São Paulo

“É preciso analisar a história e contar outra vez”, observa o escultor. “Apesar dos monumentos que existem na cidade em homenagem aos bandeirantes, eles eram bárbaros. Exterminaram, escravizaram os índios e aniquilaram os quilombos.” A contribuição de Flavinho Cerqueira, como paulistano que vive e trabalha na cidade, é ressignificar a história de São Paulo através da arte. Daí a obra Tinha que Acontecer (Cabeça de Bandeirante), que foi moldada com três toneladas e meia de barro. Uma escultura que provoca, questiona e, ao mesmo tempo, impressiona. Alia a poética da estética à dura realidade da cidade.

Cerqueira é um dos 33 artistas que integram a mostra Metrópole: Experiência Paulistana, que tem a curadoria de Tadeu Chiarelli, diretor geral da Pinacoteca e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. “São Paulo é a síntese de todas as cidades do continente exalando em seus obstinados e desmesurados contrastes a sensação de se viver no eterno anseio por uma realidade menos amarga e mais solidária”, diz o curador. “Esta mostra apresenta obras que nos fazem refletir sobre a experiência de se viver na cidade. Parte de quatro marcas paulistanas: o Jaraguá, o Monumento às Bandeiras, a Avenida Paulista e este edifício que abriga a programação da Pinacoteca.”

A cidade e o chão sagrado da flâneurie

Instalação de Dora Longo Bahia lembrando os interrogatórios da ditadura militar – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens.

Como bem lembra Walter Benjamin, “a cidade é o autêntico chão sagrado da flâneurie”. São as ruas labirínticas, com a sua agressividade, sensações e sentidos que estão pela cidade entre a multidão, que a mostra Metrópole: Experiência Paulistana apresenta em 80 obras de artistas que nasceram, residem, trabalham ou passaram pela capital. Há instalações, pinturas, vídeos, fotografias, esculturas que ocupam o térreo, as salas do segundo andar e uma parte do terceiro andar.

Os trabalhos estão espalhados pelas fachadas lateral e traseira, hall de entrada, elevadores, biblioteca, auditório, enfim, por todo o prédio. É interessante ver como as obras da mostra se fundem ao acervo do Memorial da Resistência, museu que funciona no mesmo prédio, e passam a ter um novo significado, destacando a sua carga histórica. Um exemplo é a instalação de Dora Longo Bahia, que simula as salas de interrogatório do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna), durante a ditadura militar no Brasil, entre 1964 e 1985.

Ocupação, 2000, série de Caio Reisewitz – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens.

Esculturas de Florian Raiss: Ricardo, 2008, Cauã, 2014, e Henrique, 1989 – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens.

Réplica do Monumento às Bandeiras em miniatura, de Jaime Lauriano – Foto: Cecília Bastos / USP Imagens.

“Inaugurado em 1912 como um entreposto de mercadorias, o edifício que atualmente abriga a Pina Estação e o Memorial da Resistência tornou-se, a partir de 1940, sede do Departamento Estadual de Ordem Pública e Social, que funcionou até 1983, quando passou a abrigar a Delegacia de Defesa do Consumidor”, esclarece Chiarelli. “Em 2004, o edifício tornou-se a segunda sede da Pinacoteca de São Paulo e, em 2009, passou a abrigar também o Memorial da Resistência.”

Os artistas que fazem parte da mostra são: Lia Chaia, Iran do Espírito Santo, Renata Felinto, Hudinilson Jr., Evandro Carlos Jardim, Marcelo Moscheta, Laís Myrrha, Maurício Nogueira Lima, Moisés Patrício, Daniel de Paula, Fernando Piola, Caio Reisewitz, Sidney Amaral, Victor Brecheret, Flávio Cerqueira, Luiz Gê, Jaime Lauriano, Florian Raiss, Nicolas Robbio, Dora Longo Bahia, Peter de Brito, Rafael Carneiro, Leda Catunda, Lia Chaia, Raphael Escobar, Gustavo Von Ha, Carmela Gross, Zed Nesti, Nazareth Pacheco, Chico Zelesnikar e Leonilson.

Foto: Cecília Bastos/USP Imagens.

Foto: Cecília Bastos / USP Imagens.

“Megalópole latino-americana, São Paulo é a síntese de todas as cidades do continente exalando em seus obstinados e desmesurados contrastes a sensação de se viver no eterno anseio por uma realidade menos amarga e mais solidária. Viver em São Paulo é estar em constante deslocamento, é quase permanentemente experimentar a cidade em relances fugidios, vislumbrando a ordem no caos, o caos no caos”, afirma Chiarelli.

Foto: Cecília Bastos / USP Imagens.

Serviço

A exposição Metrópole: Experiência Paulistana permanece em cartaz até o dia 18 de setembro, no segundo andar da Pina Estação.
A visitação é aberta de quarta a segunda-feira, das 10 às 17h30 – com permanência até as 18 horas.
O ingresso custa R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia); crianças com menos de dez e adultos com mais de 60 anos não pagam, e aos sábados a entrada é gratuita para todos os visitantes.
Mais informações pelo telefone (11) 3335-4990.

***
Por Leila Kiyomura no Jornal da USP.

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