Mas apesar de Portugal ser um país que tem incentivado tanto o uso das bikes e ter uma cultura razoavelmente estabelecida no que diz respeito às regras do pedal, além de uma infraestrutura que facilita o uso das bikes, eu vejo muito mais adultos do que crianças se equilibrando sobre duas rodas. Admito que pode ser uma percepção distorcida de quem vive numa cidade pequena (mas que, por isso mesmo, poderia ter muitas crianças pedalando…). A impressão que tenho é que as bicicletas entram na vida da garotada quando eles começam a ter autonomia para ir e voltar da escola sozinhos, ou seja, numa infância já mais avançada, beirando a adolescência (pais e mães portugueses, onde estão vocês que não levam os filhotes para aprender a pedalar nos parques?). E pode realmente não ser uma observação tão fora da realidade: um outro projeto ligado às bikes, agora também em edição na região do Porto, foi implementado justamente para ensinar as crianças a pedalar. Ou seja, não deve ser a minha percepção apenas: os miúdos realmente não andam pedalando pelos parques e ciclovias como poderiam.
O objetivo da iniciativa recém-lançada é, também, que os pequenos conheçam as regras de segurança e de circulação pacífica na via pública. O projeto “Ciclismo vai às escolas” é uma parceria do poder público com a Federação Portuguesa de Ciclismo, resultado de um protocolo assinado em 2017. O diagnóstico da época era que havia de fato um número muito grande de crianças com pouco ou nenhum contato com as bicicletas em todo o país. Desde então, o projeto já foi adotado em diversas regiões, servindo também como ferramenta no combate à obesidade infantil. A iniciativa que chega agora há alguns concelhos do distrito do Porto atende 33 escolas do ensino básico. E os primeiros indicadores já mostram que começar cedo dá ótimo resultados: o projeto conseguiu reduzir, em pouco tempo, de 43% para 14% o número de crianças que não sabem pedalar.
Ser novinho ou velhinho, portanto, não é desculpa para não se divertir com as bicicletas. O equilíbrio a gente consegue aprender fácil mesmo sendo bem pequeno (e como todo mundo sabe, depois que a gente aprende a andar de bicicleta, nunca mais esquece). Enquanto as pernas aguentarem, dá pra rodar o mundo, literalmente. Ou, em algum momento, à bordo de um triciclo, voltar a sentir o vento no rosto e a deliciosa liberdade de um passeio de bike. Isso sempre dá pedal!
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Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.