O motivo pode estar conectado às origens do Homo sapiens, que surgiu na África há cerca de 200 mil anos em regiões de savana, isso é, um relevo caracterizado pela presença de vegetação baixa e pequenas árvores espalhadas – nada muito diferente de um parque urbano. É o chamado “Princípio da Savana”.
O psicólogo e linguista Steven Pinker, professor da Universidade de Harvard e autor do livro “Tábula Rasa”, que explora os aspectos inatos do ser humano, cunhou a teoria do Princípio da Savana. De acordo com ele, o cérebro humano evoluiu muito pouco desde a época em que vivia em savanas africanas, há milhares de anos.
De acordo com Pinker, e outros psicólogos evolucionistas, o cérebro humano teria dificuldade em lidar e compreender elementos e situações que não existiam no ambiente ancestral.
Um exemplo está neste estudo recente da Sociedade Britânica de Psicologia, que propõe “A Teoria da Savana da Felicidade” ao identificar que habitantes de áreas muito populosas tendem a se sentir mais insatisfeitos com a vida. “Nossos ancestrais viviam como caçadores em pequenos bandos de até 150 pessoas”, escreveram os pesquisadores.
Outros estudos falam sobre como nosso cérebro lida com estímulos antes inexistentes, como a televisão, de maneira a adaptar as reações biológicas àquelas que conhecemos da época de Homo sapiens.
Para Pinker, nosso corpo e cérebro sofreram milhões de anos de adaptação e evolução para viverem em uma savana, e isso impacta a maneira como experimentamos o mundo moderno, tão diferente desse ambiente. Ainda que seja possível contornar essas reações de maneira consciente, a reação química e biológica segue sendo a mesma.
Fundamentalmente, a savana – e isso também vale para cerrados e pradarias – tem elementos favoráveis para a sobrevivência do Homo sapiens como espécie selvagem. A ausência de montanhas permitem luz abundante, a vegetação baixa impede que os predadores espreitem e as poucas árvores garantem visão do horizonte e alimento.
Parece a descrição oposta de uma grande cidade, que exibe pouco verde, muros de concreto e horizonte bloqueado por prédios. Estudos mostram que os cérebros de indivíduos que vivem em grandes cidades não lidam tão bem com estresse quanto aqueles dos que vivem no campo.
Por Ana Freitas no Jornal NEXO.