Apresentadas em galerias, lojas, restaurantes, escritórios de arte e muros autorizados, as exposições, escolhidas a partir de uma convocatória e de uma extensa pesquisa dos curadores, buscam chamar a atenção do público sobre o impacto negativo que o plástico tem causado ao meio ambiente. A participação da jornalista ambiental Paulina Chamorro como curadora especial do Ciclo de Conversas, que faz parte da programação paralela da Mostra, é um dos destaques desta edição, que terá o apoio institucional da Mares Limpos / ONU Meio Ambiente, da WWF, do Ecosurf, da FAS – Fundação Amazonas Sustentável, da Liga das Mulheres pelos Oceanos e da Grin.
“As cidades e seus moradores estão conectados com o problema da poluição plástica nos oceanos e rios. Mais de 80% do lixo que encontramos nesses ambientes tem origem terrestre. Novas forma de consumo, novas formas de cobranças de soluções e novas abordagens, mais convidativas, são essenciais para encarar o problema da poluição plástica hoje. Com esta mostra e com as mesas de discussão e ações esperamos conectar o universo urbano com rios e mares. Muito passa por novas formas de consumo e responsabilidades de empresas e governos. Mas tudo isso só é possível quando sabemos e entendemos o problema. Tornar o tema acessível para mais pessoas, com linguagens atraentes e convidativas para ação, é o que pensamos nesta edição”, diz Paulina.
Para Fernando Costa Netto, os números do impacto do plástico no meio ambiente são tão impressionantes que fazer um chamamento à fotografia brasileira foi uma decisão natural. “Vamos seguir usando os nossos canais para pressionar as empresas e denunciar.”
Entre os fotógrafos convidados, profissionais que usam também sua fotografia como instrumento de denúncia: Alê Ruaro, Andréa Barreiro, Apu Gomes, Barbara Veiga, Cássio Vasconcellos, Coletivo Rolê, Cris Veit, Diego Nigro, Doug Monteiro, Eduardo Leal, Família Schürman, Henrique Tarricone, Justin Hofman/National Geographic, Kátia Carvalho, Levi Bianco, Luciano Candisani, Luisa Dörr, Luiza Sampaio, Marcos Piffer, Michele Roth, Nathalie Bohm, Raphael Alves, Renato Negrão, Renato Stockler, Rodrigo Koraicho, Rodrigo Tomzhinsky/FAS e Yan Boechat.
Uma mostra de fotografia diferente para um tema crucial – por Fernando Costa Netto
Duas pesquisas – uma inglesa, outra austríaca – apontam que o organismo humano já apresenta traços de plástico no sangue. Ele invade o nosso corpo pela cadeia alimentar e pelos resíduos que se desprendem das embalagens, especialmente as de água, refrigerantes e sucos. As consequências em longo prazo e o que isso significa saberemos lá na frente. Outra informação relevante mostra que o microplástico, além de já ter contaminado os oceanos, também alcançou pontos improváveis do planeta, como os Pirineus, montanhas isoladas a 1.500 metros de altitude entre França e Espanha, quilômetros do povoado mais próximo. E pior, em doses semelhantes às das grandes cidades. Um terceiro dado que está mais para roteiro de filme de ficção tem como cenário o Oceano Pacífico. Há algumas semanas, uma expedição americana ao fundo do mar, às águas mais profundas já visitadas pelo homem, avistou sacolas e embalagens de balas a 11 mil quilômetros da superfície. Flutuavam desrespeitosamente avizinhadas a peixes de profundezas e outros seres que nem sequer conhecemos. Os dados da invasão plástica do planeta são alarmantes.
Esta Mostra traz mais uma vez para a Vila Madalena imagens e dados que merecem reflexão. Mas, desta vez, voltados para uma causa, a do lixo plástico. Um dos trabalhos que mais chama atenção é sobre o lixo internacional. Garrafas PET, embalagens de suco e desinfetante, um pote de sopa e outros cadáveres plásticos que vieram de países como Japão, EUA, Jordânia, Senegal, Malásia repousavam da longa jornada à deriva nas areias das praias de fora de Fernando de Noronha. Não saberemos nunca se vieram com as correntes de seus países de origem ou se foram descartados de embarcações em alto-mar. Mas estavam lá, para permanecerem no nosso território por pelo menos 400 anos.
As empresas mais poluidoras do mundo têm nome, endereço e são grandes conhecidas de todos nós. Estão à disposição via Google. São grupos econômicos responsáveis por mortes em larga escala e destruição acelerada do planeta. Para se ter uma ideia, só no Brasil, quarto maior produtor de lixo plástico do mundo, são 2 milhões e meio de toneladas jogadas nos 8 mil quilômetros de costa todos os anos, e só pouco mais de 1% desse material é reciclado, de acordo com a WWF Brasil.
O poder da indústria ainda é forte, mas o monitoramento de organizações apoiadoras deste evento, como a ONU Meio Ambiente, WWF e FAS (Fundação Amazonas Sustentável), alerta: ou mudamos o hábito ou as cidades e mananciais em breve estarão esgotados. Afirmação desoladora é a de que em 10 anos a expectativa da indústria é dobrar a atual produção.
Em 2019, colocamos essa causa para guiar o nosso trabalho. As quase 30 exposições, mesas de conversas e outras atividades têm foco nesse problemão. O plástico descartável tornou-se uma mercadoria delinquente que precisa ser acompanhada, controlada e combatida. Ao mesmo tempo que mata, é disponibilizada nas prateleiras em embalagens cheias de design, mensagens fofas, divertidas, inteligentes.
Agradecemos a todos que estão dividindo conhecimento e responsabilidade nesta empreitada com a gente. Em especial, o vereador Xexéu Tripoli, que dedica o primeiro mandato na Câmara dos Vereadores de São Paulo para estudar e colocar na pauta da Casa o tema, e Paulina Chamorro, jornalista e importante voz ambiental do Brasil, uma das curadoras da 9ª Mostra.
Para nós, é um privilégio promover este debate, tão urgente quanto inédito em uma Mostra Nacional de Fotografia.
Acompanhe a 9ª Mostra SP de Fotografia no Facebook. O São Paulo São é parceiro da iniciativa.
***
Com informações Namídia.