Por um mundo mais ciclável

Esta semana, dados da Federação Europeia de Ciclismo mostram o quanto os países estão se empenhando para criar mais e melhores condições para ampliar o uso das magrelas. E Portugal aparece em quarto lugar entre todos os países da comunidade que mais prometem construir ciclovias. O estudo compilou as informações oficiais de mais de 300 cidades européias anunciadas pelos governos e associações como resposta a um novo modelo de mobilidade com a pandemia, bem como dados não oficiais.  Ao todo, foram prometidos mais 2.300 km de pistas para as bicicletas nesta nova fase. O investimento total na promoção do uso da bicicleta, seja na ampliação das redes ou em outros projetos, é superior a um bilhão de euros, aponta o levantamento. “A crise da Covid, ainda que trágica, é uma enorme oportunidade para acelerar uma mudança positiva e ‘re-formatar’ as cidades”, declarou a CEO da ECF, Jill Warren.

Portugal aparece atrás da França, Itália e Espanha na expansão de suas ciclovias. Foto: Plataforma Media.

Portugal aparece atrás da França, Itália e Espanha. A capital que saiu na frente foi Roma, que já prometeu novos 150 km de ciclovias. Ainda que, no geral, Bélgica não esteja entre os principais países, Bruxelas é uma das cidades também destacadas, junto com Paris e Barcelona. Em Portugal, os números são puxados, principalmente, por Lisboa e Porto, que seguem anunciando novos projetos. Lisboa deverá ter mais 90 km, parte dos quais já abertos para os ciclistas que buscam um novo modelo de deslocamento na cidade. Na soma total, Portugal deverá ter mais 154 km. A França anunciou quase mais 1000 km. Itália com pouco mais de 400 km e Espanha com cerca de 200 km novos nesta fase pós-covid aparecem em seguida.

Apenas uma pequena porcentagem dos passageiros de Roma vai de bicicleta para o trabalho. Foto: Associated Press Television News.

Apesar das boas intenções para que nasçam mais ciclovias nesta fase da pandemia, há um certo consenso entre usuários e associações que é preciso também uma mudança mais ampla para que as bicicletas sejam adotadas por uma parcela maior da população. A redução da velocidade dos automóveis e o cumprimento mais rigoroso da legislação de trânsito, por exemplo, já seriam medidas importantes para diminuir a resistência que muita gente também diante da ideia de subir numa bike e encarar as ruas da cidade. Da minha experiência pedalando por aqui, e tendo como referência as pedaladas pelas ruas de São Paulo, posso dizer que a convivência dos carros com as bicicletas é até bem razoável, ainda que vez ou outra a gente saiba de alguma tragédia na rua. E mesmo lembrando que Portugal ainda é um dos países que menos adota a bike como meio de transporte, é bastante comum ver gente se equilibrando sobre as duas rodas pelas cidades, principalmente em um centro pequeno como Ovar. Mas os ciclistas são, em sua maioria, homens, o que pode ser realmente um indicativo de que as ruas ainda são muito “agressivas” e pouco amigáveis.

Mapa das ciclovias em Roma, Itália. Imagem: reprodução.

Mas a vontade de mudar o cenário é um fato por aqui, principalmente no pós-covid. Mais pistas, centros urbanos impondo reduções nos limites de velocidade, áreas fechadas para os carros… Ah, claro, e uma ajudinha financeira para comprar as bicicletas também seria bom, não? Pois é, já tem isso também. Lisboa, por exemplo, anunciou recentemente um programa para estimular a compra de bicicletas, subsidiando 50% do valor das bikes para quem tiver interesse, com um limite de 500 euros por pessoa, dependendo do tipo do bike. Gostou? Pode se inscrever no programa da Câmara Municipal de Lisboa e pedir o seu “vale-bike”. São três milhões de euros para o programa em 2020, que podem ser utilizados para as bicicletas elétricas ou convencionais. Só é preciso morar ou trabalhar regularmente na cidade e ficar com a bicicleta por um período de 24 meses.

Assim ficará a Avenida da Índia em Lisboa, Portugal. Ilustração: Câmara de Lisboa.

Para quem não quer comprar e prefere usar as bicicletas compartilhadas, também há novidades neste novo mundo da pandemia: o número de magrelas disponíveis nas ruas de Lisboa vai pular de 700 para 1500 até o final deste ano, entre elétricas e convencionais. Aos poucos, o efeito negativo inicial da pandemia começa a se reverter e as bicicletas voltam a ser procuradas. O serviço, que chegou a ser suspenso, tinha um número médio de viagens de quase 6 mil em fevereiro, passando para pouco mais de 1 mil em abril. Com a vida voltando ao “normal”, os números já se aproximam aos do início do ano. E há ainda uma proposta para que as bicicletas de aluguel sejam gratuitas para estudantes e trabalhadores em determinadas áreas da cidade e por períodos igualmente pré-definidos.

Vale lembrar que Portugal foi o país europeu que mais produziu bicicletas em 2019, ou seja, a vocação para o ciclismo, ou pelo menos para a fabricação de bicicletas, é uma realidade. Foram 2,7 milhões de bike, o equivalente a um quarto de toda a produção europeia, superando a então líder Itália.  Tem bicicleta, tem mais ciclovias, tem uma graninha para ajudar a comprar a bike e tem bicicleta de graça. Então, que tal começar a pedalar ou aumentar as pedaladas que já dá? O vírus é péssimo, mas quem sabe não tiramos desta fase tão pesada uma vida mais leve.

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Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.

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