“Trair e coçar é só começar” é uma façanha, caso raro, na cena cultural brasileira, que resiste ao passar do tempo e se mantém viva porque o seu conteúdo é atual.
O nome do espetáculo diz sobre o que vamos apreciar. Mais do que apresentar com humor distintas situações de traição, para mim o ponto de partida são suspeitas sobre esses comportamentos, as quais quando entendidas como “verdadeiras” pelos personagens, geram consequências desenvolvidas com maestria pelo autor; bem dirigidas, e interpretadas com competência pela trupe de atores.
A peça gira em torno de meras hipóteses de adultérios, geradas por equívocos e confusões provocadas por uma empregada, que se aproveita da desconfiança geral entre os casais do enredo para subornar seus patrões e amigos. A estória conta com três casais, um padre e um vendedor de jóias que se torna, sem querer, o pivô de uma série de suspeitas de traição. E quem comanda todas as situações é Olímpia, a empregada doméstica inteligente, hábil, que usa as suas influências e talentos para tirar proveito e alavancar financeiramente a sua vida.
Uma empregada (Anastácia Custódio) envolve seus patrões e dois casais em confusões. Foto: Divulgação.
“Trair e coçar é só começar” é considerada um dos maiores sucessos de público no Brasil, e vem sendo encenada desde 1986. É a peça teatral há mais tempo em cartaz em todos os tempos, o que lhe valeu quatro menções no Guiness, o livro dos recordes mundiais. Já foi vista por mais de seis milhões de espectadores em mais de nove mil apresentações.
Com uma temática tão praticada em nosso cotidiano é provável que essa peça escrita por Marcos Caruso ultrapasse mais de 100 anos em cartaz, e se transforme num dos maiores fenômenos de geração de renda passiva do segmento teatral do Brasil.
Porque no mundo real vivemos numa sociedade que nutre sistematicamente a capacidade de julgar, de confiar no que a mente cria ou em percepções imediatas e parciais, com pouca disponibilidade para o exercício do diálogo franco e honesto.
A peça é uma comédia de costumes com todas as confusões do gênero. Como obra de ficção e de entretenimento, “Trair e coçar é só começar” é muito boa, e nos permite rir de acontecimentos, alguns dramáticos, vivenciados no dia a dia de cada um de nós. Por aqui, fico. Até a próxima.
Serviço
Trair e coçar é só começar.
Autor: Marcos Caruso.
Concepção e Direção Original: Attílio Riccó.
Direção: José Scavazini.
Elenco: Anastácia Custódio, Carlos Mariano, Mário Pretini, Carla Pagani, Tania Casttello, Lara Córdula, Miguel Bretas, Siomara Schroder, Ricardo Ciciliano e Beto Nasci.
Teatro Renaissance, Alameda Santos, 2233, Cerqueira Cesar, SP.
Sextas e Sábados às 21h30.
Domingos às 18h.
***
Leno F. Silva é diretor da LENOorb – Negócios para um mundo em transformação e conselheiro do Museu Afro Brasil. Escreve às terças-feiras no São Paulo São.