Por Patrícia Curti.
Em 16 de abril de 2021, as amigas Bibi Fragelli e Patrícia Curti saíram perambulando à noite pelas calçadas de Higienópolis para testar uma invenção da estilista Bibi, criada para trazer um pouco de calor e aconchego a quem dorme nas calçadas. Um saco de dormir macio, impermeável e de baixa inflamabilidade, costurado com muito carinho e palpites, batizado pela Bibi de “Casulo” depois que ela viu um rapaz e uma moça grávida dormindo direto no cimento e pensou que seria possível unir duas peças para fazer um saco de casal. Ideia que provocou a reação entusiasmada de um outro par, Jonathan e Láisa ao testar os protótipos do produto e descobrir um espaço para abrigar seus amores.
A história foi lançada nas redes e logo conquistou muitos apoiadores. No dia seguinte Patrícia estava no Brás, comprando material para a Bibi fazer mais Casulos com as doações recebidas. Uma Equipe Casulo se formou quase que instantaneamente, trazendo o Renato Levi e a Claire Castellano, com suas ideias e o nome definitivo “Casulo pra rua”, a Yvone Furtado, que logo se converteu em organizadora e perpétua força motriz do movimento, e a Anastácia Ferreira, que virou a voz do Casulo nas redes e na relação com os doadores. Para testar o valor real da ideia, o Casulo foi levado ao Padre Júlio Lancelotti, que não apenas aprovou e se comprometeu a distribuir, mas também deu ao Casulo uma definição poética, comparando-o a um útero materno. Luciana Martins, da Ovo, além de apoiar de várias maneiras, criou uma cartilha com o passo a passo do Casulo, pra que o projeto pudesse correr mundo.
Rapidamente o Casulo ganhou milhares de seguidores nas redes, que passaram a colaborar das mais diversas formas: fazendo distribuição nas madrugadas, divulgando, palpitando, financiando. Entre eles estão Bia Ribeiro, Cris Pereira, Kiko Bresser, Plínio Targa, Renata Bueno, Alice Vergueiro, Renata Melo, Mari Ramos, Zilda Kessel, Fernando Patah, Malu Bresser, Teresa Bracher, família Rosenberg, Sylvia Figueiredo, Cibele Rozenfeld, Vivi Rocha, Graziela Azevedo, Telma Racy, a lista é infinita e não caberia aqui.
Muitos artistas enviaram suas obras pra estampar o Casulo (ideia que acabou adiada, mas ainda está em pauta), como Monique Deheinzelin, Caetano Patta, Mariana Ramos, Lucia Furtado, Luli Penna, com destaque especial para Annette Schwartsman, que não parou de fazer arte em prol do casulo desde então – e foi nomeada embaixadora do projeto.
Graças ao apoio de jornalistas, como Vicente Negrão, Mônica Nunes, Silvia Lourenço, Mara Gama, Sonia Racy, André Trigueiro, entre muitos outros, a história se espalhou nas mais diversas mídias. O projeto também recebeu apoio de entidades e empresas solidárias como a Archademy, o SESC, a Cruz Vermelha, a Cury Construtora e o Portal São Paulo São do Mauricio Machado.
A cartilha, distribuída gratuitamente, que explica como fazer e quais os materiais adequados, permitiu que a ideia fosse replicada e aprimorada em outras cidades do Brasil, como Curitiba, Brasília, Porto Alegre, e vários outros lugares em que o projeto está em gestação.
Com o serviço voluntário da SR Contábil, a associação foi formalizada e surgiu o “Instituto Casulo pra rua”, com CNPJ, conta bancária e nota fiscal. O time de costureiras e costureiros vem crescendo, de forma livre e inclusiva, refletindo o firme posicionamento da Equipe Casulo contra o preconceito e o retrocesso. Temos uma equipe bastante diversa que inclui cooperativas de mulheres de comunidades, coletivos de mulheres trans, pessoas egressas do sistema prisional e outros profissionais autônomos.
O produto tem chegado às mãos de quem precisa por meio de várias entidades e associações parceiras que fazem a diferença, de verdade, na vida das pessoas que vivem nas ruas de São Paulo: SP Invisível, Casa de Oração, Consultório na rua, Sefras, Banho pra Geral, ImpactAção, Humanday, Dando sopa, Tarefeiros da luz, Aquece São Paulo, Pão do povo da rua, É de lei, e FAPIB – Frente de Apoio aos Povos Indígenas Sudeste, são algumas delas.
Nessa trajetória o projeto conquistou dois reconhecimentos importantes: o prêmio Carrano de Luta Antimanicomial e Direitos Humanos e o Prêmio de Design na categoria utensílios do Museu da Casa Brasileira.
Milhares de Casulos foram produzidos e distribuídos durante o outono- inverno de 2021 – até este momento foram 4.217. No final do ano, quando o calor trouxe uma grande queda nas doações, o projeto ganhou fôlego graças a um financiamento coletivo organizado pela Benfeitoria.com, que lhe permitiu seguir produzindo, ainda que em baixas quantidades, sem desamparar completamente as costureiras e os usuários. O Casulo se mostrou útil não apenas para o frio, mas para a chuva, e continua a ser distribuído nas madrugadas paulistanas. Nesse meio tempo várias pessoas se dispuseram a ajudar oferecendo o projeto para empresas e entidades privadas, como uma possibilidade de ação na área de responsabilidade social.
Estamos exatamente neste ponto da nossa história. O frio está chegando outra vez e queremos saber se vamos poder contar com você. Qualquer valor ajuda, qualquer forma de apoio conta! Topa nos ajudar a continuar a escrever essa história?
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Edição: São Paulo São.