Prefeitura de São Paulo pretende criar o 1º parque público da Mooca

O futuro Parque da Mooca vai ficar entre as ruas Dianópolis e Barão de Monte Santo. O terreno é de propriedade da Construtora São José e é considerado pelos moradores o único possível em uma região superlotada de galpões e prédios, e possui 96 mil m², um pouco menor do que o Parque da Aclimação, com 112 mil m².

“A Mooca é uma ilha de calor, com cada dia mais prédios”, alertou o representante comercial Júlio César Ribeiro, uma das lideranças do “Movimento Parque na Mooca Já!”.

“É um trabalho pelo bairro, por nossos filhos e netos. ‘Mooca’ significa ‘casa de parente’. Todo mundo aqui se conhece, se beija, se abraça. Aqui tem pertencimento. Se não fizer um parque, não vai ter espaço para conviver”, continuou Julio.

Parte externa de terreno negociado para implantação do Parque da Mooca, na Zona Leste de São Paulo. Foto: Marcelo Brandt/G1.

A Construtora São José, no entanto, disse ao G1 que vai construir residências e empreendimentos comerciais em parte da área, definida como Zona Mista (ZM) pelo último zoneamento, e a outra parte, que é Zona Especial de Proteção Ambiental (Zepam) deve ser trocada por potencial construtivo com a Prefeitura de São Paulo.

“Negociamos com a Prefeitura há muito tempo. O parque inclusive já foi previsto pelo Plano Diretor de 2016, que obrigou a preservação de área verde em 47 mil m² do terreno, cerca de metade dele. Acredito que um acordo entre as partes seja assinado dentro de até 4 meses”, estimou Robert Metzner, um dos diretores da construtora. “Nós vamos doar esse trecho e receber potencial construtivo em troca por meio de outorga onerosa”, prosseguiu.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo disse que a criação do parque está em fase planejamento pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente e, sem estipular prazos ou informar as condições da negociação, confirmou que o parque deverá ser implantando neste terreno.

Área desejada x área oferecida

Pelo menos um quarto dos moradores da Mooca se uniram em torno da reivindicação por um parque público na região. Foto: Marcelo Brandt/G1.

Aluízio Tonidandel, engenheiro e idealizador do “Movimento Parque na Mooca Já!”, disse que usar a área total para construção do parque é fundamental para a qualidade de vida da região.“Todas essas fábricas desativadas certamente vão virar prédios. Essa reivindicação é por qualidade de vida, para convidar as pessoas a saírem de seus apartamentos e resgatar um pouco daquele convívio que sempre tivemos na Mooca”, Tonidandel.

O diretor da Construtora São José afirmou que a empresa está ciente da aridez da região, do desejo da Prefeitura de reestruturar o distrito, após o abandono de galpões, e disse que a empresa está disponível para dialogar com moradores, embora não vislumbre possibilidade de conceder todo o terreno.

“Assim fica bom para todos os envolvidos – moradores, Prefeitura e empresa”, disse Robert Metzner. “É inviável ceder toda a área porque é um ativo muito caro e a negociação acontece há muito tempo. Além disso, gastamos uma fortuna com a reabilitação da área, que estava contaminada. Esse trabalho no terreno levou seis anos”, argumentou.

Aluízio Tonidandel discordou da alegação financeira e usa o Parque Augusta como exemplo. “Aquela área também era de uma empreiteira de papel passado, carimbado e timbrado. O parque saiu sem uso do dinheiro do contribuinte, só com troca de áreas que a Prefeitura tem”, disse. “Além disso é possível criar uma área com infraestrutura mínima, mesmo um bosque fechado, preservado. Se pudermos aproveitar um anel externo para caminhar está ótimo”, completou.

Demanda antiga

A região marcada pelo passado industrial e pelo comércio de roupas é uma das mais quentes e secas da cidade.

De acordo com o Mapa da Desigualdade 2018, estudo elaborado pela Rede Nossa São Paulo, a Mooca ocupa a 67ª posição no ranking de arborização entre os 96 distritos do município, e possui 0,06 árvore por habitante, embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) indique a quantidade mínima de 3 árvores por habitante e 6 como número ideal.

Proprietária de terreno negocia metade da área em troca de potencial construtivo; moradores querem terreno todo. Foto: Arte/G1

A demanda por um parque na Mooca é antiga, inclusive na Câmara Municipal de São Paulo. Os vereadores Adilson Amadeu (PTB) e Gilberto Natalini (PV) pressionaram a Prefeitura nos últimos anos por meio de projetos de lei, que deram destaque a reivindicação dos moradores.

Os projetos de 2006 e 2009 de Amadeu não prosperaram naquelas ocasiões porque a contaminação do terreno persistia. Hoje, na iminência da criação de um novo parque, ele discorda da luta por um espaço ainda maior.

“É uma área privada e o que foi cedido é muita coisa. Já dá para fazer um espaço digno para o bairro. Se a prefeitura tiver que gastar para adquirir a outra metade entra uma questão de prioridades – seria melhor investir em um grande hospital da melhor idade, que está faltando”, opinou.

Natalini encampou o “Movimento Parque na Mooca Já!” em 2018. Seu projeto de lei está em tramitação na Câmara e foi aprovado por unanimidade na primeira comissão, de Constituição e Justiça, e o próximo passo é a discussão na Comissão de Política Urbana, ainda sem data para acontecer.Mooca é marcada pelo passado industrial e pelo comércio de roupas. Região é uma das mais áridas da cidade de São Paulo. Foto: Marcelo Brandt/G1.

“Quando fui procurado me pediram 100% do parque, pois o grupo não quer que o parque seja o jardim das torres. Está faltando verde na Mooca”, explicou. “Ninguém quer expropriar ou tomar terra. Existem diversas modalidades de negociação. No Parque Augusta, a negociação envolveu troca por potencial construtivo”, continuou o vereador.

Histórico do terreno

Durante décadas, a área pertenceu a Esso, que contaminou o local com substâncias como benzeno e fenol, componentes do petróleo e seus derivados. Em um primeiro momento, o grupo Cosan comprou o espaço, mas em seguida a empreiteira São José o adquiriu e assumiu o passivo ambiental, ou seja, a obrigação de descontaminar a área.

A construtora contratou uma empresa para fazer o serviço, que foi acompanhado pela promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público e pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) por meio de laudos.

Terreno negociado para implantação do Parque da Mooca pertenceu à Esso durante a segunda metade do século 20. Foto: Acervo/IBGE

A São José diz que o serviço foi concluído. “Em novembro terminamos reabilitação. Está descontaminado e podemos fazer a doação”, disse Robert Metzner, um dos diretores da construtora.

Em nota, a Cetesb confirmou que em outubro de 2018, a pedido da proprietária do terreno, avaliou a área de 47 mil m² onde está demarcada a Zepam e emitiu o Termo de Reabilitação para Uso de parque.

O restante do terreno, segundo a Cetesb, também foi avaliado para construção de um empreendimento, recebeu parecer favorável, e está sendo monitorado para conclusão do processo de remediação.

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Por Vivian Reis, G1 SP.

 
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Centro de SP tem apenas oito metros quadrados de verde por habitante
SP1
 
 
 
 
 
 

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