‘Paisagem Líquida‘: o olhar de expoentes da fotografia para questões urbanas atuais

Perspectiva – Avenida Pacaembu, 1993-2017. Foto: Lucia Loeb.

O projeto Paisagem Líquida começou há cerca de dois anos a partir da observação de Rosely Nakagawa sobre trabalhos fotográficos com enfoque na paisagem. “Percebi que muitos dos bons fotógrafos da atualidade tinham uma pesquisa sobre a paisagem urbana com suas modificações e problemas”, ela afirma. O objetivo estabeleceu-se no debate das definições conceituais da imagem da paisagem na contemporaneidade. Se as cidades são hoje os centros da vida humana, suas transformações, para o bem e para o mal, são índices das relações sociais e acabaram por nortear o projeto. 

Após encontros em que segmentos do tema foram postos em discussão (como paisagem e violência, paisagem e cultura, paisagem e lugar, paisagem e tempo etc.) e cada fotógrafo teve seu trabalho avaliado e comentado pelos demais, a coletiva traz esse debate de forma empírica nas obras. Inclusive, os trabalhos incorporam em seus suportes elementos da paisagem, como janelas, muros e lambe-lambes, extrapolando o limite bidimensional da fotografia pela transversalidade. “Cada projeto de instalação é um tipo de continuidade da construção da paisagem”, define a coordenadora.

“Inscrições“. Por Ivan Padovani.“Inscrições“. Por Ivan Padovani.

“Fixar-se ao solo não é tão importante se o solo pode ser alcançado e abandonado à vontade, imediatamente ou em pouquíssimo tempo. Por outro lado, fixar-se muito fortemente, sobrecarregando os laços com compromissos mutuamente vinculantes, pode ser positivamente prejudicial, dadas as novas oportunidades que surgem em outros lugares.” Zygmunt Bauman, em “Modernidade Líquida“ (1999).

As imagens

Arnaldo Pappalardo traça um paralelo entre as mudanças na urbanização e a troca de tecnologias fotográficas com um trabalho de ressignificação de seu arquivo. Quando já mudava para o equipamento digital, ele guardou sem selecionar algumas imagens clicadas com sua câmera analógica, e agora exibe uma pesquisa sobre esse material, inédito mesmo para ele.

A documentação de polos de desenvolvimento urbano que derivaram em espaços gentrificados, como a região da Marginal do Rio Pinheiros e da Vila Olímpia, é o foco do trabalho de Bruno Bernardi. Ele entrou em canteiros de obras e acompanhou passo a passo a transformação do espaço da cidade em enormes blocos de concreto e vidro, moldados para cercear a circulação e criar núcleos de poder.

Montagem de fotos variadas. Fotos: Edu Marin.Montagem de fotos variadas. Fotos: Edu Marin.

Edu Marin, que traz montagens fotográficas exibidas na exposição como lambe-lambes, tem o olhar mais poético e humano do grupo, segundo Nakagawa. “Ele captou imagens das interações humanas dentro de espaços aparentemente hostis ou de urbanização desorganizada, como crianças brincando em uma comunidade.”

Ivan Padovani mistura imagem e matéria em seu trabalho. Ele se apropria de detritos urbanos e compõe um jogo de ressignificações pela junção desses elementos com suas fotos. 

Os livros surgem como metáforas das camadas pelas quais as cidades vão sendo cobertas ao longo de sua modificação no trabalho de Lucia Loeb. Ela sobrepõe imagens p&b de diferentes épocas em livros que mostram as pequenas alterações cotidianas na paisagem ao longo de anos.

Prédios na Marginal Pinheiros. Foto: Mauricio Simonetti.Prédios na Marginal Pinheiros. Foto: Mauricio Simonetti.

Remetendo aos famosos monóculos fotográficos dos anos 1970-80, Maurício Simonetti expõe um muro de alvenaria com diversas imagens embutidas. Por meio de pequenos orifícios, o espectador pode visualizar as fotos. A mostra pretende conduzir o visitante à reflexão e não a um pensamento conclusivo, diante dessa paisagem mutante e desordenada que nos acompanha no cotidiano.

A coordenadora

Rosely Nakagawa (SP, SP, 1954) é graduada pela FAU USP (1977), com especialização em Museologia (USP) em 1979, Comunicação e Semiótica (PUC/USP, 2004). É curadora e editora de fotografia; atuou em instituições culturais como Galeria Fotoptica, fundada por ela e Thomaz Farkas em 1979. Foi curadora na Casa da Fotografia Fuji de 1997 a 2004. Foi curadora das Galerias FNAC Brasil, desde sua abertura no Brasil até 2009, quando publicou a coleção de entrevistas no livro Encontros com a Fotografia. Organizou a mostra de sua coleção de fotografias no circuito nacional da Caixa Cultural (SP, Curitiba, Brasília, Salvador) em comemoração aos seus 30 anos de carreira, em 2009, e no ano seguinte levou a exposição ao Museu Nacional em Estremoz, Portugal. Foi co-curadora da mostra Extremos no Festival Europalia/Brasil (Bélgica, 2011). Em 2016, realizou a mostra Retrato Popular no Sesc Belenzinho SP, e a exposição Os Dias Lindos – Fotografias Carlos Moreira, no Espaço Cultural Armazém 11 (Santos, SP), no qual é responsável pela gestão cultural desde a inauguração, em 2015.

Sobre o Espaço 321 Jacarandá

O Estúdio 321 e a Jacarandá Montagens de apresentar novos nomes da fotografia, exibem a excelência de seu métier. Foto: Reprodução / Facebook.O Estúdio 321 e a Jacarandá Montagens além de apresentar novos nomes da fotografia, exibem a excelência de seu métier. Foto: Reprodução / Facebook.

O Estúdio 321 e a Jacarandá Montagens são empresas complementares que se uniram para trazer ao mercado de obras de arte um novo conceito de prestação de serviço. A proposta é oferecer, em um mesmo espaço físico, digitalização, tratamento e impressão de imagens (Estúdio 321), assim como montagem e apresentação final da obra (Jacarandá). De quatro a cinco vezes no ano, as duas empresas promovem exposições na sede ocupada por ambas, no bairro de Perdizes, no Espaço 321 Jacarandá. Com isso, além de apresentar novos nomes da fotografia, exibem a excelência de seu métier, sempre atualizadas com as novidades tecnológicas. Ambas trabalham com materiais de conservação museológicos certificados e padrão de qualidade internacional, aliados a um olhar apurado e com referências estéticas em fotografia e artes plásticas, complementando as questões conceituais do trabalho. Entre seus clientes, estão MAM, Instituto Tomie Ohtake, Galeria Millan e Galeria Vermelho. 

Serviço

Exposição coletiva Paisagem Líquida
Coordenação: Rosely Nakagawa.
Abertura: 6 de março (terça-feira), das 19h às 23h.
Visitação: 7 de março a 4 de maio de 2018.
Onde: Espaço 321 Jacarandá (Rua Coronel Melo Oliveira, 783, Perdizes, São Paulo, tel. 11.2359-4247/ 2359-9347).
Horário de visitação: segunda a sexta, das 10h às 18h.
https://www.facebook.com/321Jacaranda/

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Da redação com informações: Luciana Pareja Norbiato / Ninho de Projetos

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