No Bixiga, o Al Janiah é mais do que um restaurante comandado por refugiados palestinos

As mesas estão todas ocupadas. No bar, os pedidos de mate limão, e cerveja gelada ocupam as mãos de um dos palestinos refugiados que fazem parte da Ocupação Leila Khaled, Ahmad Jamal, um prédio na rua Conselheiro Furtado, no centro de São Paulo, que tem abrigado famílias de sem-teto brasileiros e refugiados palestinos e sírios.  

Na cozinha, Mohamad Othman e Mohamad Isa comandam as especialidades árabes, falafel, tabule, esfiha, shawarma. No meio desse agito, Hasan Zarif, filho de refugiados palestinos, nascido no Brasil, interrompe a entrevista algumas vezes para checar a cozinha, ver se os voluntários precisam de ajuda para se comunicar com os refugiados (que não falam muito português), ver como estão as coisas no bar e com os clientes.

Ele admite que o trabalho não é fácil. Apesar de cansado, Hasan possui uma mistura de energia que faz o lugar funcionar perfeitamente . “Nós só fechamos quando o último cliente vai embora”, garante.

O sírio Rami Othman (centro), ao lado de colegas de cozinha do restaurante Al Janiah, em São Paulo: talentos culinários dos refugiados estão em alta. Foto: Felipe Gabriel.

A necessidade de esclarecer, discutir e tornar visível tudo aquilo que envolve a figura do refugiado foi a fagulha que resultou na criação do Al Janiah que já se tornou uma referência em culinária árabe e também um centro cultural e polo de discussão política. Hasan tinha motivos de sobra para montar o empreendimento: ele produz cerveja artesanal, costuma dar festas na sua casa e reunir seus companheiros de militância. “E por que não reunir pessoas ligadas a relações internacionais, as que se interessam pelo Oriente Médio, pessoas que queiram discutir sobre os problemas da nossa cidade ou aquelas que só estão à procura de um lugar boêmio?”. Tudo embalado com música, comida tradicional árabe e uma boa cerveja gelada.

Palestina Libre, o drink da casa, elaborado pela equipe e feito com arak (tradicional bebida árabe-palestina), cachaça, limão, pimenta biquinho e zaatar verde. Foto: J.F.Diorio.

A “semana” do restaurante começa às quartas-feiras e vai até o domingo. Oficialmente, ele abre às 18h (portanto, não serve almoço) e vai até às 22h – claro que o horário de fechamento raramente é obedecido e, muitas vezes, a noite no Al Janiah avança para muito além da meia-noite.

Falafel, Shawarma, Kafta e outros clássicos são as estrelas do restaurante. Foto: Divulgação.

Para quem tiver curiosidade, vale visitar a cozinha e acompanhar como um pão sírio é feito (por R$ 1 a mais, você pode pedir o seu prato com o pão feito na hora). Não raro, os cozinheiros trabalham ao som de música islâmica. “O importante é que fazemos tudo com muito gosto e felicidade”, comenta Rami. A felicidade também é do cliente. O prato mais caro custa R$ 25 (uma versão super do Falafel ou do Shawarma). Na média, os pratos, lanches e petiscos saem por R$ 15.
“Eu já organizava festas, produzia cerveja artesanal em casa e pensei que o ambiente como um bar/restaurante poderia contribuir para fortalecer a nossa causa”, fala Zarif. Foto: Divulgação.“Eu já organizava festas, produzia cerveja artesanal em casa e pensei que o ambiente como um bar/restaurante poderia contribuir para fortalecer a nossa causa”, fala Zarif. Foto: Divulgação.

E para quem quiser acompanhar a programação, é só dar uma olhada no movimento no Facebook do restaurante. O Al Janiah faz referência a um vilarejo na Cisjordânia que é parte dos territórios palestinos ocupados por Israel. “O que está acontecendo aqui é muito importante para a integração dos brasileiros com os palestinos e os sírios. Aqui no Al Janiah ela é completa. Vem da música árabe, da língua, da decoração – que ainda está sendo produzida – e dos eventos, como filmes que são transmitidos uma vez por mês e debates relacionados à questão dos palestinos.”

“O que está acontecendo aqui é muito importante para a integração dos brasileiros com os palestinos e os sírios. Aqui no Al Janiah ela é completa.“ Foto: Reprodução / Facebook.

O Al Janiah virou um centro para refugiados de diversas nacionalidades. Zarif conta que, uma vez por mês, recebe shows de um grupo de rap haitiano – que, além disso, membros de diversas comunidades africanas e latino-americanas se encontram no espaço para conversar, beber e se organizar. E ainda estudantes secundaristas, feministas e coletivos de esquerda costumam promover festas no restaurante.

Fachada do Al Janiah; à porta, de preto, o palestino Noor, que anota da direita para a esquerda, na comanda, o nome do frequentador. Foto: Gabriel Rastelli Quintão / UOL.

Serviço
 

Al Janiah.
Onde: Rua Rui Barbosa, 269 – Bela Vista, São Paulo.
Horários: de 4ª a domingo, das 18h até o último cliente.

***
Com informações de Heloá Vidal no ADUS. 

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