Exclusivo! Por dentro do Castelinho da Rua Apa: o que vem pela frente?

 Foto: Brunella Nunes.

 

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Talvez essa história, distante e ao mesmo tempo tão próxima dos contos de fadas, tenha uma ligação forte um com o outro, um tipo de conexão que pode ser atribuída ao destino. Assim como a obra que tanto admira, Maria também passou por maus bocados em sua história pessoal. Há mais de 20 anos, chegou a essa Paulicéia Desvairada, mas morava na rua, se acolhendo neste endereço em algumas ocasiões, e tem em sua trajetória alguns traços em comum com o que hoje pode chamar de seu. Ou quase isso. “Não queria que funcionasse um projeto meu, mas uma coisa que fosse para a sociedade. Fiquei muito focada nisso. E como ele não estava à venda e eu não tinha dinheiro para comprar, fundei uma ONG para começar a pleitear a concessão do prédio, em 1997”, explicou.

Foto: Brunella Nunes.

 

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Foram 42 anos de Castelinho abandonado e 19 anos de luta para manter seu sonho de pé. Ao longo do tempo, muitos prefeitos passaram pela cidade, mas só no final do governo de Marta Suplicy que foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental – CONPRESP, no ano de 2004. “Então aí já foi um desafio, a gente batalhando. Depois veio a batalha de conseguir revitalizar, encontrar parceiros. Conseguimos através do Fundo de Interesses Difusos – FID, da Secretaria de Justiça, pelo qual nós somos muito gratos, porque foi a única porta que se abriu para nós. E mesmo que fosse o trabalho deles, nós passamos por muitos governos batendo na porta e ninguém fez. Então eles tiveram um olhar social. Devo isso muito à Dra. Heloísa Arruda, porque foi ela que começou a enxergar esse potencial, e ao Dr. Humberto, promotor público que me ajudou muito”, disse Maria Eulina, fazendo questão de citar os nomes dos que estenderam a mão.

Foto: Brunella Nunes.

 

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Entre trancos e barrancos dos processos burocráticos e até mesmo da falta de vontade do poder público em fazer alguma coisa, ela enfim conseguiu reerguer o seu castelo, que deixará um legado importante para a cidade. Essa é a reconstrução de uma história, um recomeço. “Hoje, depois de passar por todo o processo cirúrgico, é um prédio perfeito, maravilhoso, mas o que fez a gente receber a história do tombamento é a história que o Castelinho tem, que não é do crime, mas sim uma história socioambiental”.

Foto: Brunella Nunes.

 

Foto: Brunella Nunes.As obras de restauração, com investimento de R$ 2,9 milhões, se iniciaram em 2016 e estão em fase de conclusão ainda em 2017, já que segundo Maria, faltam alguns pequenos detalhes. O edifício dará continuidade às realizações promovidas pelo Clube de Mães, fundado em 1993. Será palco de diversas atividades, oficinas, eventos e palestras. Uma cozinha será montada para dar cursos de reaproveitamento de alimentos às crianças de escolas públicas, por exemplo. É uma transformação que vai de dentro pra fora, levando o Castelinho a um outro patamar que o afasta de seu passado ingrato, o promovendo a agente social e cultural. “Trabalhamos com pessoas em vulnerabilidade social, com o morador de rua, o dependente químico, a mãe abandonada, a criança jogada. É essa história que foi forte para o Castelinho, e não a do crime ou da Maria Eulina. A veia, a sensibilidade foi por aí, é pela vida restaurada que passou por aqui. É essa história que é forte, que é importante de ser mostrada”, concluiu.

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Por enquanto, não há previsão de abertura oficial do edifício para o público, mas Maria Eulina garante que não vai demorar muito tempo. No dia 3 de maio, ela recebe o prédio e então começará a planejar a programação. A primeira ação para celebrar a vida nova do Castelinho será de atendimento às pessoas que moram na rua, incluindo serviços de saúde, emissão de carteira de identidade e atividades mais lúdicas, como contação de histórias. Neste castelo, as portas se abrem não para formar reis e rainhas, mas protagonistas de um futuro melhor.
Foto: Brunella Nunes.

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O que ficou para trás

O imóvel construído no início do século XX, com ares de Bélle Époque, foi ofuscado por um trágico acontecimento. No ano de 1937, houve o assassinato da família que morava no local, a socialite viúva Maria Cândida Guimarães e seus filhos, Alvaro e Armando Guimarães Reis. Os três foram encontrados mortos ao lado de uma pistola. Entre muitas teorias, supõe-se que houve uma discussão financeira entre os irmãos, que discordavam sobre os investimentos a serem feitos. Dizem que Alvaro disparou contra Armando, mas a mãe entrou na frente. Outro tiro foi dado e então o assassino teria se suicidado na sequência.

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Por Brunella Nunes.

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