A morte de Marina, ativista e pesquisadora dos temas do feminismo, mobilidade ativa e da cidade é uma perda inestimável, criminosa, e não pode ser em vão. Uma cidade que mata, onde o corpo e a vida não tem nenhum significado, não pode mais ser tolerada. Marina foi morta enquanto lutava. Pois sua luta não se separava da sua vida, do seu corpo em movimento de bicicleta pela cidade. E perdemos, junto com a ativista, uma companheira de vida, da vida que ela nos ajudava a enfrentar com novos olhos.
Nossa melhor forma de homenagear a Marina é reafirmar nosso compromisso com a luta por cidades que protejam a vida.
Marina, sempre brilhante no que escrevia e fazia, seguirá presente em nossos pensamentos e ações, na concretude de suas palavras ao afirmar que para construir cidades mais justas e democráticas as percepções, emoções e afetos que moldam nosso relacionamento com a cidade devem moldar um novo urbanismo.
O Cidade Ativa também lamenta a morte da cicloativista em texto com o título “Marina, um mundo inteiro.”
Cicloativista, feminista, pesquisadora, consultora. Amiga, inspiradora, carismática, contagiante… São muitas as formas de tentar definir Marina Harkot.
A verdade é que Marina era um mundo inteiro.
E o mundo inteiro cabia dentro dela. Ela era FFLCH, era FAU-USP. Ela era LabCidade. Ela ela Ciclocidade. Ela era Escola da Cidade, Banco Mundial, CMTT, Escola de Ativismo, Risco arquitetura urbana, Ape… E Cidade Ativa. Ela ocupava e transformava tantos espaços quanto possíveis (de preferência ao mesmo tempo). Ela nos instigava a refletir sobre outras formas de pensar, fazer e viver cidades.
Nós tivemos a sorte e a honra da Marina ter abraçado a Cidade Ativa, lá em um 2014, quando todo um mundo de pesquisas e ativismos se abria para nós. Por aqui, ficará para sempre não só a lembrança, mas a marca que ela deixou em nossa história, em nossos processos, em nossas ferramentas de leitura, interpretação e transformação dos espaços da cidade; em nossos hábitos, em nossas atitudes.
A verdade é que Marina era mais do que todos os substantivos e adjetivos que podemos listar para tentar explicar o que ela significou pra gente, dentro e fora da Cidade Ativa.
Ela era verbo, ação, movimento.
Ontem, dia 8 de novembro de 2020, ficamos profundamente tristes e abaladas com a sua morte. Sentidas e indignadas com o comportamento do motorista que não somente a atropelou, mas como não parou para socorrê-la. Indignadas com a insegurança em nossas ruas, que ainda matam milhares de pessoas todos os anos. Indignadas quando olhamos ao nosso redor e vemos que, apesar de todos nossos esforços, ainda temos políticos e políticas que desprezam vidas.
Aqui, dizemos que nós somos Cidade Ativa, e a Cidade Ativa é um pouco de cada uma de nós. Um pedacinho nosso parte junto com a partida da Marina. E o vazio que fica vamos preencher não com luto, mas luta – por cidades mais ativas, cicláveis, inclusivas e seguras para todas e todos. Sua voz e presença seguirão conosco.
Marina, sua passagem por esse mundo não foi em vão. Que sua causa, sua garra, seu movimento continuem se multiplicando por nossas cidades e em cada uma de nós.
Nota: A jovem Marina Kohler Harkot, de 28 anos, trafegava pela avenida Paulo VI, Zona Oeste de São Paulo quando foi atingida por veículo.
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O São Paulo São lamenta com pesar a morte da jovem Marina e se solidariza com os seus familiares e amigos. Obrigado Marina, você fez diferença e ajudou a cidade a ser mais humana.