Esse é o caso dos brinquedos infantis, que acabam de ganhar destaque com a publicação, pela Editora da USP (Edusp), de Brinquedos de Lata Metalma – Objetos da Infância na Industrialização Paulistana, 1930-1950, de Ludmila Érica Cambusano de Souza. Com a obra, a autora se insere numa tradição de estudos sobre brinquedos e jogos que vai além de Huizinga, passando por autores do naipe de Walter Benjamin, Roland Barthes, Gilles Brougère e Robert Jaulin.
Resultado da dissertação de mestrado de Ludmila, feita no Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, o volume investiga a produção e o consumo de brinquedos industrializados na cidade de São Paulo. O enfoque, como o título indica, é nas criações e na trajetória da Metalma – Metalúrgica Matarazzo S.A., empresa que se destacou na capital paulista.
“Trenzinhos, casinhas de boneca, aviões e hangares, baldes e pazinhas para praia e parque, carrinhos, caminhõezinhos, coelhinhos com carrinho porta-ovos de Páscoa, telefones, piões, panelinhas, fogõezinhos, regadores são alguns exemplos da variedade produzida pela Metalúrgica Matarazzo S.A. entre 1933 (quando passou a ter esse nome) e os anos de 1950”, escreve Ludmila.
As três décadas abordadas no livro correspondem ao início da produção de brinquedos feitos de folha de flandres (a matéria-prima popularmente conhecida como lata) pela Matarazzo até seu auge. No começo da década de 1960, conforme a autora explica na obra, a Metalma transferiria a produção para sua filial em Minas Gerais, substituindo gradativamente a folha de flandres pelo plástico na composição dos brinquedos. Ao mesmo tempo, os acionistas da empresa passariam a priorizar a produção de outros bens, como embalagens para alimentos e latas de bebidas.
Ludmila foi buscar material para a pesquisa em diversas fontes. Uma parte veio de publicações oficiais, jornais, revistas e catálogos da época. Outra, que revela sua preferência pela história da cultura material, veio de coleções de brinquedos de particulares, de descendentes da família Matarazzo e do Serviço de Objetos do Museu Paulista (MP) da USP.
“Coleções significativas de brinquedos de diferentes épocas já integram há tempos o acervo de importantes instituições estrangeiras”, escreve a autora, justificando a presença dessas peças no MP, “como o Musée des Arts Décoratifs, em Paris, o National Museum of American History, em Washington, o Museum of the City of New York, o Deustches Historisches Musem, sediado em Berlim, o Victoria & Albert Museum of Childhood, em Londres, o Museu do Brinquedo/Fundação Arbués Moreira, localizado na cidade de Sintra, Portugal, e o Museu de la Ciudad, em Buenos Aires”.
Na análise dos brinquedos e da publicidade veiculada sobre eles, Ludmila identifica os valores da sociedade paulista do período. Nacionalismo, modernidade, progresso, pujança industrial e valorização do produto nacional emergem entre tanquinhos de guerra, locomotivas e casinhas, na tentativa de mostrar a equivalência ou a superioridade do brinquedo brasileiro em relação ao estrangeiro.
A autora encontra espaço ainda para um mapeamento das principais lojas e fábricas de brinquedos da cidade de São Paulo na primeira
“O brinquedo pode ser visto como documento cultural repleto de significados no âmbito da história, assim como em sua condição de patrimônio da industrialização paulistana e, dessa maneira, justifica-se a sua presença como item fundamental em acervos de museus históricos”, aponta Ludmila.
Brinquedos de Lata Metalma – Objetos da Infância na Industrialização Paulistana, 1930-1950, de Ludmila Érica Cambusano de Souza, Editora da USP (Edusp), 336 páginas, R$ 90,00.
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Por Luiz Prado no Jornal da USP.