Essa foi a tônica da mesa “Rios, espelhos da sociedade brasileira”, com Victor Fasano, ator e ambientalista, à frente da Fundação Amazônia Sustentável; Malu Ribeiro, da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica; Eduardo Srur, artista plástico; e Carlos Alkmin, fotógrafo.
Com relatos emocionados sobre suas experiências na defesa da água, os participantes apontaram a necessidade urgente de restabelecermos uma nova relação com os rios.
“Se os rios são espelhos da nossa sociedade, o que será que o Pinheiros e o Tietê dizem de nós?”, indagou Malu. Estamos precisando, segundo ela, voltar a nos reconectarmos com a natureza – é isso que está faltando para mudarmos nosso olhar sobre os rios.
“Somos parte da natureza, mas nos afastamos”. E os rios, lembrou Malu, sempre estiveram ligados ao desenvolvimento de diversas civilizações, a água é um símbolo espiritual importante em quase todas as religiões, exatamente por ser fonte de vida.
Paulina Chamorro, mediadora do encontro, trouxe o alarmante dado: 80% do lixo dos oceanos têm origem urbana. Ou seja: chegam aos mares pelos rios.
“É chocante ver que até rios na Amazônia, em lugares onde as cidades estão longe, estão poluídos por plásticos e outros resíduos”, disse Fasano. A exemplo do artista Eduardo Srur, que tem uma série de trabalhos visuais e fez algumas performances e instalações nas águas dos rios Pinheiros e Tietê, Fasano também foi protagonista de algumas imagens impactantes em águas doces.
Em uma dessas, incorporou o personagem Cobra Honorato, de uma lenda amazônica. Trata-se de um rapaz que encanta-se em uma cobra, habita o fundo de um rio e à noite vira gente novamente.
Com esse trabalho, ele procurou mostrar que o homem é parte da natureza e que tudo o que atinge a vida das águas afeta a vida humana da mesma forma.
“Temos de deixar nossa prepotência de lado e parar de achar que somos as espécies mais importantes do planeta”, alertou.
Malu, que esteve em Brumadinho (MG) quando houve o rompimento da barragem em janeiro, ficou estarrecida ao constatar a morte de tantas vidas. E chamou atenção para um ponto importante: “Estamos fazendo o mesmo com nossos rios em São Paulo, e há anos e não percebemos”.
Para reverter isso, Eduardo Srur, cujo ateliê fica voltado para o Pinheiros, faz intervenções para chamar atenção sobre os rios. Ele já colocou gigantescas garrafas pet nas margens dos rios; também lançou nas águas poluídas do Pinheiros e do Tietê bonecos remando ou prestes a mergulhar. “A arte não reproduz o visível, ela torna as coisas visíveis”, disse, demonstrando sua intenção com seu trabalho e citando o artista Paul Klee.
Carlos Alkmin é autor de fotos feitas em rios urbanos, tanto do Brasil como do exterior. Com suas imagens, diz buscar plasticidade em meio à sujeira das águas, sensibilizando as pessoas para a beleza que existe naquelas paisagens. “Meu sonho é poder retratar os rios sem ter que tratar as imagens, quero que elas apareçam naturalmente belas”.
Frase: “O momento pede que a gente esqueça as diferenças e se una, como humanidade, na busca de soluções para nossos rios”. Victor Fasano.
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Por Maria Lígia Pagenotto para a Mostra SP de Fotografia.