Diversos grupos, principalmente aqueles que usam a palavra como expressão: poetas, rappers, cordelistas, teatro e coral preencheram o fim-de-semana, tarde e noite de São Mateus (zona leste de São Paulo).
Moradores e visitantes interessados e participativos nas diversas atividades que reverberavam a vida cotidiana da galera da quebrada através da arte.
Demandas do Coletivo Sarau Maria Sem-Vergonha cobraram o direito das mulheres de serem o que quiserem na opção sexual, no vestuário e na atitude.
Poetas da vizinhança recitavam suas pequenas poesias avaliadas por um júri que mostrava o voto em uma lousa.
Cordelistas homenagearam a escritora Carolina de Jesus, autora do livro “Quarto de Despejo” e “Diário de Uma Favelada”.
A Cia Mala Caixeta de Teatro Surpresa, envolvida na criação de espetáculos/intervenções contemporâneas do teatro de objetos e teatro em miniatura, levou três pequenas instalações, semelhantes às máquinas fotográficas dos antigos fotógrafos lambe-lambe. O narrador, sob um pano preto cobrindo cabeça e ombros, manipulava o micro-cenário inspirado no livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos. A apresentação — individual — durava 3 minutos.
Na sala de múltiplos usos no piso superior da comunidade São Mateus em Movimento — fundada em 2008 — , o coral usava sons corporais na interpretação de músicas da idade média, gospel e criações contemporâneas, como o Canto de Osanha.
O Coletivo de Galochas, “um grupo de guerrilha teatral que apoia diferentes movimentos sociais, com foco em ocupações de moradia”, na definição de Antonio Herci, um dos criadores do coletivo, levou a “Revolução das Galochas”. A obra debate o consumo, o trabalho e o controle. Em onze pequenos atos contra o capitalismo, criticaram o jugo escravista do esquema, a violência do estado contra os negros e a autoridade caricata e cruel dos policiais.
A quebrada está ligada!
Texto e fotos de Juvenal Pereira, especial para os Jornalistas Livres.