A publicitária Catharina Mendonça, de 23 anos, contou que ela e os colegas de turma da escola Miami Ad School, Gabriel Azevedo Cavalcante, de 23 anos, e Bernardo Sande, de 25 anos, quiseram usar a criatividade para uma causa que precisa de apoio.
— Muitas vezes o vizinho escuta as brigas (entre um casal) e não faz nada, pensa no ditado de que “em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher” e não faz nada. Queríamos mostrar que é para intervir sim — afirmou Catharina, por telefone, ao Globo, nesta quarta-feira.
Os três tiveram como base para o projeto várias pesquisas da Organização Mundial da Saúde (OMS), Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Serviço Social do Comércio (SESC), Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República (SPM/PR), entre outras entidades, no período de 2010 a 2018.
— Como podemos usar nossa criatividade para marcas e causas, pensamos em causas e veio a temática da violência doméstica, e no maior símbolo das casas. Por isso fizemos essa intervenção. Trazemos essa realidade para fora das casas, mostrando o que todo mundo sabe que acontece (em seu interior) — explicou.
Por três dias, os jovens levantaram às 5h e concretizaram a ideia de expor os números da violência doméstica nas fachadas de casas dos bairros de Vila Clementino, Moema, Saúde e Vila Mariana, na Zona Sul da cidade, Vila Madalena, na Zona Oeste, e Vila Conceição, na Zona Leste. Sempre andaram juntos, contou Catharina, e fotografaram o resultado para divulgá-lo no perfil do Instagram @seascasasfalassem.
Lá, é possível conferir as imagens que trazem informações, como que “a cada 72 segundos, uma mulher é vítima de violência física no Brasil”, ou que, a cada hora, 150 são espancadas. E ainda que o parceiro da vítima é o agressor em 80% dos casos de violência doméstica.
Segundo a idealizadora do projeto, a ação não tem fins lucrativos e o trio não precisou pedir autorização dos proprietários para colar os adesivos. No entanto, se dispuseram a explicar e a retirá-los caso lhes fosse solicitado.
— Ninguém chegou a pedir para tirar, foi todo mundo muito tranquilo. De quaquer forma, o material é bem fácil de ser removido e não danifica a pintura.
E a ideia não deve ficar só em São Paulo. Os três publicitários são nordestinos e pretendem reproduzir o projeto em suas cidades de origem, além de outras capitais da região. Catharina, de Aracajú, frisou que eles optaram por começar em Salvador, onde nasceu o Bernardo, porque é desta capital o maior índice de violência doméstica no Nordeste.
— A repercussão dentro da escola e no mercado foi ótima. Os professores apoiaram e compartilharam, eles gostaram bastante da ideia. Pensamos em dar prosseguimento e estamos em contato com secretarias da mulher em cidades do Nordeste. Sou de Aracajú, o Bernardo de Salvador, e o Gabriel, de Natal. Temos mais contatos nessas cidades, mas, independentemente ou não do apoio, queremos levar o projeto para lá, em outras capitais também, para reproduzir o projeto, de acordo com os dados de cada uma — afirmou Catharina.
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Por Louise Queiroga em O Globo.