O extermínio das linhas de bondes aconteceu gradualmente a partir dos anos 60 por interesses particulares e a visão imediatista dos nossos governantes. Entre os fatores, o desejo de que o carro se tornasse o transporte principal nas cidades brasileiras, a aposta no ônibus a diesel como “solução moderna” e alguns probleminhas técnicos dos bondes, que não recebiam investimento algum. Foi também nesse ano de 1968 que o metrô paulistano foi inaugurado, mas prosseguiu sem muita convicção.
Para o arquiteto e urbanista Ayrton Camargo e Silva, autor do livro “Tudo é Passageiro”, que conta a história do transporte sobre trilhos em São Paulo, “naquela época, o transporte coletivo saiu da agenda dos governantes. O país optou por uma industrialização a curto prazo e escolheu o automóvel como ponta de lança desse processo”.
O autor mostra que uma crise de abastecimento de energia ocorrida na década de 20 restringiu a circulação dos coletivos elétricos e quebrou o monopólio da Light, estimulando o surgimento dos ônibus movidos a combustível.
O famoso Plano de Avenidas do prefeito Prestes Maia, que direcionou pesados investimentos para obras viárias e serviu de base para a estruturação urbana em décadas posteriores, empurrou ainda mais os bondes para o esquecimento. Após anos de sucateamento, eles seriam finalmente extintos em 1968.
Foi o prefeito Prestes Maia quem decidiu pelo sucateamento dos bondes elétricos, mas a despedida aconteceu mesmo sob a gestão do prefeito Faria Lima, em 27 de março de 1968. Na despedida, que reuniu cinco mil pessoas e contou com banda, fogos e cantoria, a viagem derradeira ocorreu com os veículos cobertos por faixas onde se lia: “A Viagem do Adeus” e “Rendo-me ao progresso, viva São Paulo”.
Na contramão da mobilidade
Uma ironia, porque foi a partir desse dia, em que os trilhos foram enterrados nas ruas, que os congestionamentos começaram a crescer de forma exponencial em São Paulo e em outras cidades brasileiras. Na verdade, o país preferiu o caminho das estradas do que dos trilhos, indo na contramão dos países desenvolvidos.
Em Nova York e em várias cidades europeias o bonde tem sido resgatado de forma muito bem-sucedida. No Rio de Janeiro, o VLT Carioca, inaugurado em 2016, integra todos os meios de transporte do Centro e da Região Portuária – barcas, metrô, trem, ônibus, rodoviária, aeroporto, teleférico, terminal de cruzeiros marítimos – em uma rede de 28 km. Um alento para todos nós, que buscamos um sistema de transporte inteligente, sustentável, barato e eficiente. Precisamos pegar de volta o bonde da história e os trilhos urbanos para não ficarmos parados no atraso dos congestionamentos e da poluição infernal.
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Fonte: Metro Jornal.