Vamos pedalar?

Realmente o planeta está sobre duas rodas de uma bicicleta. Em vários países, as ações pós-pandemia na mobilidade urbana incluem a valorização do modal, recomendado pela OMS como o mais indicado após a quarentena. Afinal, mantém a distância necessária entre as pessoas nessa fase, evita as aglomerações do transporte público e ainda por cima mantém a economia em dia e o corpo com saúde.

Um caso exemplar é a França. O governo francês divulgou um pacote de 20 milhões de euros para estimular o ciclismo após o confinamento, incluindo um subsídio de 50 euros para reparos ou ajustes de bicicletas. 

Em Paris, a prefeita Anne Hidalgo, reeleita em março com a proposta de investir em mobilidade urbana sustentável e ativa (e assim reduzir a poluição, alta na cidade), vem anunciando várias medidas. Uma delas é a bolsa de 55 euros (336 reais) para quem vai de bicicleta ao trabalho. Hidalgo também eliminou vagas de estacionamento para dar espaço a ciclistas e pedestres e anunciou a reforma de 50 km de faixas usadas por carros, que estão virando ciclofaixas. Mas seu plano de longo prazo tem mais fôlego: ela quer aumentar a rede cicloviária da capital francesa, que já conta com 800 quilômetros de ciclovias, para 1,5 mil km. São Paulo, que tem uma das maiores malhas do Brasil, conta com 500 km de ciclovias.

Itália é outro país que abre espaço para a saúde e o bem-estar. Está concedendo bônus de até 500 euros (cerca de R$ 3,1 mil) para ajudar os moradores de cidades com mais de 50 mil habitantes a comprarem uma bicicleta. A medida, que também se aplica a modais elétricos como bikes, patinetes e scooters, será válida até o final de 2020. Milão, especialmente atingida pela Covid-19, trabalha na conversão de 35 quilômetros de ruas para ciclovias e calçadas mais largas.

Na América do Sul, nossa vizinha Bogotá é símbolo de uma grande transformação sustentável na mobilidade por causa de sua prefeita, Cláudia Lopez. Para evitar o colapso do sistema de saúde, ela vem implantando ciclovias desde o início do isolamento, em março. “A cidade já sofre com má qualidade do ar, doenças respiratórias sazonais e agora o coronavírus. Esses três fatores podem causar uma corrida aos hospitais, além dos acidentes de trânsito. Por isso estamos valorizando a bicicleta e o caminhar”, sabiamente declarou.

Uma das novas ciclovias temporárias em Berlim, que foram ampliadas para permitir que os ciclistas mantenham distância ao trafegar. Foto: Annegret Hilse / Reuters.

Outros países, como Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Espanha e mesmo nos Estados Unidos, há um esforço conjunto do poder público, de empresas e da sociedade para ampliar o espaço para ciclistas e pedestres, reduzir o uso do carro a combustão e evitar as aglomerações no transporte coletivo. 

Londres, por exemplo, está concedendo acesso gratuito a bicicletas elétricas aos profissionais de saúde em serviço na cidade.

Já o Brasil se mantém na contramão nesse setor. Não anunciou a construção de sequer um quilômetro de ciclovia ou de alargamento de calçadas. Prossegue com a política voltada exclusivamente para os carros. Segundo Marcio Canzian, CEO da Eletricz, especializada em monociclos e outros modais elétricos, outro problema que atrapalha bastante aqui é o IPI (Imposto de Produtos Industrializados), que cobra 35% para bicicletas e modais leves elétricos e 10% para as bikes convencionais. “Isso é um absurdo, pois dificulta o uso para a população”, diz Canzian. “Além da importância de linhas de crédito para financiamento, é essencial que se reduza essa carga tributária. Como esses modais em geral dependem de componentes essencialmente importados, portanto sem competição direta de fabricantes nacionais, este também é um fator a favor da redução dos impostos. Na verdade, penso que deveria ser zero imposto, pois as vantagens em termos de saúde física e mental, sustentabilidade e economia financeira são muitas. 

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Artigo assinado pelo Pro Coletivo, blog parceiro de conteúdo, especializado em assuntos da multimodalidade. 

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