No El Campeon, a comida que veio dos Andes

A cozinha boliviana não é sofisticada, vale lembrar. Composta por ingredientes e combinações por vezes estranhos ao nosso repertório gastronômico, atrai especialmente quem gosta de mergulhar na diversidade cultural da nossa São Paulo.

Os quitutes da rua

Nos dias de feira, há muitas barracas vendendo comida na rua, disputando o paladar dos visitantes. Quem não teme uma fritura pode pedir o pollo broaster. Trata-se de meio frango temperado, regado em molho de pimenta, sal, orégano, envolto em farinhas de milho, trigo, e imerso em óleo muito quente. Acompanha batatas fritas. As saltenãs (salgado assado), que levam carne de boi e de frango, com muito caldo, também estão por toda parte, assim como as ofertas de chincharrón (carne frita suína com milho branco e batata). Os bolivianos apreciam muito também um prato chamado salchipapas (salsichas com batatas fritas). Outra iguaria que agrada é o api, mingau feito de milho, que deve ser tomado bem quente.

Só na barraca comandada por Jaqueline Glenda, de 34 anos, há 16 anos no Brasil, é possível encontrar o buñuelo, uma massa feita com farinha de trigo, leite, ovos, sal, açúcar e fermento. Bastante pegajosa, ela é aberta em forma de disco e, de preferência, frita na hora de servir, geralmente acompanhada de mel. Os bolivianos gostam tanto do quitute vendido, que, aos sábados, duas auxiliares passam o tempo todo só abrindo a massa – cerca de 15 quilos por dia. O gosto lembra bolinho de chuva – a massa é leve e fica bem sequinha depois de frita.

Há ainda muitas barracas de pães típicos, tanto doces como salgados, a preços bem convidativos. Para beber, o carro-chefe é o suco de pêssego descascado e desidratado, chamado de mocochinchi. Também faz sucesso o suco de maní (amendoim). A bebida é feita a partir do amendoim torrado, batido no liquidificador com água e depois cozido em fogo lento por cerca de duas horas. É servido sem coar.

Nos restaurantes

Jaqueline e Eric preparando o buñuelo. Dentro dos estabelecimentos – e há uma série deles na rua Coimbra –, são servidas outras especialidades. Vale conhecer o Bolívia, no número 160, comandado por Jaime Ortiz. O local oferece pratos como a sopa de maní (amendoim) e o tradicional chicharron, composto por carne de porco, milho branco (mote), batata preta desidratada (chuño) e batata branca. Bem servidos, eles costumam ser compartilhados por duas pessoas ou mais, o que torna o valor bem atraente. Um prato de chicharron, por exemplo, custava, no primeiro semestre, 18 reais.

Outro restaurante que vale a pena conhecer é o El Campeon, que está sob a batuta do casal Nanci Castellon e Cristobal Moreno. Há mais de 40 anos no Brasil, Nanci se orgulha de sua culinária. Faz questão de nos mostrar a cozinha do restaurante e o preparo de dois pratos, o caldo de cardan (pênis do boi) e o charquekan (feito com carne seca frita e desfiada).
O caldo é uma iguaria extremamente proteica. Num prato fundo, Nanci acomoda uma porção de arroz cozido, pedaços de carne de boi, frango, rabo e mocotó, batata preta e branca e ovo cozido – tudo regado com um pouco de leite. O caldo então é jogado por cima. O toque final fica por conta de muito orégano e cebolinha verde picada.

Já o charquekan leva carne seca frita e desfiada, milho branco cozido, ovos, batata branca e uma generosa porção de queijo. Os pratos do El Campeon são ainda mais baratos do que os do Bolivia, e servem muito bem duas pessoas.

Nanci explica que os bolivianos quase não comem doce, por isso no cardápio não há sobremesas. Outro costume da culinária desse povo é iniciar as refeições sempre com um caldo. No El Campeon, o mais pedido é o caldo de pata (mocotó) e o caldo de pollo (frango). Um dos pratos que saem bastante é a sajta de pollo, frango cozido com muita cebola, alho, sal, pimenta, molho e outros temperos, muito consumido em La Paz, capital da Bolívia. Como acompanhamento, batatas cozidas.

Angélica vende suco de amendoim e de pêssego seco. Foto: Marcia Minillo.

 

Fritura de barriga de porco para o chicharron. Foto: Marcia Minillo.

 

Nanci Castellon, proprietária do El Campeon prepara o charquekan, prato a base de carne seca Foto: Marcia Minillo.

 

Charquekan, prato com carne seca desfiada milho e batata. Foto: Marcia Minillo.

Serviço

Restaurante Bolívia – Rua Coimbra, 160 – Brás – Tel.: (11) 2081 5981 e (11) 2291 0490.
Aberto todos os dias das 7h às 20h.
Restaurante El Campeon – Rua Coimbra, 82 – Brás – Tel.: (11) 949331276.
Aberto todos os dias das 8h30 às 21h.

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Por Maria Lígia Pagenotto no Sampa Inesgotável em parceria de conteúdo com o São Paulo São.

 

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