Muros de desobediência doméstica de Ailén Possamay invadem Buenos Aires

Em Buenos Aires, capital da Argentina, a artista Ailén Possamay se apropriou desta curta mas significativa frase para fazer intervenções de rua que provocam quem as encontra.

Os murais de Possamay acompanham a frase com imagens de mulheres fazendo tarefas domésticas. A artista disse que tudo começou no âmbito de um trabalho universitário, produzido em cartazes, que foram depois deslocados para as paredes, para exibição em ambiente público.

“Também tem a ver com tomar a rua, transformando tudo em feminismo”, disse Possamay à Rádio FM La Tribu contando por que levou seu trabalho para as ruas. Tem a ver com “levantar um debate que devemos provocar nas ruas, abrir o jogo para todos, a qualquer um que se sinta desafiado”. Ao mesmo tempo,  ressaltou que a violência econômica é a aquela naturalizada, menos discutida e menos falada.  E aí aparece o papel do falso amor que as mulheres têm quando se entregam à casa e a todos os seus afazeres.

Foto: Ailén Possamay.

A violência física, e a sua rejeição é que se tornou mais visível nos últimos tempos, foi a primeira violência sobre a qual o feminismo se concentrou, porque é a mais extrema, é a ponta do iceberg, com as violações, os abusos. Mas agora temos de continuar a avançar contra todos os tipos de violência, a ir sob esse iceberg pois a violência econômica é invisível.

Ailén Possamay se reconheceu muito em Federici e diz que todo projeto é sobre trabalho doméstico e a economia feminista. Nesse sentido ela disse que além dos murais, produz objetos relacionados à casa e às donas de casa e, por exemplo, produz rolos de papel de cozinha que em vez de receitas trazem técnicas de autodefesa estampadas, luvas de cozinha que dizem quando em dúvida, qual a melhor viúva e “se eu posso fazer um bolo eu posso fazer uma bomba”, entre outros.

Foto: Ailén Possamay.Quanto aos murais, ela diz que eles geram um impacto muito forte, devido à escolha de imagens, que provocam reações, quando exibidas em público, porque são íntimas e privadas. E a frase é uma coisa que bate na cara, porque faz enxergar que o que está sendo feito não é amor, é um trabalho. Foto: Ailén Possamay.

Ao mesmo tempo, aproveita a oportunidade para esclarecer que as donas de casa e aquelas que decidem ficar em casa não estão sendo atacadas, mas que podem dar visibilidade para o fato de que o que estão fazendo em casa é um trabalho, que tem de ser reconhecido por todo mundo e deve ser recompensado.

“Só porque você está em casa não significa que você não está contribuindo com dinheiro para sua casa”, disse a artista, aos jornalistas que a entrevistaram.”Você está permitindo que seu marido saia para trabalhar porque ele não está cuidando de outras coisas, então metade desse salário é seu”, acrescenta.

Foto: Ailén Possamay.

A frase de Federici e os murais da artista argentina desconstroem o fato de que todas as ações são marcadas pelo amor, pela afetividade obrigatória, mas as imagens mostram mulheres fazendo algo, realizando um trabalho, algo que se querem que alguém faça por você, você tem que pagar. “São todas as atividades que realizamos e isso é tempo”, e tempo hoje é dinheiro, é o que move a economia.

Estatísticas mostram que as mulheres continuam a dedicar duas vezes mais horas do que os homens ao trabalho doméstico e aos cuidados da casa, mesmo as que trabalham fora.

Foto: Ailén Possamay.

“Se parássemos com tudo isso no dia 8 de março, o mundo pararia efetivamente, porque somos o motor de um barco a motor de elementos vitais, é uma questão de existência, e o problema também está na transferência de mães para filhas, sem incluir filhos, porque são tarefas que geralmente ninguém quer fazer, então quando você tem maior poder aquisitivo você contrata alguém para fazer essas coisas”.

O objetivo da ação é que o trabalho em casa seja reconhecido como tal, “as crianças na escola muitas vezes dizem que suas mães não trabalham mas na realidade estão trabalhando o dia todo, as acordam, cozinham, limpam a casa, vão à escola para levá-las e buscá-las, etc.”.

***
Fonte: La Rede21 (espanhol).

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