Pesquisa divulgada pela organização internacional de combate à pobreza ActionAid, em 2016, mostra que 86% das mulheres brasileiras ouvidas sofreram assédio em público em suas cidades.
Sabe-se que no Brasil, onde predomina uma cultura machista que culpabiliza a vítima, esse problema ganha novas proporções durante o carnaval.
Por isso, depois de lançar a campanha #CarnavalSemAssédio (também em 2016) com foco na “educação” de homens sobre a problemática do assédio, neste ano o coletivo concentra energia exclusivamente nas minas.
O manifesto do coletivo explica:
É sobre se meter numa briga para defender outra mulher. É sobre não concordar e lutar contra qualquer tipo de assédio, abuso ou tentativas. É sobre oferecer companhia. É sobre prestar ajuda, do jeito que for e pra quem for, principalmente quando se trata de outras mulheres.
A fim de facilitar ainda mais a adesão de mulheres de todo o Brasil ao movimento, o coletivo também publicou depoimentos de pessoas que foram impactadas de forma positiva por um gesto de sororidade – tanto no carnaval quanto em outras festividades.
Veja abaixo alguns deles:
Amigas me salvaram de caras que tentavam me beijar à força
“No Carnaval do ano passado, eu fui com uma amiga a um bloco de rua em São Paulo, durante a tarde. Lá encontramos mais outras meninas e começamos a beber. Depois de algum tempo, comecei a passar muito mal, de não conseguir parar em pé. Óbvio que chegaram babacas e tentaram me agarrar, me beijar a força.
Nisso, minhas amigas conseguiram me puxar, batendo neles, xingando, empurrando. Elas me levaram para um centro comercial e cuidaram de mim até eu conseguir voltar pra casa minimamente. Depois desse episódio eu passei a beber bem menos e a ficar muito mais ligada em festas e bares, infelizmente. Se eu tivesse sozinha nesse dia – ou até mesmo tivesse me perdido das minhas amigas – eu poderia ter sido estuprada. Dá muito medo pensar nessa possibilidade.” – Tami Rodrigues, 21 anos
Ela tirou a blusa dela e me deu
“Uma vez, numa festa, uma amiga estava fazendo aniversário, bebeu muito e começou a passar mal. Eu tive a brilhante ideia de colocar ela deitada no meu ombro, quando ela vomitou, sujando toda a minha blusa! Eu fui pro banheiro arrasada, porque significava fim de noite pra todo mundo.
Comecei a lavar minha camiseta, desesperada, e estava frio demais. Eis que surge uma moça, tira a blusa dela – nunca vou esquecer -, uma blusinha cinza de gola alta com manga comprida, e me dá. Depois, ela fechou o casaco dela e foi embora. Foi a anja da minha noite!” – Letícia Maia, 24 anos
Eu meti a colher, sim
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Por Amauri Terto no Huffington Post Brasil.
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A origem da palavra sororidade está no latim sóror, que significa “irmãs”. Este termo pode ser considerado a versão feminina da fraternidade, que se originou a partir do prefixo frater, que quer dizer “irmão”.
Sororidade é a união e aliança entre mulheres, baseado na empatia e companheirismo, em busca de alcançar objetivos em comum. O conceito da sororidade está fortemente presente no feminismo, sendo definido como um aspecto de dimensão ética, política e prática deste movimento de igualdade entre os gêneros.