Sob o título ‘​Afinidades Afetivas’, ​33ª Bienal privilegia a experiência do público e dos artistas participantes  

O título não pretende direcionar a exposição tematicamente, mas caracteriza sua organização a partir de afinidades artísticas e culturais entre os envolvidos. Presença e atenção são as premissas dessa edição, numa reação a um mundo de verdades prontas, no qual a fragmentação da informação e a dificuldade de concentração levam à alienação e à passividade.  

Para esta edição, ao lado dos doze projetos individuais eleitos por Pérez-Barreiro, o curador-geral convidou sete artistas-curadores para conceber mostras coletivas com total liberdade na escolha dos artistas e seleção das obras – a única estipulação foi que incluíssem trabalhos de sua própria autoria.

Pela primeira vez, a Bienal de São Paulo elege um grupo de artistas brasileiros e internacionais para fazer a curadoria de exposições em uma edição

"Rodtchenko" de Waltercio Caldas. Foto: Divulgação.

Que a Bienal de São Paulo experimenta modelos disruptivos desde sua nenhuma novidade. Em 1961, no auge da Guerra Fria, o evento recebeu a delegação da União Soviética; em 1985, em vez de uma exposição formal, optou por colocar a maior parte das obras em três corredores de cem metros de extensão, lado a lado, formando uma grande tela. Em 2010, permitiu que Nuno Ramos soltasse dentro do prédio uma revoada de urubus como parte de sua instalação. Este mês, pela primeira vez, a Bienal vai romper com o modelo de curadoria centralizada e com temática única – essa é a proposta da 33ª edição do evento. “Um formato monotemático era surpreendente há 20 anos”, diz Gabriel Pérez-Barreiro, curador e diretor desta edição. “O que fiz foi trazer artistas para o centro do projeto, com autonomia de verdade, invertendo a relação curador-tema-artista.”

Estreando no comando da Bienal, o diretor da Coleção Patricia Phelps de Cisneros convidou sete artistas para conceberem suas próprias exposições dentro do evento. Mais que exibir seus trabalhos, deveriam atuar como curadores. “A única prerrogativa era que incluíssem obras suas dentro da seleção.”

"Sem título [Untitled]" - Feliciano Centurión, 1993. Foto: Oscar Balducci.

Alguns aproveitaram o desafio para criar novidades, outros reuniram uma seleção de produções existentes ou adaptações, como o veterano Waltercio Caldas, de 71 anos, o nome mais célebre entre os brasileiros escolhidos por Pérez-Barreiro. O artista conceitual, reconhecido pelo uso eclético de materiais em suas obras aqui e lá fora, conta que “quis fazer uma mostra cuja forma visual se assemelhasse a uma composição musical”, escolhendo obras mais obscuras de artistas do século 19 e do começo do 20, como o francês Victor Hugo (1802-1885) e o espanhol Jorge Oteiza (1908-2003), além de peças de própria autoria.

A fotógrafa paulista Sofia Borges, de 34 anos, a mais jovem entre todos os artistas curadores, já acumula grandes conquistas, como quatro indicações ao Prêmio Pipa. Em sua segunda participação na Bienal, ela optou por investigar os limites da representação da linguagem a partir da mitologia, “uma espécie de tragédia, mas não dramática nem teatral”, nas palavras da própria, que selecionou artistas femininas como a paulista Leda Catunda, expoente da Geração 80, e a inglesa Sarah Lucas, integrante da turma chamada nos anos 90 de Young British Artists.

Lucia Nogueira. Foto: Divulgação.

Conhecido por suas pinturas e colagens influenciadas pela literatura ocidental, Alejandro Cesarco é outro integrante na curadoria. O uruguaio escolheu artistas de três gerações diferentes que compartilham inquietações estéticas semelhantes às suas. Neste mix, entraram nomes consagrados como as americanas Sturtevant, ícone da apropriação na arte conceitual, e Louise Lawler, que, ao lado de Cindy Sherman, é uma das figuras mais famosas da Pictures Generation dos anos 70.

Mamma Andersson. Foto: Divulgação.

Os outros internacionais são todos estreantes no ofício e consideram a exibição um divisor de águas na carreira: “É uma oportunidade única para me arriscar”, defende a escultora argentina Claudia Fontes, que teve seu trabalho exposto na Documenta de 2012, e, ao lado do espanhol Antonio Ballester Moreno, faz seu début na curadoria, assim como Wura-Natasha Ogunji, americana radicada na Nigéria, que convidou outras cinco mulheres afrodescendentes para tratar de aspectos íntimos, como o corpo e a memória em suas obras feitas especialmente para a Bienal.

Aos 56 anos, a sueca Mamma Andersson vive o melhor momento de sua carreira e completa o line-up de artistas-curadores. A pintora,que representou seu país na Bienal de Veneza de 2003, exibe no Brasil um desdobramento da exposição Stargazer, que ficou em cartaz por cinco anos (desde 2013) em Estocolmo. “Será a maior representação da arte contemporânea da Suécia que o Brasil já viu”, adianta a artista.

Serviço

33ª Bienal de São Paulo – ​Afinidades afetivas.
Onde: Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera.
Quando: 7 de setembro a 9 de dezembro de 2018. 
Ter, qua, sex, dom e feriados: 9h – 19h (entrada até 18h). 
Qui, sáb: 9h – 22h (entrada até 21h) fechado às segundas /​ entrada gratuita. 
www.bienal.org.br 

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Com informações: Conteúdo Comunicação. Edição: São Paulo São.

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