Na 15ª temporada de dança do Teatro Alfa, as companhias que fizeram parte de sua história

É uma oportunidade de ver o que de novo é feito pelas principais companhias do Brasil, que têm pouca chance de se apresentar em São Paulo e também de alguns visitantes internacionais. 

Sempre foi uma surpresa para este gringo residente que, desde o primeiro momento em que pisou no Brasil há muitos anos, foi seduzido pelo seu ritmo cultural único, uma batida percussiva que parece encher o ar. Mesmo quando você não consegue ouvir, não se pode deixar de sentir as vibrações.

Você espera que a dança em todas as suas formas esteja em toda parte. Mas não está. Não é de surpreender que o samba, o forró e várias danças de rua locais recebam muita atenção na época do carnaval e do Natal, e haja apresentações esporádicas onde menos se espera.

Felizmente, uma iniciativa da Secretaria Estadual de Cultura (Projeto SP Cultura no Metrô) apresentará mais de 300 espetáculos culturais de dança, música, teatro e circo entre hoje e dezembro nas estações de metrô de São Paulo, não necessariamente os melhores locais para apresentações de dança, mas para muitos paulistanos, uma janela para se ter pelo menos uma visão de diferentes formas e estilos de dança. 

Infelizmente, a quantidade de dança clássica e moderna apresentada por aqui é lamentavelmente limitada em comparação com o que se tem disponível nas principais cidades do mundo. Embora existam agora dezoito companhias de dança que recebem apoio governamental, localizadas nos grandes e pequenos centros urbanos de todo o país, é possível enumerar as companhias relevantes nos dedos de um pé. A mídia em geral, presta pouca ou nenhuma atenção para a dança e há relativamente apenas uns poucos teatros que apresentam dança e atraem público de tamanho razoável. Neste cenário, o Teatro Alfa, embora fora do centro da cidade, é o melhor deles.

Tanztheater Wuppertal de Pina Bausch. Foto: Divulgação.

Nesta 15ª temporada do Alfa, importantes companhias brasileiras se exibem no Teatro: o Grupo Corpo, a Cia de Dança Deborah Colker e a São Paulo Companhia de Dança (SPCD) são apresentadas este ano junto com outros três grupos estrangeiros: Cie. DCA – Philippe Decouflé, Mats Ek e Ana Laguna, Tanztheater Wuppertal de Pina Bausch.

Não é que não haja interesse na dança. O afluxo de jovens que desejam se tornar dançarinos é enorme – o Corpo de Baile do Municipal de 78 anos, gratuíto, tem mais de 1.000 alunos ‘integrais e especializados’ e nove cursos em suas audições anuais abertas, que atraem centenas de jovens ansiosos, muitos, sem dúvida, com visões de fadas cintilantes e com o estrelato do balé dançando em suas cabeças.

Por que os candidatos abraçam os anos de trabalho árduo e a possibilidade relativamente pequena de uma carreira de dançarino em seus futuros, quando poucos chegam ao topo no mundo altamente competitivo da dança? As oportunidades de carreira no Brasil para os graduados são muito escassas e muitos, geralmente os melhores, vão para o exterior para fazer carreiras em companhias internacionais.

Mais do que qualquer outra coisa”, diz Inês Bogéa, diretora artística da São Paulo Companhia de Dança, “bailarinos querem dançar”. E eles querem dançar o máximo possível em tantos trabalhos diferentes quanto possível e serem vistos pelo maior público possível. Com essa ambição, surge o perigo de não se chegar longe demais.

Para a temporada deste ano no Alfa, a Companhia de Dança de São Paulo ultrapassou as fronteiras tradicionais do repertório popular com obras dos coreógrafos de dança moderna, Henrique Rodovalho, Jirí Kylián e Joëlle Bouvier. O resultado foi decepcionante.

"Melhor Único Dia", coreografia da São Paulo Companhia de Dança. Foto: Fernanda Kirmayr.

A peça de 2017, “Melhor Último Dia”, de Henrique Rodovalho, é composta de música eletrônica, voz e um grupo de 14 dançarinos vestidos com roupas idênticas, dando-lhes movimentos de staccato e fugas contrastantes do grupo. Tudo parece estar indo a lugar nenhum, menos como “grandes grupos de animais em movimento”, como descrito no programa, do que como movimento organizado de cupins.

O checo Jiri Kylián é, sem dúvida, um dos melhores coreógrafos vivos. Mas seu esboço “14’20” para dois dançarinos, tirado de um trabalho mais longo e procurando captar questões de tempo, amor, vida e morte, é ou abstrato demais ou carente de foco suficiente para envolver o espectador.

14'20''. Foto: Arthur Wolkovier.

A peça final, ‘Odisseia’, a nova da São Paulo Companhia de Dança da coreógrafa suíça Joëlle Bouvier, é bem intencionada para capturar a ideia de transição, a esperança de uma vida melhor para os imigrantes. Infelizmente, é confusa, não consegue estabelecer essa narrativa e, portanto, parece vazia.

Espetáculo "Odisseia", da São Paulo Cia. de Dança. Foto: Rodolfo Dias Paes.

A grande dança não é fácil e, como em todas as formas de arte, os fracassos são tão importantes quanto os sucessos.

“A dança é a linguagem oculta da alma do corpo”, disse Martha Graham, a musa icônica da dança moderna. Com sorte, o público de São Paulo terá um número cada vez maior de oportunidades de ver, curtir e sentir as vibrações da dança que fazem parte de todos nós.

Serviço: No Teatro Alfa (r. Bento Branco de Andrade Filho, 722, Santo Amaro; tel.: 5693-4000). Sáb., às 20h; dom., às 18h. R$ 75 e R$ 100.

***
Peter Rosenwald mora em São Paulo e combina sua ocupação como estrategista de marketing para grandes empresas brasileiras e internacionais. Tem também carreira em jornalismo onde atuou por dezessete anos como crítico sênior de dança e música do ‘The Wall Street Journal’. Escreve toda semana no São Paulo São.

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