Para examinar todos os aspectos que compõem a sustentabilidade e a qualidade de vida em uma cidade, divulgamos anualmente o “Cities in Motion Index” (Índice Cidades em Movimento), do IESE, que vai além da simples mensuração de tecnologias e do meio ambiente. O Index mais recente, mostrou que as cidades brasileiras têm um desempenho relativo insatisfatório. São Paulo, posicionada na 124ª posição entre 181 importantes cidades do mundo analisadas, está seis posições abaixo de Porto Alegre, a cidade melhor classificada do país. Por que essas cidades estão tão mal posicionadas?
Cada cidade precisa desenvolver sua própria visão ou modelo mediante diálogo com todas as partes interessadas, o que pode ser problemático, tendo em vista as mudanças de pontos de vista geradas por eleições periódicas. Essas cidades precisam desenvolver uma governança inteligente com integração, aproveitando interdependências dentro e fora das prefeituras. O cerne da estratégia é desenvolver uma visão abrangente para a cidade e definir os passos para concretizála, ou pelo menos para avançar nessa direção. Entretanto, a coisa mais difícil em gestão estratégica nas organizações (e também em cidades) é transformar uma estratégia em realidade; em suma, em sua execução.
Um aspecto vital da execução estratégica nas cidades é a colaboração. As cidades participam de diferentes formas em parcerias público privadas. Por intermédio desses acordos, infraestruturas e serviços públicos podem beneficiar-se do financiamento, eficiência e competitividade de uma empresa privada e, ao mesmo tempo, porém, conservando a gestão e a regulamentação públicas. Tendo em vista que o indivíduo precisa fazer parte da solução para os problemas da comunidade, a colaboração deve também incluir cidadãos, empresários e novas fontes de inovação, como a economia colaborativa. Parcerias privadas são necessárias em todos os níveis, mas são especialmente úteis na solução de problemas públicos.
Parque da Redenção em Porto Alegre, a cidade melhor classificada do país. Foto: Wickboldt / Creative Commons.
Além disso, é preciso dizer que a colaboração não termina com empresas ou com cidadãos; ela precisa também incluir o próprio governo. A colaboração tem de acontecer nos diferentes domínios das prefeituras; entre os governos municipais da mesma área ou região metropolitana; e mesmo entre diferentes níveis de administração local, regional, nacional e supranacional.
Além dessa coordenação colaborativa, a compreensão do impacto da informatização e da necessidade de implementar sistemas essenciais de sensores TIC e infraestruturas de conectividade também é essencial para a execução de uma estratégia. Isso demanda novos investimentos e relacionamentos com empresas de tecnologia que vendem soluções. Esse panorama já complexo tornase ainda mais complicado quando se trata de desenvolver um modelo de negócios baseado em uma nova tecnologia. Sem a ideia de negócio, é difícil saber qual tecnologia é necessária, mas sem a tecnologia, é difícil saber qual o modelo de novos negócios deve ser implementado. Mesmo quando as respostas a essas perguntas parecem claras, pode parecer muito arriscado colocar as ideias em prática. Esse problema do tipo “ovo e a galinha” é uma grande barreira ao desenvolvimento de cidades inteligentes.
Carros elétricos de serviço de compartilhamento sendo recarregados em rua de Paris, França. Foto: Autolib.
Além disso, novos modelos de negócios que não dependem diretamente de dados abertos também se beneficiam desse contexto. Compartilhamento de automóveis e aplicativos como o Uber, por exemplo, estão revolucionando a maneira como organizamos nossas atividades nas cidades. Essas ferramentas de colaboração nos mostram que quanto mais aproveitarmos o potencial da tecnologia para apoiar um governo inteligente, mais mudanças tornam-se possíveis.
A combinação de estratégia ambiciosa, execução colaborativa e apoio tecnológico confiável facilita a inovação nas cidades.A inovação é essencial para o desenvolvimento de cidades competitivas e sustentáveis. Precisamos fazer coisas de formas diferentes se quisermos resultados distintos, e o desenvolvimento das cidades por meio de gestão inteligente é o caminho.
Essa proposta tem um grande potencial, mas também enfrenta obstáculos intimidantes. Cada cidade necessita uma visão compartilhada e um plano para integração, juntamente com um bom grau de colaboração para concretizála. Isso requer infraestrutura e novos modelos de negócios. Cabe ao Brasil e a todos os países tornaremse “mais inteligentes”. A pergunta é: será que estamos prontos para a gestão inteligente que necessitamos? Como cidadãos, devemos pensar em como escolher os líderes certos para esse desafio.
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Joan Ricart e Pascual Berrone são professores de gestão estratégica na IESE Business School. Tradução de Sergio Blum. *Artigo publicado no Valor Econômico.