O Carnaval de Rua de São Paulo chegou para ficar

Prestes a viver a folia do Carnaval brasileiro, São Paulo ferveu no último final de semana, com mais de 400 mil pessoas espalhadas pelos blocos, numa demonstração de que ocupar os espaços públicos nessa época do ano pode ser uma opção saudável, barata e democrática de festejar.

Circulando no último sábado pelas ruas do bairro, na hora do almoço encontrei um grupo de meninas que passaram pelo Restaurante Higienópolis para um “esquenta” antes de seguirem em direção à Av. Faria Lima. Disponíveis e ávidas por encontrar um amor, as garotas estavam fantasiadas de noivas, seguravam cartazes atraentes, com frases como, por exemplo, “Cadê meu Boy Magia” e “Sabe de nada, inocente!”

No início da noite peguei a raspa de tacho da farra promovida pelos proprietários da Rota do Acarajé. Com uma trilha sonora que misturou marchinhas antigas e canções dançantes da MPB, o povo dançou à vontade no asfalto, e montou uma barraca na calçada especialmente para vender cerveja e, no outro lado, dois banheiros químicos estrategicamente posicionados para aliviar os apertos.

Um pouco mais adiante, num pequeno trecho da Rua Fortunato, um carro de som alegrou a juventude mais “alternativa”. Não consegui ouvir uma só música porque passei por lá no final do baile, quando a multidão já dispersava. Contudo, o aroma do ar e a fumaça eram sinais de que aquela erva venenosa estava sendo consumida com liberdade.

Naquela mesma tarde, na Rua Haddock Lobo, o Tubaina Bar, recebeu amigos, clientes e simpatizantes no Bloco Soviético. Só não sei se rolou vodca, ou se a rapaziada mergulhou mesmo na cerveja e na cachaça. Tudo isso sem mencionar a “frevura” comandada por Alceu Valença nas alamedas e sob as árvores do Parque Ibirapuera.

Fontes confiáveis me disseram que no domingo à tarde o Bloco Rolezinho das Crioulas, iniciativa do Instituto Feira Preta, percorreu com muita gente preta as estreitas vias da Vila Madalena, reunindo pessoas de diferentes faixas etárias e muitas crianças, com a participação dos músicos e intérpretes do Samba da Vela, do Samba da Laje e do Samba Delas, cantando o repertório do gigante e multi-artista Pakuera, nosso eterno presidente, e o Samba Exaltação composto especialmente para homenageá-lo.

Nesse ritmo, tudo indica que o Carnaval de Rua em Sampa chegou para ficar e vem se firmando como uma alternativa para quem gosta de brincar na cidade que tanto ama, com os amigos, a família, os vizinhos e quem mais você encontrar, conhecer e, quem sabe, se apaixonar e até casar. Por aqui, fico. Até a próxima.

***
Leno F.Silva é diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. Editou 60 Impressões da Terça, 2003, Editora Porto Calendário e 93 Impressões da Terça, 2005, Editora Peirópolis, livros de crônicas.

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