Nasce em Pinheiros o primeiro jardim de chuva de São Paulo

No último dia 16 de dezembro, 200 pessoas passaram, entre as 10h e as 18h, para participar de um mutirão de plantio de araucárias e espécies da Mata Atlântica e dos remanescentes de Cerrado paulistano nas proximidades do largo da Batata, na capital de São Paulo.

As plantas vieram de terrenos em desmatamento próximos de Embu. As calçadas detonadas foram substituídas por caminhos de piso de concreto usinado. Pedras quebradas foram trocadas. Em memória do largo dos bondes, foi pavimentado um círculo. Dois bancos de ferro e madeira servem agora para contemplar a nova velha natureza reabilitada.

Nasceu assim o Largo das Araucárias, primeiro jardim de chuva público da cidade de São Paulo, fruto de um trabalho de equipe, numa nesga de terreno ocupada antes por um posto de gasolina. Apesar do terreno vulnerável, laudos da Cetesb atestaram que houve trabalho de descontaminação, segundo os idealizadores do projeto.

Bem ao lado do Bosque da Batata, que já tem uma floresta de bolso implantada desde maio de 2017, e na lateral esquerda da igreja Nossa Senhora de Montserrat.

O nome do largo homenageia as espécies que foram ali comuns e que sumiram junto com a urbanização, as mudanças no traçado do rio Pinheiros, a pavimentação de suas margens.

O traçado tenta recuperar a função da várzea. Em uma depressão do terreno, na parte central do espaço, foi escavado um escoadouro de mais de 5 metros, para dar vazão aos empoçamentos de água de chuva, em poucos minutos.

Mais de 20 caminhões de entulho foram retirados. Terra boa do local e o incremento de matéria orgânica foram substitutos no novo aterramento. Vegetação compatível com o esforço de absorção foi implantada, junto com as 60 araucárias de 30 cm a 3 metros do novo largo.

Além das araucárias, foram plantadas algumas palmeiras Jerivá de três metros, mudas de pitangueiras, cerejeiras brasileiras, araçás amarelos e guarirobas. Tudo muito junto, no terreno pequeno de cerca de 600 metros quadrados.

“Existe uma falsa crença que se você plantar mudas muito próximas elas não vão crescer. Mas é justo o oposto. Como no caso das araucárias, que gostam do Sol, mas que precisam de outras plantas que criem um nicho mais úmido para crescer”, conta Ricardo Cardim, do movimento Floresta de Bolso e um dos idealizadores do espaço, junto com Nick Sabey, do Novas Árvores Por Aí, Sergio Reis, arquiteto e urbanista, Guilherme Castanha, arquiteto, e do ambientalista Hamilton Cesar.

A ideia de reproduzir com o plantio o ambiente integrativo e protetor das florestas é o ponto central do projeto da florestas de bolso, de Cardim.

A manutenção do Largo das Araucárias está sendo discutida com Cardim e alguns patrocinadores. A partir de janeiro de 2018, acredita ele, haverá uma força de trabalho custeada por esses apoiadores para os cuidados com o Largo das Araucárias e o Bosque da Batata, com suas mais de 80 espécies plantadas.

Um dos problemas mais graves da região é o acúmulo de lixo, depositado por moradores, lojistas da região e carroceiros. Trata-se de um ponto viciado. “A Prefeitura deveria fazer um ecoponto nas proximidades, para inibir o depósito nessas áreas”, defende Cardim.

“A energia do local já é outra depois do nosso trabalho. O Largo das Araucárias é mais um exemplo da acupuntura urbana que fazemos. Com intervenções localizadas, queremos alterar o todo”, finaliza Cardim.

Espaço do novo largo, onde funcionou um posto de gasolina, junto à igreja de Mont Serrat, no largo da Batata. Foto: Blog Árvores de São Paulo.

O piso e estruturas do posto já limpos. Foto: Blog Árvores de São Paulo.

Vistos de cima o Largo das Araucárias e o Bosque da Batata. Foto: Toquinho / Canal Variedades.

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Mara Gama é jornalista com especialização em design, roteirista e consultora de qualidade de texto. Artigo publicado originalmente em seu blog na Folha de S.Paulo.

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