Governo de São Paulo anuncia ciclovia de 57 quilômetros ligando capital e interior

Ciclovia terá traçado independente da rodovia e se integrará ao sistema cicloviário da capital paulista. Foto: Rovena Rosa / Agência Brasil

Fonte: Agência Brasil.

O governo do estado de São Paulo anunciou na última quinta-feira (10) o lançamento do projeto da primeira ciclovia de longa distância em rodovia no Brasil, a Ciclovia dos Bandeirantes, que se estenderá, pela rodovia dos Bandeirantes (SP-348), da capital paulista até a cidade de Itupeva (SP). 

Ilustração: ARTESP.

A estrutura terá aproximadamente 57 quilômetros de extensão. São três meses, a partir desta semana, para ajustar projetos e licenças. Depois, 18 meses de obras. A previsão para conclusão de todo esse processo é de até 21 meses. 

A ciclovia, que tem valor estimado total de R$ 219 milhões, será totalmente segregada da rodovia, com utilização do canteiro central e do gramado lateral. As intervenções incluem novos elementos de segurança, acesso controlado de entrada e saída, pontos de apoio, barreiras rígidas e novas sinalizações. A estrutura será instalada entre os quilômetros 14 e 71 da Rodovia dos Bandeirantes.

Imagem: ARTESP.

O projeto prevê ainda a instalação de seis passarelas para transposição na rodovia – que permitirão que o ciclista possa acessar a ciclovia sem a necessidade de atravessar a rodovia. De acordo com a Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp), os recursos e a execução das obras da nova ciclovia ficarão a cargo da concessionária CCR AutoBan.

Segundo o governo, o objetivo da iniciativa é melhorar a mobilidade entre a região metropolitana de São Paulo, região metropolitana de Jundiaí e demais municípios às margens das rodovias Bandeirantes e Anhanguera, permitindo a utilização da bicicleta em deslocamentos de trabalho, esporte, lazer e turismo.

Críticas

Daniel Guth, pesquisador em políticas de mobilidade urbana, mestre em urbanismo pelo PROURB/UFRJ e diretor Executivo da Aliança Bike fez críticas ao projeto em seu Twitter:

1) Ciclovias de canteiro central devem ser exceção e não regra. São comuns pq é o espaço q sobrou e ainda não foi ocupado por carros, mas vários problemas surgem: como as pessoas vão acessar a ciclovia? Comosairão dela? Como fica a segurança já q ciclistas ficarão encurralados?

2) Alguém noticiou q serão feitas 7 passarelas. Oras, isso dá +8km entre passarelas. Na prática, ciclistas como meio de transportes vão preferir continuar no acostamento. Corre-se o risco de ter q pedalar 16km adicionais só pra atravessar a rodovia.

3) O projeto está mimetizando a ciclovia do Rio Pinheiros, só q em contextos, locais e características diferentes. Uma coisa é curtir (mesmo q treinando) às margens de um rio DENTRO da cidade. Outra é estar encurralado entre faixas de uma mega rodovia em local árido.

4) O projeto claramente está desenhado pro ciclismo de estrada. Óbvio q estes ciclistas PRECISAM de uma boa infraestrutura, mas a demanda é urgente p/ TODOS OS USOS (mobilidade, turismo, logística, etc). Não atender outros usos é um erro grave. Ainda + numa rodovia violentíssima.

5) Pq lançar esse projeto a menos de 1 mês de se licenciar do governo estadual, depois de ter ficado mais de 3 anos no cargo e não ter feito NENHUMA ciclovia? O nome disso a gente sabe.

6) O Governo de SP tem um histórico de VÁRIAS ciclovias anunciadas e nunca realizadas. Segue um exemplo: Ciclovia na região metropolitana (anunciada em 2012), ligando Mogi, Guarulhos, Poá, Ferraz de Vasconcelos e Suzano. Era pra 2014. Risos.

7) Li em alguma matéria q a ciclovia terá “controle de acesso”. Isso significa o que? Horário de funcionamento? Revista? Sendo uma estrutura em uma rodovia, ela deve seguir o Código de Trânsito Brasileiro. Controle de acesso é claramente uma afronta ao uso público.

8) Por fim, outras questões pontuais não menos importantes: a) Se construída, a Autoban vai limpar a ciclovia todos os dias? Isso porque todo lixo da rodovia vai se acumular ali – pedaços de pneus, garrafas, farelo de asfalto. b) Terá iluminação? c) Se alguém tiver um problema mecânico e precisar ser resgatado de veículo motorizado, ela só sairá da ciclovia num helicoptero? d) Caso aconteça uma queda, como o atendimento médico chega na ciclovia? Voando? As passarelas comportarão?

9) Final: rodovias não têm acesso direto ao lote, o q significa q não é complexo fazer uma ciclovia segregada na margem direita. Existe um movimento MARAVILHOSO na Europa chamado CHIPS (“Cycle Highways”), c/ cadernos técnicos impecáveis. É ler e adaptar: https://ecf.com/projects/past-projects/chips

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Edição: São Paulo São.

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