Poetas Ambulantes: 3 anos pedindo para não incomodar com poesia

Não é novidade para ninguém a multiplicação dos saraus da periferia e que, dia-a-dia, a poesia vem ganhando boas batalhas na dura vida das grandes cidades. Entre as soldadas e soldados presentes nesse front, o batalhão dos Poetas Ambulantes, coletivo de poetisas e poetas que viajam realizando saraus dentro do transporte público em São Paulo, comemora, no próximo 26 de setembro, 3 anos de atividades na Casa das Rosas com saídas de três pontos da cidade.
 
“A cidade está correndo o tempo todo, para atender o interesse do capital, passa por cima de todo mundo, só respeita quem faz a roda girar, dentro desse contexto, colocar a poesia na cidade é uma urgência, pois são armas poderosíssima, que fazem as pessoas pararem e refletirem sobre o que estão fazendo de suas vidas”, diz Thiago Peixoto, integrante do coletivo que conversou com o Agenda da Periferia, para explicar a tática de ação do grupo.
 
Ele explica que a ideia de levar poesia as pessoas que não estavam preparadas para ouvi-la, surgiu da vontade de levar o universo dos saraus para quem não conhecia ou não tinha oportunidade de frequentar esses ambientes. “Queríamos intervir com poesia na cidade de alguma forma, pensamos em algumas possibilidades, chegamos a organizar um sarau, a escrever poesia na calçada, e um dia, veio a ideia de ir para os transportes públicos”, explica.
 
Ele explica que, inicialmente o coletivo chegou a fazer intervenções nas ruas, escrevendo, por exemplo, poesias nas calçadas. Realizar saraus dentro do transporte, foi a forma como eles encontraram de levar poesia a quem, por desconhecimento ou por algum outro motivo, não tinha contato com versos e rimas. A certeza acertaram na escolha da ação venho quando começaram a perceber que passageiros saindo do ‘isolamento’ tão comum das viagens em ônibus ou vagões lotados e começando a interagir entre si, a se emocionar e, às vezes, até a declamar versos ou chorar de emoção. Confira a entrevista abaixo e conheça um pouco mais dos Poetas Ambulantes, que além do Peixoto, é formado por Mel Duarte, Carolina Peixoto, Jefferson Santana, Lu’z Ribeiro, Mariane Staphanato.
 
Como surgiu a ideia dos Poetas Ambulantes? 
A ideia surgiu a partir da vontade de alguns poetas, que já freqüentavam assiduamente a cena do saraus, levar poesia à pessoas que não estão esperando ouvi-la. Queríamos intervir com poesia na cidade de alguma forma, pensamos algumas possibilidades, chegamos a organizar um sarau, a escrever poesia na calçada, e um dia, nessas conversas de ‘como levar poesia de encontro às pessoas’, veio a ideia de ir para os transportes públicos, então surgiu o coletivo. 

De que formas acontecem as intervenções? 
Nós entramos nos ônibus (pedindo carona), ou no metrô, com o discurso dos vendedores ambulantes “eu podia estar matando eu podia estar roubando, mas estou aqui humildemente recitando poesia… ”, então começamos a recitar e distribuir poesias. Em dado momento da intervenção nós os convidamos os para participarem também, e para os que topam o desafio, nós damos livros de presente.

A recepção do público foi muito diferente do que vocês esperavam?
A recepção, inicialmente, é sempre a mesma, fazem aquela cara de “já vão querer me vender alguma coisa”, porém, conforme eles vão percebendo que a intenção não é vender, mas sim, distribuir e recitar poesia, todos acabam se envolvendo, comentando, sorrindo, recitando, aplaudindo.

Quais as histórias e episódios mais interessantes?
Já aconteceu muitas coisas especiais. Chega a ser até comum os passageiros se emocionarem, não foram poucas as vezes que vimos lágrimas escorrerem após uma poesia. Certa vez um segurança tentou impedir a intervenção, e uma passageira disse a ele: “você está incomodando muito mais do que a poesia”. Outra vez que os seguranças tentaram impedir a ação, o vagão inteiro começou a aplaudir o sarau, o segurança, sem graça, desceu.  Já aconteceu também de artistas, com um certo prestígio, que não nos conheciam, ficarem atônitos por não acreditarem que estavam presenciando um sarau no metrô.

Quantos integrantes são? Como vocês se conheceram?
Somos em 6 poetas na organização do coletivo, mas contamos com um monte de outros poetas agregados, que somam sempre que podem, em todas as edições. Nos conhecemos nos saraus da Cooperifa e Suburbano Convito.

Qual a diferença e qual semelhança com os saraus em espaços ‘comuns’?
A semelhança é a poesia viva e a energia que ela é capaz de provocar. Os saraus dão voz aos poetas de hoje e dão vida aos poetas consagrados, isso nós também fazemos no Poetas Ambulantes. A diferença é que em um sarau, as pessoas (mesmo que seja a primeira vez delas) estão minimamente preparadas para o que vão encontrar, nos transportes públicos é sempre uma surpresa, grande parte dos passageiros sequer sabem o que é poesia, não tem o habito de ler, no geral, estão cruas realmente, muitas vezes aquele momento é o primeiro contato com a poesia. Talvez, boa parte delas, antes de aplaudir e se divertir com a intervenção no transporte público, se fossem questionadas “você gosta de poesia”, elas responderiam que não, pois realmente não é uma coisa do cotidiano da maioria da população

A cidade de São Paulo está mais poética? Qual o papel a poesia cumpre (por que a cidade precisa de poesia?
A cidade está mais poética sim. Penso que a poesia, há algumas décadas, vem travando uma batalha intensa para deixar São Paulo menos dura, menos indiferente, menos estressada, mais disposta a ouvir e respeitar as pessoas que respiram sua atmosfera. O Poetas Ambulantes é fruto dessa batalha que vem sendo travada, nascemos dessa necessidade de colocar poesia em São Paulo, estamos dando continuidade a isso e queremos ser referência para que outras iniciativas aconteçam. A cidade está correndo o tempo todo, para atender o interesse do capital, passa por cima de todo mundo, só respeita quem faz a roda girar, dentro desse contexto, colocar a poesia na cidade é uma urgência, pois são armas poderosíssima, que fazem as pessoas pararem e refletirem sobre o que estão fazendo de suas vidas, faz elas questionarem as coisas que estão erradas, se inquietarem com o incômodo que sempre existiu dentro de todos, mas que fomos educados a silenciar.

O que representa o aniversário de 3 anos? como ele será comemorado?
Esse aniversário de três anos será comemorado com uma grande ação pelos transportes públicos, serão três saídas simultâneas espalhadas pela cidade, com diversos coletivos partindo de regiões periféricas rumo à Casa das Rosas, onde acontecerá um sarau, seguido de um show com artistas companheiros nosso de caminhada. Esse momento representa a força da poesia que está sendo produzida atualmente em São Paulo, que não se atem somente a fazer arte pela arte, queremos intervir no modelo de cidade que está posto, somos artistas ativistas, agentes transformadores em atividade na selva de Pedra.

Confira os detalhes da programação do aniversário dos Poetas Ambulantes clicando aqui 

Paulo Pastor Monteiro no  Agenda da Periferia.

 

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