Nosso Gringo Peter quer saber ‘onde estão as palhaças?’

Refletindo sobre isso, Vovó poderia muito bem ter sido uma mulher – a maioria das avós é.

Talvez eu seja fraco, mas a questão do sexo real da Vovó era algo para a qual eu nunca olhei em momento algum. Só quando li sobre o 5º Encontro de Mulheres Palhaças, que acontece aqui em São Paulo, de 2 a 9 de novembro, é que me perguntei por que, apesar do meu amor pelo circo, eu nunca tinha visto uma palhaça. Comediantes, sim: equilibristas de arame, trapezistas, até domadores de leões, mas nunca uma palhaça.

Embora não em profusão, os palhaços femininos existem há muito tempo. Segundo Dana Fradon, em ‘King’s Fool‘, “nos dias medievais, a bufonaria era uma das poucas profissões abertas às mulheres”. Havia também alguns palhaços femininos no século 18, mas relativamente poucos, principalmente membros das famílias de circo, ajudando na empresa familiar.

Giulia Nina, uma das palhaças que vai atuar neste festival, diz que “não conseguiu deixar de se tornar uma palhaça”. Lembrando que os antigos proprietários de circo no Brasil eram muito conservadores e encontraram todos os tipos de razão para não empregar palhaços femininos, ela explica que uma das razões era que o público não sabia que estavam olhando para as mulheres e quando elas mostravam suas curvas, o público ficava confuso. Além disso, diz Giulia, muitos dos esboços tradicionais de palhaços eram sexistas, algo para o qual as mulheres palhaços não estavam particularmente adequadas. “Tudo isso”, diz ela, “felizmente, está mudando”.

A melhor explicação para as mulheres palhaços sejam uma novidade relativamente recente sugere que, assim como nos tempos Elizabetanos não era permitido que as mulheres aparecessem nos palcos de teatro (lembre-se do filme maravilhoso: “Shakespeare Apaixonado”, 1998) e cobrindo-se com maquiagem e fantasias estranhas, elas não aparentavam ser as criaturas adoráveis ​​que deveriam ser.

Cabaré de Gala. Foto: Divulgação

Derivados dos bobos da corte medievais cujas palhaçadas proporcionavam um alívio cômico e muitas vezes uma sátira à formalidade séria das cortes reais, surgiram os palhaços e cada um assumiu personalidades que se encaixavam basicamente em três tipos (com um milhão de variações).

Os descendentes mais diretos da commedia dell’arte dos séculos XVI a XVIII são os palhaços “com o rosto branco bonito e o porte quase aristocrático; o vagabundo com o seu cobertor (“manta”), tão triste, que nunca tem sossego; o comum com os sapatos enormes, que tropeça e faz cair o homem da escada numa banheira de água. Cada tipo, rosto branco, vagabundo e o ‘Augusto’ (tolo) tem sua própria história, seu próprio conjunto de características de palhaço e uma aparência típica“.

Cortejo. Foto: Divulgação.

A explosão dos palhaços femininos, embora um fenômeno relativamente recente, é o tema central deste Encontro, fortemente incentivado tanto pelos aspectos de performance das atividades da semana quanto pelas mesas redondas e outros encontros destinados a aumentar a compreensão e o crescimento da profissão. 58 palhaços do sexo feminino participam com visitantes do Uruguai, Equador e Argentina. A escolha do tema ‘Riso Latino’ deixa claro que essa tendência vai muito além do Brasil, “abordando a comicidade latina, traçando um cenário do que está sendo produzido por artistas da região”, de acordo com Andrea Macera, uma das organizadoras.

Dizem as organizadoras…”haverá apresentações de espetáculos de loucuras nacionais e internacionais; números de palhaçadas femininas em três categorias diferentes de cabarés: gala de cabaré, com palhaçadas consagradas; CabariX, com palhaças e palhaços, comédias e números que trazem a diversidade dos gêneros expressos no corpo e na cena e cabaré de palhaços, que reúne palhaçadas antigas com até 15 anos de estrada. Há também o Palco de Rua que reúne mulheres cujo foco de trabalho é a performance e o Cortejo de Rua, uma espécie de marcha com todos os palhaços participantes.”

Encontro. Foto: Divulgação.

As organizadoras prometem “2 shows, 3 Cabarés, 1 palco aberto no centro de São Paulo, 2 oficinas, 1 caminhada de rua”, todos gratuitos e acessíveis através de sua página no Facebook.

Onde a disciplina e a alegria das palhaçadas das mulheres, desafiando a esmagadora maioria dos palhaços masculinos, podem ser demonstradas no desempenho final e onde começa o uso do Encontro como um uma manifestação feminista ativista é difícil discernir. E isso importa? Andrea diz: “A idéia do evento, mais do que promover, é empoderar artistas também. Com o público, temos uma semana de oportunidade para julgar como elas vão se sair e até ver de onde virão as próximas “Vovós”.

***
Peter Rosenwald mora em São Paulo e combina sua ocupação como estrategista de marketing para grandes empresas brasileiras e internacionais. Tem também carreira em jornalismo onde atuou por dezessete anos como crítico sênior de dança e música do ‘The Wall Street Journal’.

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