Mas o Museu, que foi inaugurado em 1895, está fechado.
Prevista para terminar em 2022, a reforma ainda nem começou. A reportagem da Folha de São Paulo de 1º de setembro, http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/09/1914828-museu-do-ipiranga-fechado-as-pressas-ha-4-anos-ainda-nem-iniciou-reforma.shtml mostrou que a USP, responsável pela administração do museu desde 1963, usou esses quatro anos para garantir que o acervo não sofresse danos e para fazer um estudo preliminar do que será necessário reformar. É muito pouco para quatro anos.
Numa cidade que tem carência de referências históricas, é difícil entender por que um dos lugares que guarda uma parte da memória do país esteja sendo tocado com essa morosidade. É constrangedor saber que o projeto de revitalização apresentado pelo professor Nestor Goulart dos Reis Filho tenha sido engavetado sem maiores explicações e que agora se esteja pensando num concurso. O patrimônio histórico é uma área realmente complexa, mas não há razão para que um trabalho tão importante ande tão devagar.
É compreensível que não haja um grupo de manifestantes com uma faixa pedindo urgência nesses trabalhos. Diante das prioridades de saúde, educação, transporte e tudo o mais, é razoável imaginar que ninguém esteja disposto a perder muito tempo para reforçar a importância de um prédio público. Mas, além do potencial turístico desperdiçado, o patrimônio é parte da nossa identidade. A professora do Mackenzie Nadia Somekh, ex-diretora do DPH, o órgão municipal de patrimônio, por exemplo, disse em uma palestra duas semanas atrás: “O Patrimônio é uma maneira de celebrar a nossa história”.
Assim, é constrangedor ver como estamos celebrando nossa história. Mais constrangedor ainda é encontrar, como encontrei hoje na visita ao local, uma mãe explicando para a filha que o museu estará fechado por um período que vai corresponder à maior parte de sua vida. Um casal que eu encontrei lá hoje estava indignado com os tapumes: “oito anos para uma reforma, como assim?”.
Haverá argumentos técnicos e financeiros, claro. Mas o fato é que, sem nenhum senso de urgência, o Museu do Ipiranga vai estar fechado por pelo menos mais quatro anos, escondendo parte da nossa memória, mas expondo bastante bem a nossa identidade.
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Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor organizacional. Artigo publicado originalmente no seu blog Caminhadas Urbanas.