Neros modernos negam as mudanças climáticas globais

Essa é a mesma pergunta que o negador da mudança climática, o presidente americano Donald Trump twittou em resposta a uma onda de frio que, em meados de outono de 2013 produziu até uma camada incomum de neve em Nova York, roncando no transporte e ameaçando que a ‘Black Friday’ se tornasse ‘White Friday’. Infelizmente, esse efeito do “aquecimento global” não é sequer levemente humorístico.

Se fosse apenas Trump tweetando bobagens para desacreditar os estudos científicos comprovados sobre as mudança climáticas, poderia não ser tão grave. Mas Jair Bolsonaro, o recém-eleito presidente do Brasil, afirmou que o aquecimento global não é nada mais do que “fábulas de estufa” e que não só o Brasil sairá do Acordo de Paris de 2015 sobre as mudanças climáticas, mas abrirá a Amazônia para um rápido desenvolvimento econômico tal qual Trump que está abrindo terras públicas, antes consideradas uma parte sagrada da herança americana onde muitas terras nativas estão localizadas.

Imagem: Reprodução.

De acordo com o inglês The Independent, o novo ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, acredita que a mudança climática é uma “tática marxista para instilar o medo, sufocar o crescimento econômico dos países ocidentais e beneficiar a China”. Se ele fosse o representante do Brasil na Cúpula do G20 que acontecerá em Buenos Aires de 30 de novembro a 1º de dezembro, ao invés de Michel Temer, sua popularidade e capacidade de encontrar um terreno comum com os outros líderes de política externa do mundo provavelmente coincidiriam com as de Trump. Com essa posição, o Brasil certamente perderá a alto prestígio que obteve como líder ambiental mundial.

Com uma área doze vezes maior que a da Espanha, os 6 milhões de quilômetros quadrados da Amazônia a tornam a maior floresta do mundo. Ela tem sido corretamente chamada de “o pulmão do mundo”, por ser responsável pela produção de mais de 20% do oxigênio do mundo.

E ainda, ecoando a ânsia de Trump em colocar o que parece ser um crescimento econômico de curto prazo à frente da sustentabilidade, de acordo com o New York Times, Bolsonaro “favorece a abolição de terras indígenas protegidas”. Ele prometeu reduzir o cumprimento das leis ambientais, chamando-as de impedimento ao crescimento econômico, e deixou suas intenções para a Amazônia bem claras.

“Onde há terra indígena”, disse ele no ano passado, “há riqueza sob ela”. Essa riqueza já está sendo explorada ilegalmente por bandos de garimpeiros, madeireiros e fazendeiros que a desmatam a uma taxa chamada por todos os ambientalistas de “insustentável”.

Soa familiar?

Os ursos polares são um dos animais mais facilmente identificados por serem afetados pela mudança climática, devido à falta de gelo no Ártico, onde eles caçam a maior parte de seus alimentos. Foto: Getty Images.

Apesar dos melhores pareceres científicos disponíveis, até agora, a administração Trump tentou reverter mais de 70 regras ambientais, de acordo com uma análise do New York Times, baseada em pesquisas da Harvard Law School’s Environmental Regulation Rollback Tracker, Columbia Law School’s Climate Tracker e outras fontes.

De acordo com o jornal: “A administração Trump, em muitos casos, reduziu essas regulamentações em favor de políticas de extração de energia mais expansivas – frequentemente como resposta direta a pedidos de empresas de petróleo, gás e carvão. Trump argumentou que apoiar a indústria de combustíveis fósseis fortalece a economia ”.

O que liga a falta de vontade de Bolsonaro e Trump em prestar atenção no que é claramente uma imensa ameaça para as economias do Brasil e dos EUA e por extensão, do mundo, é uma relutância impressionante em abordar questões que não podem ser reduzidas à simplicidade das sequências do Twitter que rapidamente desaparecem e logo são esquecidas.

Quem está certo?

Protestos contra a administração Trump em Londres. Foto: BBCNewsbeat.São os negadores da mudança climática que parecem considerar que as tempestades desproporcionais, os selvagens incêndios florestais durante todo o ano e o aumento do nível do mar que em breve fará as ilhas desaparecerem e submergir as casas de praia dos ricos e famosos, bem como roubar a subsistência dos mais pobres que dependem do mar? Ou é a concordância quase universal na comunidade científica mundial de que estamos em um ponto crítico, enfrentando uma catástrofe global sem precedentes que se agrava a cada ano em que deixamos de tomar as medidas necessárias para tentar evitá-la e seja impossível recuperá-la?

Quando confrontado com o fato de que a atividade ilegal está reivindicando centenas de milhares de hectares de terras indígenas na Amazônia e perguntado sobre o que o governo de Bolsonaro faria a respeito, um porta-voz da equipe de transição disse que ninguém comentaria sobre assuntos indígenas ou responderia às críticas sobre seus pontos de vista, porque os funcionários estavam focados em “questões muito mais importantes”. Da mesma forma, quando recentemente foi apresentada uma avaliação de 1.656 páginas produzida por 13 agências governamentais dos EUA sobre os efeitos devastadores da mudança climática na economia, na saúde e meio ambiente dos EUA, Trump estava muito ocupado se preocupando com o golfe do fim de semana no Dia de Ação de Graças para prestar atenção.

O que vai acontecer com o aquecimento global?

Imagem: Reprodução.

A menos que os Bolsonaros e os Trumps do mundo possam mudar suas atitudes declaradas, isso vai piorar, provavelmente muito mais. Nossos filhos e netos pagarão o preço por isso enquanto nossos Neros modernos se desviam do assunto e lidam com “questões muito mais importantes”.

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Peter Rosenwald mora em São Paulo e combina sua ocupação como estrategista de marketing para grandes empresas brasileiras e internacionais. Tem também carreira em jornalismo onde atuou por dezessete anos como crítico sênior de dança e música do ‘The Wall Street Journal’. Escreve toda semana no São Paulo São.

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