Para Eduarda Oliveira criadora do International Happiness Forum, o “auto-conhecimento é a pedra basilar onde assenta a felicidade“

O São Paulo São convidou Isabelle Dossa, médica formada pela Universidade de Xavier Bichat em Paris, especializada em Endocrinologia e Nutrição Clínica na França, para que formulasse questões a Eduarda Oliveira sobre o Fórum, o tema felicidade e os assuntos que serão abordados nos dois dias do encontro. O resultado pode ser visto a seguir com exclusividade:

Isabelle Dossa
– Os dois primeiros “International Happiness Fórum” aconteceram em Portugal na Universidade de Coimbra, e hoje é uma grande privilégio poder acolher a terceira edição do Fórum no Brasil. A primeira pergunta que quero fazer a uma grande especialista, organizadora de dois fóruns sobre o tema, é: O que é a felicidade para você? A felicidade não é um conceito próprio a cada um? É possível falar de felicidade para todos?

Eduarda Oliveira – Agradeço antes de mais nada as suas questões que terei todo o gosto em responder. Antes de responder, gostaria de fazer as seguintes notas:

1. O Fórum da Felicidade nasceu de um insight que tive quando assistia a uma aula aberta na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, sobre Neuroquimica da Felicidade e desde o primeiro momento que esta Universidade, uma das mais antigas da Europa, apoiou institucionalmente este projecto, participando na sua divulgação e inclusivamente realizando videos promocionais e difundido na UCV – televisão web. Por sua vez a Vice-Reitora Professora Doutora Clara Almeida Santos integrou a comissão de honra das duas edições anteriores. No entanto, o espaço físico onde decorreram estas edições não pertencia à Universidade de Coimbra mas sim a outra Escola Superior ( Coimbra Business School – ISCAC) que também se associou à iniciativa. Escolhemos esta escola porque está implantada num grande campus rodeado de uma Natureza fantástica e consideramos que este cenário era mais inspirador e tinha mais a ver com o tema do Forum.

2. Uma segunda nota: eu não me considero uma especialista em Felicidade. Procuro, isso sim, saber mais sobre o que é e como podemos trazê-la para a nossa vida; e na procura de respostas entendi que era um tema que dizia respeito a todos os seres humanos e daí criar algo que possa ajudar as pessoas nessa descoberta.

‘Felicidade‘: Instalação da artista Yoko Ono no Instituto Tomie Othake, São Paulo. Foto: Mauricio Machado.

Respondendo à sua questão, o que é a felicidade para você?

Para mim felicidade tem a ver com existência de uma sintonia entre aquilo que nos define como ser ( a nossa essência, os nosso valores, as nossas inteligências e competências, os nossos dons, etc..) e a forma como esse ser se expressa na vida que escolhe viver. Quanto maior for o desfasamento entre estas realidades, entre estas energias maior será a sensação de infelicidade. Quanto mais alinhadas estiverem, quanto maior coerência existir entre quem somos e o que fazemos, como fazemos, maior é o sentimento de felicidade. Por isso é que eu digo que podemos atravessar momentos de grande tristeza, até de grande sofrimento e no entanto continuamos a sentir que somos pessoas felizes.

ID – A felicidade não é um conceito próprio a cada um?

EO – Eu creio que o conceito de felicidade nos pode ser ensinado de modos diferentes. Acredito que em culturas diferentes, sociedades diferentes, famílias diferentes se associe a felicidade a coisas diferentes. Por exemplo é muito comum as pessoas entenderem que serão felizes quando tiverem uma determinada companhia, um determinado emprego, uma determinada conta bancária, um determinado corpo, ou uma determinada Saúde. Quando atingem estas metas, poderão sentir uma imensa alegria, um forte contentamento, mas nada garante que se sintam felizes. É este o meu entendimento. As pessoas podem ter conceitos diferentes de felicidade mas eu sou tentada a pensar que esse conceito tem mais a ver com o que elas aprendem que lhes dá alegria do que com o que as faz viver felizes.

ID – É possível falar de felicidade para todos?

EO – Eu acredito que sim. Acredito que há caminhos diferentes para chegar a pessoas diferentes ou para levar pessoas diferentes a descobrirem o que é e como podem ser mais felizes. Daí que o Fórum da Felicidade assente nesta abordagem que coloca tantas perspectivas diferentes sobre a felicidade a conversar entre si. Enriquecendo-se mutuamente, abrindo novas portas umas às outras.

ID – O objetivo do Fórum, além de promover a felicidade, é de proporcionar um diálogo entre as áreas do saber e vejo na programação muitas áreas representadas.Eduarda  Oliveira. Foto: Divulgação. Como vê este diálogo hoje? No terceiro ano de reuniões de profissionais de áreas muito diversas, como vê a repercussão deste diálogo? Tem a sensação que reverbera e irradia fora do momento do Fórum, que ganha corpo?

EO – O objetivo da Fórum é promover a felicidade a partir desse diálogo. Nós somos seres muito complexos, como cristais multifacetados. Uma faceta não nos define, mas sim o conjunto, daí a necessidade de encontrarmos formas diferentes de colocarmos todas facetas diferentes a brilhar. Muitas destas áreas do saber ou do fazer vivem de costas voltadas, algumas negam as outras não se aceitam, ou porque tem uma raíz científica que não lhes permite aceitar o que não é explicado cientificamente, ou porque a filosofia ou fé que as sustenta choca com a raiz de outras. No entanto, a experiência de colocar todas estas perspectivas no mesmo palco /plano resultou muito bem.

Eu creio que existem duas razões para este diálogo no Fórum da Felicidade dar resultados. A primeira tem a ver com o esmerado cuidado que temos na escolha dos palestrantes. Procuramos ter a mente aberta a todas as reflexões que nos possam aproximar do tema da Felicidade mas não abrimos mão de convidar apenas pessoas que sejam referências na sua área de atividade ou estudo, e isto faz toda a diferença. A juntar a esta condição, que resulta em conteúdos de alto nível está o facto de a felicidade dizer respeito a pessoas e não a religiões, ciências, filosofias, práticas sejam elas quais forem. Então quando colocamos pessoas em contacto com áreas desconhecidas mas lhe falam de si por outro ângulo, que lhes iluminam uma faceta de si mesmos que ainda não tinham descoberto, e o fazem com profundidade, conhecimento e paixão, o diálogo flui no mínimo cheio de curiosidade e acredito que impacte nas pessoas, sim.Já assisti ( até com alguma com surpresa) a reações de palestrantes nesse sentido.

ID – Na minha área, que é área da saúde se fala muito de integração. Vê isso acontecer? Acredita que as barreiras caem e que avançamos na direção de uma integração real entre medicina alopática e terapias complementares?

Isabelle Dossa. Foto: Arquivo Pessoal.EO – Felizmente, vejo sim! Aliás o Brasil é o forte exemplo disso, tanto quanto sei, o vosso Sistema Único de Saúde (SUS) oferece 19 práticas alternativas à medicina alopática. Parece-me até que nesse aspecto vão bem à frente da prática na Europa. Em Portugal posso dizer que o reiki e o ioga do riso começa agora a entrar com maior naturalidade em unidades hospitalares. Por outro lado já é muito mais comum as pessoas admitirem que recorrem a práticas consideradas alternativas à medicina tradicional, como a acupuntura por exemplo. Por isso acredito que o caminho que estamos a percorrer é o da integração sim. Este assunto é-nos muito querido, pela importância que lhe reconhecemos na promoção integral da saúde do indivíduo, por isso temos no programa deste ano, a exemplo do ano passado, um painel que irá debater precisamente o tema da saúde integrativa.

ID – Tem a sensação que reverbera e irradia fora do momento do Fórum, que ganha corpo?

EO – Tenho essa sensação, sim, e gosto de acreditar que é uma realidade. No ano passado, participou no painel sobre medicinas alternativas, um médico que também se formou em outros tipos de terapêuticas e tem uma Clínica Integrativa em Coimbra. Não tenho dúvidas que o fato de esta pessoa ter formação em Medicina e apresentar também outras propostas de diagnóstico e tratamento, abre caminho mais fácil a quem se sente inseguro a explorar outras possibilidades. Acredito que muitas pessoas mudaram a sua perspectiva relativamente ao valor e resultados destas práticas alternativas à medicina tradicional.

ID – Pela primeira vez este Forum Internacional da Felicidade acontece no Brasil. No ranking global de felicidade, onde os países do Norte da Europa são líderes, o Brasil ocupa a 22a. posição e caiu este ano de 4 posições. Como interpretar estes dados?

EO – Difícil fazer essa análise! Eu vou atrever-me a dizer o seguinte: talvez o Brasil tenha tudo o que precisa para ser feliz, tem tanta riqueza, tantos recursos que bem administrados poderiam oferecer condições para todas as pessoas alcançarem bem-estar e felicidade, no entanto falta o tal alinhamento que falei na primeira questão que me colocou. Ter não é ser. Quando a sociedade brasileira encontrar uma forma de viver alinhada com os valores da sua essência, com a energia que realmente vibra no coração de cada brasileiro, quem sabe nessa altura o resultado se altere. Mas isto é apenas a minha intuição a falar, vale o que vale.

ID – Como do seu ponto de vista, o Fórum pode trazer informações ou experiencias relevantes para mudar este quadro?

EO – Não tenho dúvidas que o Fórum trará informações e experiências relevantes para alterar a vida das pessoas que nele participarem e, por via delas, das pessoas que com elas conviverem. E também sei que a mudança do quadro que refere faz-se alterando a realidade de cada pessoa que o compõe e por isso o trabalho tem de ser feito individuo a individuo. O Brasil é imenso. Estamos a fazer a nossa parte, oferecendo oportunidades a quem quer e está preparado para a mudança, sem forçar. Este é o nosso caminho.

ID – O ser humano tem uma tendência a sempre colocar a felicidade no futuro. Indo neste caminho, como conjugar felicidade e progresso?

Felicidade: Mathilde, Clement e Pauline, trigêmeos filhos de Isabelle Dossa com três anos. Foto: Arquivo pessoal.

EO – O ser humano coloca a felicidade no futuro quando a faz depender de objetos ou experiências que não tem no presente e os quais está a tentar alcançar. Voltamos à questão da felicidade ligada ao ter. Eu diria que o verdadeiro progresso nasce de pessoas felizes, é assim que eu conjugo os dois termos. Não entendo o progresso desligado da felicidade dos indivíduos, se o progresso não contribuir para o bem-estar e felicidade das pessoas, não podemos dizer que é progresso.

ID – Numa hora onde se fala de inteligencia artificial e onde complexidade e globalização são palavras chaves, como acompanhar este progresso e imaginar a felicidade no futuro?

EO – Não creio que possamos fazer futurologia. Eu acredito que se aprendermos a ser felizes hoje, no presente, se conseguirmos ter consciência como essa felicidade se constrói, vamos chegar muito perto de seres humanos que valorizam e respeitam todos os seres vivos e recursos da Terra, que valorizam e respeitam a diversidade de culturas, de gênero, de religiões (se elas sobreviverem), de espécies, enfim… Eu acredito que se hoje soubermos ser felizes, vamos saber usar a inteligência ( humana e através dela a artificial) para que o progresso se faça no sentido do bem-estar e felicidade de todos. No futuro o conceito de felicidade será o mesmo? Continuaremos a sentir felicidade quando alinhamos o que somos com o que fazemos e como fazemos? Quando vivemos com propósito? Ou será que quando chegarmos a este patamar, o desafio passará a ser outro?…bem possível que sim, que possamos evoluir para algo ainda mais prazeroso que a felicidade como a sentimos e vivemos hoje!

Quatro temas orientadores irão nortear o evento: Eu comigo mesmo; Eu nas relações; Eu nas Organizações e Eu no meio ambiente. Foto: Site / Reprodução.

ID – Os 4 temas a serem tratados durante o fórum são “eu comigo mesmo”, “eu nas relações”, “eu nas organizações” e “eu no meio-ambiente”. Isso desenha para os terapeutas de Medicina Integrativa o caminho do auto-conhecimento que conduz na direção da busca do Ser e não do Ter e a um nível de consciência ampliada. Acredita que este nível de consciencia ampliada seja um caminho para busca da felicidade?

EO – Exatamente!! A construção do modelo do Forum com base nos 4 temas, tem a ver com o movimento que rege o auto-conhecimento e o desenvolvimento pessoal: de dentro para fora. Por outro lado o auto-conhecimento é a pedra basilar onde assenta a felicidade. Para alinharmos aquilo que somos com as escolhas que fazemos, precisamos descobrir quem realmente somos e aqui entram todas as disciplinas que nos ajudem a chegar lá. Cada um precisará de iluminar dimensões diferentes do seu ser, precisará de polir facetas diferentes do cristal que é, para se descobrir e é por isso que este Fórum é tão fantástico, porque se abre a todos os tipos de faróis para que possa chegar a todos. Ampliar a consciência é sem dúvida o caminho da construção da felicidade e da paz! Deixe-me terminar com esta ideia que me tem acompanhado ultimamente: os conflitos são gerados por pessoas em desequilíbrio, gerados por pessoas que não vivem felizes. Por isso acredito que trabalhar para a felicidade é também trabalhar para a PAZ.

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Isabelle Dossa é médica formada pela Universidade de Xavier Bichat em Paris, especializada em Endocrinologia e Nutrição Clínica na França. Mora no Brasil onde se especializou em Medicina Integrativa no Hospital Albert Einstein de São Paulo. Trabalhou com nutrição clínica no Projeto Favela e com Médica Integrativa, coordenadora de um Centro de Saúde Integral no Capão Redondo, zona sul da cidade.

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Serviço

3º International Happiness Forum 
Quando: 2 e 3 de setembro.
Onde: FMU Santo Amaro.
Endereço: Av. Santo Amaro, 1239 – Vila Conceição – SP.
Horário: 9h às 18h. 
Programação completa: http://www.ihappinessforum.com/
Siga nas redes!
Facebook: https://www.facebook.com/internationalhappinessforum/
Instagram: @happiness_forum
Para inscrições, consulte o site: http://bit.ly/2v3aTVA
*Para grupos, condições especiais.

O São Paulo São apoia a iniciativa.

 

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