Os parques urbanos pelo mundo e seu potencial transformador para as cidades

Na Europa, os parques públicos surgiram até um pouco antes, ocupando espaços que haviam sido campos de caça ou destinados a feiras. O Hyde Park, em Londres, por exemplo, era um campo de caça que, com o passar dos anos e com as transformações da cidade, aos poucos foi abrindo suas portas para o público geral.

Gradualmente, os espaços públicos exteriores e os seus benefícios foram evoluindo como elementos importantes na estratégia urbana. Os planos de Haussmann em Paris e de Cerdá, em Barcelona, também de meados do séc. XIX, já levavam em conta a criação de parques e espaços públicos. Incluíam quase tudo o que não fosse um edifício como: ruas, largos, praças, faixas de verde e eram planejados como parte integrante de um grande sistema urbanístico.

O Central Park em Nova York. Imagem de 1990 / Reprodução.

Segundo Fred Kent, presidente da Project for Public Spaces, um parque e a sua área envolvente não precisam existir apenas para nos relacionarmos com a natureza, podem e devem também ser espaços para trocas culturais e sociais. Um parque, para ser vivo, deve ter na sua programação várias atividades: mercados e feiras que lhe conferem um dinamismo comercial, incentivar a atividade física como corrida, caminhadas e yoga, proporcionar atividades culturais como cinema ao ar livre, exposições de arte e outros eventos da comunidade. No fundo, dinamizar a socialização entre as pessoas é o mais importante.

Kent defende que a maioria dos parques urbanos tem poucas atividades fora do tema do lazer e, por isso, não atraem pessoas tais como idosos, adolescentes e os que procuram apenas um lugar para caminhar ou sentar dentro da sua rotina diária. A maioria das vezes nem existe uma calçada, um lugar com sombra, nem mesmo um pequeno comércio onde comprar água ou um lanche. O maior problema de isso acontecer é que quando há poucos motivos para as pessoas irem ao parque, menos pessoas o utilizam e, portanto, deixa de ser valorizado.

Mapa do Hyde Park de Londres em 1833. Imagem: Reprodução.Nos anos 70, em Nova York, o Union Square Park tornou-se um lugar perigoso. Na sua renovação foram usadas estratégias que, entre outras, incluíam a realização semanal de uma feira de produtos naturais. Isso atraiu a comunidade, o mercado propiciou oportunidades para a população vizinha ser empreendedora, fazendo parte ativa da feira, e possibilitou a ligação às fazendas dos arredores da cidade. O parque foi renovado e hoje é um dos principais pontos de visita em Manhatan.

Union Square em Nova York. Foto: Julienne Schaer.

O nosso Parque Ibirapuera, inaugurado em 1954, é um bom exemplo do que pode ser um bom parque urbano. Ele é ponto de encontro por excelência. Além dos museus que atraem a parte da população interessada nas artes, conta com uma boa estrutura para práticas de esportes, proporciona uma extensa lista de atividades, o que atrai pessoas dos mais diversos perfis, criando um ciclo positivo na rotina do parque.

Parque Ibirapuera em São Paulo. Foto: El País.

Adquirido pela Prefeitura em 1939 e tombado em 1986 pelo Condephaat, o Parque da Aclimação, outro bom exemplo, fica entres os bairros da Liberdade e Paraíso, no Centro de São Paulo. Chamado antigamente de Jardim da Aclimação, o local foi sede do primeiro zoológico da cidade, no final do século 19, e chegou a acolher Maurício, um urso polar branco do polo norte, o camelo Gzar, uma sucuri, um peixe elétrico do Amazonas e hienas africanas, segundo jornais da época.

A ideia do zoo, criado em 1882, surgiu do médico, fazendeiro e político paulista Carlos Botelho, inspirado no Jardin D’Acclimatation, em Paris, na França. O parque abriga um lago, concha acústica, jardim japonês com espelho d’água, aparelhos de ginástica, pista de cooper e caminhada, além de playgrounds infantis, paraciclo e campos de futebol, voleibol e basquetebol.

Parque da Aclimação, inspirado no Le Jardin d'Acclimatation de Paris. Foto: José Cordeiro / SPTuris.

Jan Gehl, arquiteto e urbanista dinamarquês, sublinha a importância de uma transformação gradual no desenvolvimento urbano, com o objetivo de fazer mudanças que sejam sustentáveis, no sentido de dar tempo às pessoas de se ajustarem às mudanças físicas da cidade.

Ao integrar os parques na vida cultural dos bairros, ao atribuir responsabilidades de manutenção às pessoas, ao permitir-lhes criar novos programas e, em alguns casos, até permitir que eles desenhem partes do parque, verifica-se uma renovação da área e seu entorno e mudanças positivas no comportamento da comunidade, muitas vezes em lugares que se acreditava ser impossível.

Atualmente, algumas cidades estão se dando conta de que os parques podem contribuir significativamente para a melhoria da qualidade de vida urbana. Se os parques urbanos evoluírem da sua atual função, que é primariamente de lazer, e adotarem um novo papel como catalisadores da convivência saudável da população, tornam-se um componente essencial na transformação e melhoria das nossas cidades.

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Da Redação.

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