Com paredes transparentes, pé direito alto, sem portas internas e um espaçoso pátio interno, a Casa Vilanova Artigas é um marco da arquitetura modernista brasileira que, desde março, abriu mão do caráter residencial mantido desde que foi erguida, em 1949, para se tornar um centro cultural com exposições, café e espaço de coworking.
A responsável por essa transformação foi a arquiteta Talita De Nardo, que foi aluna de Julio Artigas – filho do autor do projeto da casa. Era ele quem morava ali até que ela o convenceu a se mudar para uma residência anexa, a Casinha, também concebida pelo pai dele, abrindo aquele espaço à visitação.
“Criamos um projeto que visa a autossuficiência das atividades, com uma proposta de valorização do patrimônio”, diz ela, que tocou a iniciativa com recursos próprios prezando pelas características originais do imóvel e valorizando o paisagismo de Burle Marx, reorganizado por Luis Carlos Orsini.
A ideia é que a programação da Casa gire em torno de arte, design e arquitetura. A exposição de abertura foca no projeto inovador de Artigas, que instiga a convivência a partir de ambientes que se comunicam naturalmente entre si, com o mínimo possível de barreiras.
A próxima vai discutir a posição social da arquitetura a partir do projeto que ele fez para a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. A terceira exposição será uma individual de artes plásticas.
Um braço importante é o programa educativo, que funciona às segundas e terças, quando o espaço fica fechado ao público – Talita busca apoio para tornar essas ações gratuitas.
Por outro lado, o acesso geral para conhecer o espaço é gratuito, e a transparência que separa a casa da rua é um convite para os que passam na região descobrirem o que há ali dentro.
“Esta casa nunca teve problema de segurança. Quanto mais muros, mais você isola a sociedade e ela passa a não ter diálogo com o meio. É uma ideia de privado como público, e esse princípio é supermoderno”, defende Talita, que atua como gestora do Instituto mantenedor da Casa.
Quem foi Artigas?
Nascido em Curitiba em 1915, o arquiteto João Batista Vilanova Artigas foi autor de projetos marcantes na cidade de São Paulo.
Um deles é o do Estádio do Morumbi, casa do São Paulo Futebol Clube, tombado pelo patrimônio histórico da cidade. Outro é a atual sede da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, dentro da Cidade Universitária, da qual acabou se tornando professor.
Os dois prédios são exemplos da arquitetura brutalista defendida por Artigas, que preza pela comunicação entre ambientes a partir do concreto aparente, o que também barateava os custos das obras.
Outro projeto significativo é o Edifício Louveira, em Higienópolis, com duas torres de frente uma para a outra – um convite à aproximação entre os vizinhos.
Integrante do Partido Comunista Brasileiro, Artigas chegou a esconder perseguidos políticos em sua casa no Campo Belo. Ele mesmo acabou sendo exilado no Uruguai por um período durante a ditadura militar e foi impedido de atuar em sua área ao retornar ao Brasil.
Após a Anistia, em 1979, ele voltou a lecionar na FAU até sua morte, em 1985.
Serviço
Casa Vilanova Artigas
Rua Barão de Jaceguai, 1.151, Campo Belo, tel.: 11 3854-5636.
Visitação de qua. a sáb., das 10h às 17h.
Entrada grátis.
***
Por Amanda Queirós – Metro São Paulo.