Saiba como são tratados os dependentes de drogas na França

No Brasil, atualmente, a maior parte dos usuários não beneficia de um tratamento público. Faltam vagas para hospitalização e capacitação de psiquiatras. Um dos símbolos dessa realidade brasileira é a Cracolândia, em São Paulo, um triste retrato da dependência do crack, antes restrita às populações mais pobres, que hoje atinge todas as classes sociais.

No país, apesar dos recursos públicos limitados, existem várias iniciativas, que combinam políticas de redução de danos, minimizando os riscos para o próprio paciente, grupos anônimos e comunidades terapêuticas. Também existem clínicas particulares, mas apenas para quem beneficia de um plano de saúde.

Hospitalizações são raras

O crack não está no topo das preocupações das autoridades de saúde francesas. Seu uso permanece estável, contrariamente ao da cocaína, que cresce e atinge todos os meios sociais e, mais recentemente os estudantes do ensino médio. Estudos mostram que, aos 18 anos, 3% dos franceses já experimentaram a droga – o número triplicou em dez anos. Um dos motivos é a facilidade de acesso e o advento das novas tecnologias, que facilitam a distribuição do produto e o contato entre usuários e vendedores.

O psiquiatra francês explicou à RFI Brasil qual é a diferença entre tratar um usuário do crack e da cocaína. “A grande diferença é a socialização. Os dependentes da cocaína estão inseridos, em geral tem família e uma condição material mínima. Quando vêm se tratar, já existe um protocolo elaborado de tratamento, qua será discutido entre o médico e o paciente. Vamos nos interessar também aos problemas psiquiátricos associados”, diz.

O crack na França é utilizado na maioria das vezes por pessoas em situação de extrema precariedade, diz Laqueille, e que usam outras substâncias ao mesmo tempo, como a heroína por exemplo, ou ainda remédios como a metadona ou benzodiazepínicos. Essa característica do vício dificulta o tratamento, que no país é essencialmente ambulatorial e evita a hospitalização.

A política de combate à dependência ao uso de drogas existe desde os anos 70 na França. Atualmente existem os chamados Centros de Tratamento, Ajuda e Prevenção em Adictologia. Nesses locais, os usuários recebem tratamento específicos gratuitos e participam de consultas com uma equipe multidisciplinar, que inclui psiquiatras, enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais.

Os lugares são bastante frequentados e conhecidos pelos dependentes, porque oferecem o tratamento de substituição, principalmente para opiáceos, como a heroína, que é historicamente a substância mais consumida na França. As hospitalizações são raras, mesmo se elas existem. “O acompanhamento na França é feito principalmente em ambulatório, em consultas, com pacientes que vemos durante vários meses, e, às vezes, em hospitalizações”, diz.

Opção para quem recusa tratamento

Na maior do tempo, as internações ocorrem por complicações psiquiátricas e somáticas. O país também conta com centro de redução de riscos, para pacientes totalmente à margem da sociedade, que recusam o tratamento.

Ele lembra que, apesar da eficácia do sistema público francês, o tratamento da cocaína e do crack é complexo: “A medicação evoluiu no caso do álcool, do cigarro e dos opiáceos. Não temos nada para a cocaína”. Segundo o psiquiatra francês, tentativas são feitas com psicotrópicos de última geração. “Tentamos vários remédios, mas os tratamentos não são eficazes”, diz. O crack, declara, é ainda mais complicado porque seus consumidores cortaram todos os contatos sociais.

“É mais fácil curar um usuário de cocaína, porque sua personalidade é mais estruturada, do que alguém que crack, que em geral é muito instável, com um mental desorganizado”, finaliza.

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