‘Visão Zero’: São Paulo prepara seu plano para diminuir as mortes no trânsito

Estocolmo lançou a ideia, na década de 90. Cidades européias e americanas a seguiram. No ano passado, Bogotá e Buenos Aires lançaram seus planos de Visão Zero.

Desenho de uma rua Visão Zero: rua arterial bidirecional. Imagem: Vision Zero Streets.

Os princípios são muito simples: o ser humano é falível. Humanos bebem e dirigem. Humanos olham para o celular na hora de frear. Humanos também não conseguem ver o carro em alta velocidade quando atravessam a rua. Portanto, o Visão Zero busca criar condições para que, mesmo em caso de erros humanos, as condições das vias, as velocidades, a sinalização, tudo conspire para que não haja consequências graves. O outro princípio é básico também: todos são responsáveis pela segurança – quem planeja as ruas, quem fiscaliza o trânsito, quem dirige.

Sinais de ruas para travessias de pedestres estão em todo lugar em Estocolmo. Foto: Jason Margolis

Por isso, quando as cidades lançam um plano de Visão Zero, elas se comprometem a controlar  obsessivamente todas as variáveis que podem reduzir as mortes e os acidentes no trânsito. Elas abaixam os limites de velocidade,  redesenham as ruas, cuidam dos trajetos dos pedestres, revêem sinalização, fazem campanhas educativas e multam motoristas imprudentes.

Proteção a pedestres na Cidade do México. Foto WRI

São Paulo deve ter um novo Plano de Segurança Viário no início do ano que vem, que esteve aberto para consulta pública e que deve incorporar esses princípios. Essa é uma ótima notícia e precisa ser acompanhada, incentivada e cobrada, claro.

Sergio Eduardo Martinez Jaimes, da Secretaria de Mobilidade de Bogotá, apresentando as premissas do 'Vision Zero'.Conversei no evento como um dos responsáveis pelo programa Vision Zero, de Bogotá, Sergio Martinez e perguntei qual é o principal fator de sucesso para esse tipo de plano. Ele foi categórico: “o papel da liderança é fundamental”.

Ou seja, se há movimentos da sociedade, de  baixo para cima pedindo que paremos as mortes no trânsito, existe um movimento de cima para baixo, que parte do prefeito e que se espalha por todos os órgãos da administração para garantir a implantação.

Sem isso, dificilmente a administração vai ter força e foco para conseguir controlar tantas variáveis que são necessárias para que um programa desse dê certo – e para as reclamações sobre multas e redução de velocidade. No caso de Bogotá, o aval e o envolvimento do prefeito Enrique Peñalosa, conhecido no mundo todo por advogar por uma cidade mais humana, mais caminhável e mais segura, foi fundamental.

Em São Paulo, apesar do pouco tempo do prefeito na nova função, é alvissareiro que essa administração esteja dando um passo tão importante em direção a uma cidade mais segura. Hoje, ele assinou um termo para a criação de um grupo que vai começar a redesenhar ruas da cidade, seguindo os parâmetros propostos pelo Guia Global de Desenho de Ruas, lançado na semana passada e ainda anunciou um novo sistema de controle de dados de mortes nos trânsito.

Vamos acompanhar esses próximos meses, em que vão ser consolidadas as contribuições ao Plano de Segurança Viária, para conhecer a proposta que será feita em fevereiro.

Faixa exclusiva para pedestres na Av. Liberdade, no centro de São Paulo. Foto: João Gunal.

Que ela contemple um processo contínuo, de melhoria de ruas, calçadas, desenho urbano, educação de motoristas, velocidades. Que ela seja um compromisso que envolva todos os órgãos da administração. E que vá além de uma gestão e vire de fato um plano de governo.

Haverá resistências, é claro, mas é de se esperar que um trabalho que  ajude a reduzir ou eliminar o absurdo número de 797 mortes no trânsito por ano em São Paulo vai valer a pena.

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Mauro Calliari é administrador de empresas, mestre em urbanismo e consultor organizacional. Artigo publicado originalmente no seu blog Caminhadas Urbanas.

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