São Paulo, a reacionária ???

Foi antes que o Brasil se declarasse oficialmente em crise mas creio que o cenário não deve ter mudado muito.

Trabalhando em Brasília, e morando em Indaiatuba, a 9 km do aeroporto de Viracopos, tem sido raras as oportunidades em que dou uma esticada até a capital. 

Como eu dizia, foi um pouco antes da  “crise”. Vinha de Indaiatuba de onibus pela Bandeirantes. A simples aproximação do morro do Jaraguá foi suficiente.  Mais uma vez, ouvi o ronco surdo da cidade que não para durante as 24 horas do dia.

Ia a São Paulo, em media, uma vez por mês. A cada visita a cidade me surpreendia. Quem for a São Paulo com olhos para ver, tenho certeza que ainda se surprenderá.

São os novos (e dezenas) de cafés tipo bistro parisiense que brotam do dia para a noite…

Pode ser na Vila Madalena, na região de Santana ou na nova Móoca onde antigamente o que se via eram galpões industriais.

A Móoca de hoje  está tomada de por edificios residenciais, apartamentos de quatro dormitório. Até outro dia era  um ponto ideal para lançamentos de aptos com duas, às vezes três, vagas na garagem.

E como os cafés tipo bistro, brotavam  também do dia para a noite, as academias de ginástica, os cursos de ingles, os supermercados e os templos maiores do consumo, os shopping center.

Do Morumbi aos extremo da antiga e proletária Zona Leste, a  cidade se contorcia  em congestionamentos, mas agora, com uma vantagem

São Paulo não pode ser repartida ao meio, entre ricos e pobres, como foi um dia no passado.

Certa vez, ainda nos anos 30, o velho conde Matarazzo subiu no então prédio mais alto da America do Latina, o hoje decadente Edifício Martinelli,  para mostrar São Paulo ao celebrado Fiorello La Guardia , prefeito de Nova York por três mandatos consecutivos, entre 1934 e 1945.

Como se tratavam em italiano, sua língua de origem, o Conde Matarazzo apontou na direção dos chamados “jardins” e disse: “Qui se mangia”.

Em seguida mostrou o lado da Penha e da Moóca, e completou: “Qui se lavora”.

Hoje, em São Paulo se mangia (se come) seja de que lado da cidade você olhar. E tambem se lavora (trabalha) olhando para a direita ou para esquerda.

Ou se preferirem, do alto do Martinelli olhando para baixo, no centro velho, verá uma da cidade que renova a cada vez que nasce o sol.

Isso não impede de voce encontrar, nos Twitteres e Facebooks da vida referências ao “conservadorismo” do morador dessa cidade.

Uma cidade que abriga, entre outras ousadias, a maior passeata gay do mundo, um cidade onde criminosos e bandidos estão em guerra declarada, se matando uns aos outros, onde grupos de viciados em crack se espalham, talvez espontaneamente ou por ordem de alguem, para muito além dos antigos limites da cracolândia.Uma cidade que tenta, desesperadamente, resolver seus problemas de mobilidade urbana experimentando ideias que deram certo em outras partes do planeta.

Um cidade entre aspas conservadora que é a capital nordestina do Brasil, que recebe gente de todos os continentes, inclusive milhares de nigerianos, com um bairro chines hoje ocupado por japoneses, enfim uma cidade de um vida intensa, que eu definiria, como estupenda nas suas contradições.

O que não impede a insistência em se reafirmar seu conservadorismo. Até o Mino Carta (isso eu ouvi) disse numa conferência que São Paulo era a cidade mais reacionária do Brasil. Minha longa convivência com o Mino me impediu de pedir  um aparte. 

Uma cidade onde edifícios com varanda e piscina estão literalmente debruçados sobre a maior favela do Brasil pode ser chamada de tudo, menos de reacionária.

São Paulo pode ter sido reacionária no passado. Hoje, é progressista, e é inevitável que seja cada vez mais progressista. Só então sua face verdadeira vai aparecer para poder, então,  ser adjetivada.

Querem um exemplo? O autor deste comentário é paulistano até a alma. Mas não admite ser chamado de conservador. Muito menos de reacionário.

***
Tão Gomes Pinto é jornalista e escritor. Atuou nos principais veículos da imprensa. 

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