Portugal, muito além do bacalhau e dos castelos

E a gente, com um pouco mais de um ano de vida portuguesa, não se cansa de ir descobrindo coisas novas. Foto: Marcos Freire.

Uma das deliciosas descobertas desta semana foram as fragas de São Simão. Foto: Cláudio Nascimento.

Ao final de mais de uma hora de caminhada, uma parada para conhecer a Praia Fluvial das Fragas de São Simão, na Ribeira de Alge, afluente do Zêzere. Grandes pedras delimitam piscinas naturais, cercadas também pelo verde da Serra da Lousã e muitos sobreiros, as grandes árvores de onde se extrai a cortiça, mais um grande patrimônio de Portugal. No auge do verão, esta praia fluvial reúne famílias e muita gente também em busca de esportes radicais, como o rapel. Agora na primavera, apesar do dia lindo de sol, a água bem fria só empolgou mesmo o Tico.

Ali perto, uma outra praia fluvial merece ser visitada. A praia do Mosteiro, na ribeira de Pera, outro afluente do Zêzere. Muito verde, piscinas entre as rochas e dois percursos para caminhadas, que cortam pequenos açudes, moinhos e antigo lagares de azeite. E para quem quiser ir com o cachorro, há uma área cercada para a turma de quatro patas. O Tico já testou e aprovou…!

Praia fluvial, localizada junto à Aldeia do Xisto de Mosteiro. Foto: Aldeias do Xisto.

E quando já parecia que não teríamos mais o que conhecer, o destino final do domingo ensolarado de primavera: a pequena aldeia de Casal de São Simão. Uma única rua principal, casas de pedra bem típicas, e apenas quatro moradores, como nos contou o simpático garçom do restaurante com uma vista espetacular da serra. Todas as casas foram remodeladas, mas sem perder o encanto e as características marcantes das construções de xisto. Quase todas elas ganham vida quando seus proprietários deixam as grandes cidades onde vivem e vem passar temporadas ou feriados na simpática vila.

Caminho do Xisto de Casal de São Simão.A aldeia de Casal de São Simão é uma das 27 aldeias distribuídas pelo interior da Região Centro de Portugal, que integram a “Rede das Aldeias do Xisto”, um projeto de desenvolvimento sustentável em parceria com 21 municípios. Casal de São Simão chegou a ser “movimentada”, com famílias que cultivavam a terra a davam vida ao pequeno conjunto de casas. Havia hortas, rebanhos de cabras e ovelhas, criação de galinhas.

Na Ribeira de Alge, moinhos movidos pelas forças das águas, aqueles pelos quais passamos na nossa trilha, moíam o milho e o trigo que viravam pão nos fornos a lenha. Com o tempo, porém, as novas gerações foram em busca de outras oportunidades fora desse pequeno núcleo, o que praticamente acabou com a aldeia. Uma das últimas moradoras, ainda desta população “original”, faleceu em 2011, aos 97 anos, época em que a “nova” Casal de São Simão já voltava a pulsar. Hoje, como parte deste grande projeto e com o apoio de moradores e do poder público, a aldeia ganhou nova infraestrutura (cabos de eletricidade, telefone e televisão estão enterrados e não há qualquer poste com fios pelas pequenas ruas de pedra) e há cerca de 16 casas recuperadas.

Para nós, fica sempre a feliz perplexidade: como pode ser tão grande esse país tão pequeno? Do bacalhau ao vinho do Porto, do pastel de Nata ao Mosteiro dos Jerônimos, e, agora, das fragas às aldeias do xisto, o que não falta é motivo para encantamento. E vamos em frente, porque ainda tem muita aldeia pra conhecer!

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Marcos Freire mora com a família em Ovar, Portugal, pequena cidade perto do Porto, conhecida pelo Pão de Ló e pelo Carnaval. Marcos é jornalista, com passagens pelas principais empresas e veículos de comunicação do nosso país. Escreve quinzenalmente no São Paulo São.

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