Os veículos motorizados põem em risco as estruturas de madeira sobre a várzea, por isso só a bicicleta tem vez ali. O resultado é que, desde os anos 1970, a cidade cresce e se movimenta apenas sobre bikes. As motos chegaram a surgir no início da década de 1990, mas foram logo banidas pela prefeitura, com o apoio da população.
Bicitaxis e bicilâncias
Com o tempo, invenções dos próprios moradores incrementaram a bicicleta para usos diversos. Em 1995, o radialista Raimundo Souza, o Sarito, teve ideia de fazer um veículo diferente para levar a família passear. Nasceu então o primeiro bicitáxi, montado a partir da junção de duas bicicletas em uma estrutura de aço. Hoje, variados tipos, alguns deles equipados com confortáveis bancos estofados, guarda-sóis e sistemas de som, circulam por Afuá com passageiros o dia todo.
Os comerciantes transportam suas mercadorias de triciclo, o batedor de açaí – uma das principais culturas locais, além do camarão – também pedala e até a polícia faz a ronda diária de bike. “Bicilâncias” de quatro rodas acodem nas emergências, e as crianças, desde muito pequenas, cruzam a cidade pedalando. O povoado erguido sobre palafitas realmente fez da bicicleta seu principal meio de transporte.
Envolvida pela natureza fértil e preciosa da Amazônia – que hoje está na pauta do mundo todo, devido às sucessivas queimadas na região –, Afuá é um recanto único no nosso diversificado país. Conhecida como a Veneza de Marajó ou ainda a Amsterdã dos Trópicos, esta cidade construída sobre as águas é a prova de que a necessidade é mesmo a mãe da criatividade. E, nesse caso, de uma criatividade que se traduz em mais saúde e qualidade de vida para a população.
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