Onda de frio histórica: temor por mortes de moradores de rua mobiliza ONGs e governos

Com a previsão de que o sistema provoque neve, geada e temperaturas negativas em algumas regiões, ONGs, governos e prefeituras de Estados do Sul e Sudeste estão fazendo uma força-tarefa para evitar que moradores de rua morram de frio.

Apenas no Estado de São Paulo em 2019, a Polícia Civil investigou seis casos de morte desse tipo. A cidade de São Paulo tem mais de 24 mil moradores de rua, segundo o último censo de 2019.

A ONG Anjos da Noite vai distribuir 800 marmitas e 800 garrafas de água no sábado (22/08), data em que o grupo formado por dezenas de voluntários completará 31 anos. O fundador, Kaká Ferreira, diz que também doará roupas e cobertores a moradores de rua do centro de São Paulo. Os Anjos da Cidade disseram que na noite de sexta vão entregar “200 cobertores, 200 meias, 200 toucas, 200 águas e muito amor” na região da Barra Funda (zona oeste) e centro da capital.

Na madrugada deste sábado para domingo, um grupo de voluntários liderados pelo produtor cultural Heitor Werneck vai sair São Paulo afora distribuindo sopa e chocolate quente aos moradores de rua de pontos específicos. É a Parada da Solidariedade que por conta da pandemia se dedicou este ano a ajudar aqueles cidadãos mais vulneráveis e esquecidos. Serão servidas 2 mil refeições preparadas ao longo de toda a noite na Casa Florescer e distribuídas por etapas, entre as seis da tarde de sábado e oito da manhã de domingo. O número para recolher as doações é o de Heitor Werneck, 11 94952-2391.

Empresários também estão se reunindo para juntar dinheiro e distribuir alimentos quentes e agasalhos. Foto: Getty Images.

Empresários também estão se reunindo para juntar dinheiro e distribuir alimentos quentes e agasalhos. O Projeto Van Solidária e a Rede de Supermercados DIA doarão mil cobertores a moradores de rua das cidades de Diadema (Grande SP), do centro e da zona sul da capital paulista.

O padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, fez um apelo especial para que, além de cobertores, as pessoas doem gorros e meias para proteger as extremidades do corpo. Especialistas apontam que essas partes esfriam mais rápido, o que pode causar hipotermia.

A Prefeitura de São Paulo informou, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), que intensificará as abordagens aos moradores de rua para encaminhá-los a abrigos quando a temperatura atingir 13°C ou menos. Caso a pessoa não aceite o acolhimento, ela receberá um kit lanche e cobertor.

Caso o morador de rua aceite acolhimento, ele recebe da prefeitura um kit higiene, tem acesso a banho e três refeições (café da manhã, almoço e jantar), além de ser encaminhado a outros serviços caso seja identificada alguma necessidade.

Desde o dia 6 de maio, a administração municipal iniciou um plano para baixas temperaturas e fez mais de 1 milhão de acolhimentos desde então — contando com as pessoas que foram acolhidas mais de uma vez. A operação continuará em vigor até 20 de setembro.

Quem encontrar pessoas em situação de rua pode ligar para o telefone 156 da prefeitura para pedir auxílio. Caso ela não aceite ir a um abrigo, especialistas dizem que o ideal é tentar proteger as extremidades do corpo, como cabeça e pés, além de tentar aquecê-la oferecendo um alimento quente, como uma sopa.

Alerta nacional

Governo federal emitiu alerta para que todo o país proteja moradores de rua e animais durante onda de frio. Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil.

O Ministério da Cidadania emitiu um alerta para que a rede do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) se mobilize para garantir o abrigo temporário de moradores de rua em todo o país.

Em nota, a pasta informou ainda que é necessário “ter atenção com moradores de áreas rurais e povos e comunidades tradicionais.”

O governo federal reforçou que devem ser tomadas ações para arrecadação e distribuição de cobertores e agasalhos. “É um momento que exige muita atenção e um esforço redobrado com a segurança dos trabalhadores do SUAS, em função da situação de emergência em saúde pública causada pela pandemia do novo coronavírus.”

O meteorologista Maicon Veber, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), diz que uma massa de ar frio normalmente tem pouco mais de 1 km de espessura, que vai da superfície em direção à atmosfera. Esta coluna que chegou ao Brasil tem de 5 a 6 km.

“É uma massa bastante significativa e deve tomar conta de boa parte do continente”, afirmou.

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul enviou um alerta em SMS para os moradores de todas as regiões do Estado. Veja o alerta enviado a todas as pessoas cadastradas no sistema de alerta via SMS 40199.

O texto foi enviado para os números de telefones cadastrados no sistema de alertas da Defesa Civil via SMS 40199.

“Massa de ar polar fará a temperatura cair em todo Estado, devendo durar até sábado (22/8)”.

O órgão ainda recomenda atenção com a população mais vulnerável, como idosos e crianças, e ainda recomenda abrigar os animais domésticos durante as noites mais frias.

Previsão

A Defesa Civil do Rio Grande do Sul enviou um alerta em SMS para os moradores de todas as regiões do Estado. Foto: RBS.

A previsão do Inmet é que a temperatura nos Estados do Sul caia de maneira brusca a partir da sexta-feira (21/08). A previsão é que Porto Alegre registre temperatura mínima de 2ºC na sexta-feira (20/08) e 5ºC no sábado (22/08).

Na cidade de São Paulo, de acordo com o Inmet, a máxima não deve passar dos 13ºC tanto na sexta quanto no sábado, enquanto as mínimas ficam em 8ºC nos dois dias.

A Defesa Civil do Estado, porém, alerta para temperaturas abaixo de 5ºC em algumas áreas, como o Vale do Ribeira, Araçatuba, São José do Rio Preto e Presidente Prudente.

Em Cuiabá, que registrou temperaturas próximas a 40ºC nos últimos dias, terá dias mais frios. Na sexta, os termômetros não devem passar dos 20ºC, com mínima de 14ºC. No sábado, previsão do Inmet é que a mínima chegue a 11ºC, com máxima de 25ºC.

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Por Felipe Souza da BBC News Brasil em São Paulo.

 

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