Os bairros são os novos centros urbanos que emergiram com a covid-19, diz especialista

As cidades estão agora mais diversificadas e os seus habitantes cada vez mais fixados nos seus próprios bairros. Foto: CNU.

Por Kátia Canuto.

Aqui ou em qualquer lugar do mundo, a covid-19 mudou os comportamentos. Mas os novos hábitos que emergiram com a pandemia estão também provocando profundas transformações na forma como encaramos a vida nos centros urbanos. É isso, pelo menos, o que revela o estudo global “O Futuro das Cidades e o Futuro da Mobilidade” que Shin Pei-Tsay, diretora de Políticas, Cidades e Transportes da Uber, apresentou no segundo dia da Conferência Portugal Mobi Summit realizada em outubro passado.

Shin Pei-Tsay, diretora de Políticas, Cidades e Transportes da Uber. Foto: Paulo Alexandrino.

As cidades estão agora mais diversificadas e os seus habitantes cada vez mais fixados nos seus próprios bairros, não deixando, porém, de procurar flexibilidade nos meios de transportes para se deslocarem do centro para a periferia, conta a especialista, mostrando que, em cidades como Nova York, Joanesburgo, São Paulo ou Londres, os espaços públicos se converteram em locais de convívio com praças, comércio de rua ou áreas para pedestres: “Todas estas tendências terão agora que entrar no planeamento das cidades com soluções de mobilidade multimodal não só para os centros urbanos, mas também para os subúrbios.”

Os serviços de transporte urbano irão precisar de "alternativas sustentáveis e acessíveis" para servir todas as comunidades. Foto: Getty Images.
Os serviços de transporte urbano irão precisar de “alternativas sustentáveis e acessíveis” para servir todas as comunidades. Foto: Getty Images.

O que a pandemia causou, desde logo, foi uma quebra abrupta nos movimentos que antes aconteciam das periferias para os centros urbanos. Os subúrbios e os bairros, em contrapartida, ganharam mais vitalidade: “Os deslocamentos tornaram-se mais curtos e concentrados junto às áreas residencias, provocando um florescimento de percursos de pedestres, ciclovias ou ruas abertas e fechadas ao trânsito.”

Embora os deslocamentos dos centros financeiros possam ter diminuído durante a pandemia, na maioria dos casos, as viagens que atravessam as cidades mantiveram-se como itinerários essenciais para os trabalhadores. Essas mudanças nos padrões de mobilidade devem servir agora para refletir sobre como responder à crescente procura de transportes regionais, não só em horas de pico, como igualmente nos períodos de menor procura, adverte a diretora de Políticas, Cidades e Transportes da Uber: “Um grande desafio que agora se coloca é assegurar simultaneamente, opções de mobilidade sustentável nos bairros, nos centros urbanos e nas zonas pouco povoadas.”

Em cidades como Nova York, Joanesburgo, São Paulo ou Londres (foto), os espaços públicos se converteram em locais de convívio. Foto: Shutterstock.
Em cidades como Nova York, Joanesburgo, São Paulo ou Londres (foto), os espaços públicos se converteram em locais de convívio. Foto: Shutterstock.

As tecnologias vão ter um papel fundamental na mobilidade da pós-pandemia, defende a especialista. Mais do que nunca, os serviços de transporte urbano irão precisar de “alternativas sustentáveis e acessíveis” para servir todas as comunidades, incluindo os que tradicionalmente dependem do carro para trabalhar. “Novas soluções tecnológicas podem ser um recurso com grande potencial para as operadoras locais aumentarem a conectividade em infraestruturas que já existem”, conta a especialista, lembrando que o ecossistema da mobilidade tem sofrido profundas mudanças com opções de transporte compartilhado, on-demand e multimodal. Por estarem receptivas às novas tecnologias – diz Shin Pei-Tsay -, as operadoras de transporte público podem fortalecer a mobilidade urbana, tornando-a mais resiliente e sustentável. O que se prevê, aliás, é um novo modelo descentralizado e flexível, em vez de soluções tradicionais centralizadas e dispendiosas: “Trabalhando em colaboração com as operadoras existentes, as startups de micromobilidade podem fornecer acesso contínuo à infraestrutura existente”, conclui.

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Artigo publicado originalment no Jornal de Notícias. 

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