Para o cientista Carlos Moreno a cidade de 15 minutos traz, acima de tudo, qualidade de vida

Isso não é sonho e faz parte do conceito criado pelo cientista franco-colombiano Carlos Moreno, da Universidade Paris 1 Panthéon Sorbonne. No sistema que desenvolveu, e que tem encantado urbanistas, arquitetos e gestores mundo afora, os moradores têm acesso a tudo o que precisam a apenas 15 minutos de caminhada.

O conceito não é exatamente novo: o planejador americano Clarence Perry já falava sobre o assunto no início do século XX, propondo um esquema de unidades residenciais comunitárias e autossustentáveis. Já em 2019, o diretor-científico e professor especializado em sistemas complexos e inovação Carlos Moreno trouxe o conceito decrono-urbanismo. “Viver diferente significa, acima de tudo, mudar nossa relação com o tempo, essencialmente o tempo relacionado à mobilidade, que degradou muito a qualidade de vida devido ao deslocamento que custa em todos os aspectos.” diz Moreno em seu projeto oficial.

Fica claro, portanto, que a tese de Moreno e o cerne das cidades de 15 minutos estão em um desenvolvimento urbano decididamente sem carros. “A era dos carros onipresentes, associada a um estilo de vida baseado na propriedade de um veículo como elemento de status social, ainda está presente, mas está vacilando. Em uma época de efeitos altamente visíveis do impacto do clima em nossas vidas urbanas, há felizmente uma consciência crescente de que se tornou impossível respirar em nossas cidades devido ao triplo efeito das emissões produzidas por edifícios, redes de aquecimento e resfriamento e transporte movido a gasolina.”

Carlos Moreno e as conexões em 15 minutos

O cientista franco-colombiano Carlos Moreno, da Universidade Paris 1 Panthéon Sorbonne. Foto: Mathieu Delmestre / RTVE.

Para Moreno, especialista em “cidades inteligentes” e cientista da Universidade Paris 1 Panthéon Sorbonne, as áreas urbanas podem ser redesenhadas para que os serviços básicos estejam próximos dos habitantes. Assim, em vez da cidade com uma única região central, a urbanização deve ser feita com “centros” nos variados bairros, que contam com serviços de saúde, de educação, comerciais, industriais e administrativos. Ele aposta em edifícios com funções múltiplas, com moradias, escritórios e comércio. Isso reduz bastante o tempo de deslocamento e facilita a vida das pessoas.

“Fruto das minhas pesquisas, a cidade de 15 minutos traz qualidade de vida, algo que não existe nas metrópoles onde as pessoas gastam seu precioso tempo em longos trajetos”, afirma o cientista. “Queremos fazer das ruas não um lugar para carros, mas um espaço para pessoas. Que caminham, pedalam e vivem”.

Além de favorecer a saúde, essa transformação melhora o meio ambiente, pois tira os carros das ruas. Afinal, tudo pode ser feito a pé ou de bicicleta no próprio bairro, evitando deslocamentos desnecessários.

Após meses de confinamento, o debate sobre a pacificação das ruas e a estrutura de uma nova cidade se abriu mais do que nunca. Foto: Christophe Archambault /AFP - Getty Images.

A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que foi reeleita no final de junho, encampou com tudo a tese de Moreno, buscando uma capital mais inclusiva e saudável. Na cidade em que 54% das viagens são feitas a pé, ela lutou para ampliar as calçadas e aumentar a rede cicloviária – que hoje conta com 1.000 km e permite atravessar a cidade –, facilitou o acesso a bicicletas elétricas e está reduzindo 72% das vagas de carros para dar mais espaço para ciclistas e pedestres.

Para Carlos Moreno (assista no TED), seis pontos são indispensáveis para viver bem nas metrópoles do século 21. São eles: morar com dignidade, trabalhar em boas condições, ter acesso à saúde, à educação, à diversão e aos produtos necessários para viver. E essa qualidade de vida acontece quando se reduz a distância para alcançar esses parâmetros. Algo que ainda é muito distante da realidade brasileira, mas que deve ser considerado e trabalhado o quanto antes, para que as próximas gerações vivam melhor e com mais saúde.

A Prefeitura de Paris está planejando mais espaços verdes para seus cidadãos. Foto: iStock.Moreno se inspirou dos bons resultados de algumas experiências em Tóquio, mas também estuda o urbanismo no México, na Colômbia e, é claro, em Paris, que considera um laboratório a céu aberto. 

Cidades de 15 minutos no mundo

De acordo com o City Monitor, diversos lugares no mundo, além de Paris e Melbourne, procuram aplicar o conceito de cidade de 15 ou 20 minutos para melhorar as questões urbanas.

C40 Cities

O Grupo C40 de Grandes Cidades é um grupo com foco no combate às mudanças climáticas. O coletivo aposta na ideia de cidade de 15 minutos como o modelo correto para a recuperação econômica pós-Covid nas cidades.

Pedestres em Nakameguro, bairro da periferia de Tóquio no Japão. Foto: Toomore Chiang / Flickr.

Detroit

A cidade de Detroit organizou um conceito de cidade de 20 minutos, semelhante ao de Melbourne, na área em torno de sua extinta rede de bondes.

Portland

O plano de recuperação climática de Portland para 2030 prevê que 90% da cidade possa facilmente caminhar ou andar de bicicleta para atender a todas as necessidades diárias que não são relacionadas ao trabalho.

Ottawa

A capital canadense lançou um plano de bairros de 15 minutos para que os moradores possam fazer metade de suas viagens a pé, de bicicleta, transporte público ou de carona.

Tóquio

Existe uma experiência para a essa modalidade de convivência em Nakameguro, bairro da periferia de Tóquio no Japão.

Leia também: 

São Conexões: a Tegra Incorporadora é parceira da iniciativa.

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Por Chantal Brissac e Mauricio Machado da Redação.

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