Os superquarteirões de Barcelona: apesar de protestos, cidade segue com estratégia sustentável

Poblenou foi um dos bairros que recebeu o projeto piloto dos superquarteirões. Lá, os carros ficaram em segundo plano. O que era rua virou ciclovia, onde havia trânsito, agora se espalham espaços de convívio. Mas, mesmo com a informação de que cerca de 1,2 mil mortes não aconteceriam se Barcelona mantivesse os níveis de qualidade de ar recomendados pela União Europeia, alguns moradores do bairro não estão satisfeitos com menos espaço para circular com seus carros. Eles foram às ruas protestar por terem de trafegar em velocidade reduzida nas ruas interiores das superquadras (as quais apenas os moradores locais têm acesso).

Os números mostram um outro lado. Já implementado em quatro outros pontos da cidade, dentro dos bairros de Gràcia e Born, o projeto, apenas no primeiro bairro, aumentou 10% dos deslocamentos a pé, 30% por bicicleta, enquanto o fluxo de veículos motorizados caiu 26% nos superquarteirões e 40% nas ruas internas. Além disso, os cidadãos ganharam quase 23 mil m² em todo o distrito, mais espaço do que os carros têm para circular. As informações foram compartilhadas em entrevista pelo Diretor da Agência Ambiental da cidade, Salvador Rueda. “Se esse padrão se estender pela cidade até 2018, Barcelona finalmente pode melhorar a qualidade do ar”, afirmou Rueda na entrevista.

Segundo o Diretor da Agência Ambiental, o balanço da implantação do superquarteirões no bairro de Poblenou (onde aconteceram os protestos) é positivo, pois cumpre os objetivos aprovados no Plano de Mobilidade Urbana de Barcelona, que visa, sobretudo, além da implementação dos superquarteirões, a priorização de transporte sustentáveis: novas linhas de ônibus e ciclovias. Outro ponto citado no Plano é a restrição a veículos privados, com medidas como pedágios urbanos e aumento no preço do estacionamento.

Entre os argumentos das pessoas que reclamaram, por exemplo, estava a demora nas entregas, pela dificuldade dos veículos de acessarem os estabelecimentos comerciais. No entanto, como bem pontuou o factcoexist, o comércio de Poblenou pode aprender com os outros bairros da mesma cidade, como a Ciutat Vella, em que muitas ruas que são fechadas para o tráfego (ou são muito estreitas para o acesso) e os entregadores estacionam nas ruas das proximidades e utilizam um tipo de carrinho de mão ou fazem entregas de com bicicletas elétricas.

O modelo atual e a intenção que consta no Plano de Mobilidade / Divulgação: Agéncia d’Ecologia Urbana de Barcelona)
Não é que as pessoas não gostem de maior qualidade do ar, de ruas mais tranquilas ou bairros mais habitáveis. Trata-se de uma mudança de cultura, e os motoristas estavam tão acostumados ao protagonismo, que mesmo com números e informações de redução do número de mortes no trânsito e aumento da qualidade de vida, eles tendem a não aceitar. A redução dos limites de velocidade das Marginais em São Paulo trouxe discussões suficientes para ilustrar como é difícil abordar políticas públicas que envolvam veículos privados. E os números recentes não são nada animadores.

A administração de Barcelona e os responsáveis pelo projeto já garantiram a sua continuidade. O projeto é um exemplo de cidade pensada para as pessoas. Por mais qualidade de ar, qualidade de vida e menos mortes no trânsito, vida longa aos superquarteirões.

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Por Sergio Trentini no The City Fix Brasil.

 

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