Mas quem era, afinal, Herzog? Qual a sua importância para o jornalismo brasileiro? Qual o sabor dos seus textos? Como era visto por familiares e amigos? O que pensava e escrevia sobre cinema? Como seriam os filmes que nunca chegou a produzir?
Essas perguntas sugerem a reordenação de uma história que ficou conhecida de trás para a frente: a partir da morte precoce, que repercute até hoje como registro da redemocratização política do Brasil.
Em 1975, a versão oficial dos militares comunicava o suposto suicídio de Vladimir Herzog nas dependências do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) de São Paulo. A partir de então, família e amigos iniciaram uma luta para provar que o inquérito policial militar (IPM nº 1.173-75) sobre sua morte era forjado. Em 2018, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (CIDH/OEA) anunciou a condenação internacional do Estado brasileiro pela omissão na apuração do assassinato.
A 46ª edição do programa Ocupação inverte essa narrativa, lançando luz sobre a vida e a produção intelectual de Vlado – nome de nascimento que ele, imigrante iugoslavo, preteriu por um que soasse comum no Brasil. Peças desse quebra-cabeça são reunidas para nos aproximar do jornalista, do editor, do fotógrafo, do desbravador do audiovisual e do amigo.
A mostra, que tem curadoria do Itaú Cultural e do Instituto Vladimir Herzog, estabelece um percurso em que o pai de família amoroso, o jornalista dedicado e o aspirante a cineasta aparece em fotos, filmes, cartas, reportagens, depoimentos e elementos audiovisuais. O Caso Herzog, como ficou conhecido o episódio de sua morte nos porões da ditadura , também ganha destaque a partir da exposição de documentos como as suas duas certidões de óbito: uma que traz “suicídio” como causa da morte e outra, emitida anos mais tarde, com “sufocamento por asfixia mecânica” como razão do óbito.
Fuga do antissemitismo
Nascido em 27 de junho de 1937, em Osijek, na Iugoslávia (atual Croácia), Vlado (nome de batismo, adaptado depois para Vladimir) Herzog chegou a São Paulo com a sua família aos 10 anos para escapar do antissemitismo na Europa. Ele se naturalizou brasileiro, formou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), tornou-se jornalista, editor, professor e se casou com Clarice, com quem teve os filhos Ivo e André.
Apaixonado pelo cinema, Herzog tinha em seu currículo o documentário “Marimbás” (1960), feito como trabalho de conclusão de um curso, e se preparava para seu primeiro grande projeto, outro filme, sobre Canudos e Antônio Conselheiro. A mostra exibe os roteiros dos dois trabalhos.
Colaborador da Cinemateca Brasileira, o jornalista teve papel importante no evento Caravanas Farkas, série de documentários de curta e média-metragem com teor humanista, idealizada e coordenada pelo fotógrafo Thomaz Farkas, nos anos 1960. E, quando foi morto, em 1975, Herzog trabalhava na pesquisa e elaboração do roteiro de um filme sobre Antônio Conselheiro e o conflito de Canudos, na Bahia.
— Clarice, viúva do Vlado, disse que o marido estava pronto para ser cineasta quando morreu — diz Claudiney Ferreira, gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural. — Naquele momento, além de um novo projeto jornalístico para a TV Cultura, ele trabalhava na pesquisa e elaboração do roteiro do novo filme.
Em parceria com o Instituto Vladimir Herzog, a mostra oferece ainda uma publicação impressa – dedicada exclusivamente à relação entre Vlado e a sétima arte.
Serviço
Ocupação Vladimir Herzog
Itaú Cultural.
Endereço: Avenida Paulista 149 (estação Brigadeiro do metrô).
Visitação: até domingo, 20 de outubro de 2019.
Terça a sexta, 9h às 20h (permanência até as 20h30).
Sábado, domingo e feriado das 11h às 20h.
Piso -2.
Entrada gratuita.
Livre para todos os públicos – exceto a seção Caso Herzog, indicada para maiores de 12 anos.
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Da Redação com informações do Itaú Cultural.