Sete passos para cidades mais inteligentes

De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), uma cidade inteligente é aquela que coloca as pessoas no centro do seu desenvolvimento, incorporando tecnologias de informação e comunicação na gestão urbana e usando estes elementos como ferramentas para estimular a formação de um governo eficiente que inclua processos de planejamento colaborativo e participação cidadã.

Em outras palavras, cidades inteligentes são cidades responsivas, capazes de receber, processar e retornar informações e serviços eficientes. Cidades que falam, que questionam e que respondem, colocando o cidadão no centro de toda e qualquer iniciativa. Confira a seguir sete passos para cidades mais inteligentes.

1. Capacidade institucional

A base de qualquer cidade inteligente é sua capacidade institucional. Não existe cidade inteligente sem capital humano e estrutura administrativa eficiente. Continuidade de ações, inovação e confiança apenas são construídas por um corpo técnico diversificado, tanto em regime de contratação quanto em formação. Estrutura física também é importante. Não espere uma gestão eficiente se a prefeitura não tem telefone, internet e salas de reunião adequadas. Como a administração pública apenas faz o que a lei permite, iniciativas de inovação institucional são precedidas por previsão legal. A Lei precisa estar em constante modernização a fim de ser asas e não amarras ao Estado que a elaborou.

Você pode conferir o artigo do Banco Mundial que apresenta e analisa indicadores existentes para avaliação de capacidade institucional.

2. Capacidade de Gestão
Centro de Controle do Transmilenio S.A. A implantação de um centro integrado de controle foi fundamental para o fortalecimento institucional do sistema de transportes de Bogotá, na Colômbia. Foto: Bruno Ávila.

A demanda por soluções urbanas inovadoras movimenta o mercado. De pequenas startups a grandes multinacionais, todos querem vender produtos a municipalidades. Não há problema algum nisso, mas se a cidade ainda utiliza processos de papel que demoram dias para serem tramitados, como priorizar, por exemplo, o investimento em sensores de presença para iluminação pública? Chegamos então ao segundo passo para cidades inteligentes: melhorar sua capacidade de gestão. É difícil precisar o custo exato deste passo, mas a maior parte dele é o tempo. Tempo de trabalho de servidores, tempo de coordenação política, tempo de capacitação, tempo de ambientação. No Brasil, as soluções de tecnologia da informação desenvolvidas para o setor público se concentram no Portal do Software Público: de sistemas de tramitação de documentos a soluções para saneamento e geoprocessamento. Uma solução para a educação utilizada em Parauapebas (PA), por exemplo, já gerou economia de R$ 2 milhões.

Portal Fortaleza Online que simplificou os procedimentos para concessão de alvará de construção, licenciamento de atividades, dentre outros. A redução dos tempos de análise diminuiu a informalidade e multiplicou a arrecadação da prefeitura com essas taxas e serviços.

3. Capacidade de Coleta e Processamento de Informações

Campus da Universidade Nacional da Colômbia, em Bogotá. Foto: Bruno Ávila

“Não precisamos de softwares e aplicativos, apenas precisamos de ouvir as pessoas!” Tudo bem, mas quantas páginas de atas serão necessários para registrar tudo isso? A população das cidades cresceu, assim como a complexidade dos seus problemas e a diversidade de suas opiniões. Não podemos continuar baseando a participação cidadã apenas em audiências públicas frente à imensidão de formas de diálogo. Isso nos leva ao terceiro passo: capacidade de coleta e processamento de informações. Grandes cidades precisam de grande capacidade de coleta e gestão de dados. Ou seja, precisamos de processadores mais potentes? Claro, mas não apenas isso. Depois de estabelecida uma plataforma interativa e amigável de diálogo com a sociedade e, as informações coletadas precisam ser analisadas qualitativamente.

4. Monitoramento Ambiental

Os cidadãos conhecem os principais problemas enfrentados por sua cidade, mas isso não exclui a necessidade de observação técnica do ambiente físico. Chuvas, estrutura do solo, tráfego e vulnerabilidade a desastres precisam ser compreendidos eficientemente pela administração pública. Esse é o próximo passo: monitoramento ambiental. O clima está mudando, a natureza clama com intensidade os efeitos de séculos de ação antrópica e apenas cidades resilientes terão sucesso. As cidades precisam ter capacidade de prever, de observar e de responder às condições ambientais em tempo real. Por mais inesperados e complexos que sejam os fenômenos do ambiente urbano, a grande maioria deles deixa sinais. Todos os passos anteriores são necessários para que esses sinais sejam adequadamente lidos e respondidos com ações mitigadoras.

Projeto Monitoramento da Qualidade e Quantidade de Água da Microbacia do Córrego da Olaria, em Pindorama/SP. Foto: CC BY 2.0)

5. Gestão do Território

Compreender a cidade é um ato multidisciplinar que envolve profissionais de diversas áreas. Ainda assim, soluções para educação, saúde e gestão pública devem considerar que tudo em uma cidade acontece em um território. Mais um passo necessário para cidades inteligentes, portanto, é a gestão do território. Uma municipalidade eficiente deve ser capaz de gerir eficientemente o território onde ocorrem todos os fenômenos urbanos. Para isso, é preciso mapeá-lo, conhecê-lo, cadastrando suas parcelas territoriais públicas e privadas. Não tem como fugir de sistemas de informação geográfica acessíveis ao público e às diferentes entidades da administração. Equipamentos públicos de qualidade, mobilidade sustentável, espaços públicos, calçadas acessíveis, fachadas ativas… Não se engane, nada disso existe sem normas urbanísticas claras e aplicadas, um plano diretor com ações de longo prazo e controle urbano. O mercado imobiliário e o crescimento urbano deve ser gerido por uma administração em constante contato com a população e que garanta sempre o interesse público. Quando se fala de cidade, a soma dos interesses privados descoordenados não gera o bem comum.

6. Autonomia Financeira

Manter uma cidade inteligente tem um preço. Custa bem menos que uma cidade ineficiente, mas mesmo assim precisa de recursos. Por isso, é imprescindível a autonomia financeira. Quanto mais fontes de ingressos municipais estiverem fora do controle dos municípios, mais difícil será ter uma administração eficiente. A maioria das nações concede às municipalidades a capacidade de cobrar impostos de imóveis urbanos. “Não me diga que precisamos de impostos!” Sim, um sistema tributário com regras claras e socialmente justo na mão de um Estado eficiente e responsivo é capaz de transformar cidades. Quanto mais próxima a instância de administração de recursos públicos, mais fácil o controle social. Quando impostos se revertem ao bem comum, todos ganham e os cidadãos entendem a necessidade de cumprir também com seus deveres.


7. Liderança

Ação do Instituto COURB em praça de São Paulo. Foto: Mariana Fernandes

Todos queremos cidades inteligentes. Todos queremos cidades que tenham capacidade institucional, capacidade de gestão, capacidade de coleta e processamento de informações, que monitorem o seu ambiente, que consigam gerir seu território e que sejam financeiramente autônomas. No entanto, falta o último passo para cidades inteligentes que na verdade antecede todos os outros: liderança. Cidades nunca irão se reinventar sozinhas. Toda iniciativa de inovação precisa de alguém que coloque essa pauta no centro do debate municipal e que faça isso acontecer.

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Por Bruno Ávila do Courb via Arch Daily.

 

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