Uma utopia para pedestres: a ‘cidades de 15 minutos’

Imagem: Paris en Commun.

Parcialmente inspirado no trabalho de Jane Jacobs, que via os bairros como conectores sociais, a ideia por trás das cidades de 15 minutos foi desenvolvida por Carlos Moreno, um professor da Sorbonne que visava melhorar a qualidade de vida urbana. Com a “hiper proximidade” de equipamentos, empregos, serviços governamentais, parques públicos, comércio e uma variedade de opções de entretenimento, acessados apenas de bicicleta ou a pé, o conceito repensa como as cidades podem ser melhor projetadas de forma a atender às necessidades básicas dos habitantes. Dentro deste pequeno raio, a partir de suas casas, comunidades mais fortes serão criadas, permitindo que os moradores se sintam mais incluídos nos comércios e serviços de sua região.

Embora a cidade de 15 minutos possa parecer uma utopia distante, muitos gestores públicos ao redor do mundo já estão começando a dar uma nova identidade aos seus núcleos urbanos, a partir de um melhor planejamento da cidade, com a descentralização de serviços, bens, e novas leis de zoneamento, que retiram os carros das ruas e abrem espaço para os pedestres e ciclistas. Uma cidade que está liderando essa estratégia urbana é Paris, sob a liderança de sua prefeita, Anne Hidalgo. Tal objetivo foi um dos pilares de sua campanha política à bem-sucedida reeleição. Seu intuito é incentivar o desenvolvimento de comunidades autossuficientes em cada distrito de Paris. Batizada de “cidade de 15 minutos” (“ville de quart d’heure”), o objetivo é transformar a capital, em bairros mais eficientes, para reduzir a poluição e criar áreas social e economicamente diversas. Ao revelar esse plano, Hidalgo insistiu que esse esforço de revitalização também incorporaria outras estratégias – incluindo uma força policial desarmada de 5.000 pessoas, um compromisso maciço de plantar mais árvores e multas pesadas por comportamento não civis, como jogar lixo em locais inadequados. Mais notavelmente, ela afirmou que deseja continuar a promover a circulação de pedestres na capital, estabelecendo uma ciclovia em todas as ruas, nos próximos três anos – ao mesmo tempo, em que retirará 60.000 vagas de estacionamento para veículos.

Ao lado de Paris, Melbourne também criou sua própria versão, com bairros de 20 minutos, isto é, locais onde tudo está dentro de um trajeto de 20 minutos. Copenhague, talvez um exemplo mais conhecido, centralizou seu senso de urbanismo em torno da dependência de bicicletas com uma camada de proximidade de lugares desejáveis. Atualmente, até as cidades americanas estão explorando mais de perto esse método, especialmente com as lições aprendidas e a autorreflexão da pandemia de COVID-19. Em um momento em que as pessoas costumam passar de 1 a 2 horas por dia apenas se deslocando para o trabalho através de meios de transporte privativos, há um foco maior em devolver as ruas às pessoas, encontrando maneiras de reduzir a forte dependência de carros e recriar um senso de vizinhança, que diminuiu com o aumento da expansão urbana. A empresa Here Technologies criou um mapa interativo que mostra quais cidades já estão inclinando a atender esta escala, e ficarem mais alinhadas com os objetivos da cidade de 15 minutos. Embora alguns bairros já possam ser percorridos a pé, provavelmente muitos mais se moverão nessa direção conforme os urbanistas e gestores começarem a aplicar essa estratégia para desenvolver seus próprios conceitos de cidade do futuro.

Na próxima vez que você viajar 30 minutos de carro para o shopping, considere o tempo que você economizaria e a qualidade de vida aprimorada que você teria, se o local estivesse a apenas 15 minutos de bicicleta de distância. A cidade de 15 minutos não é apenas uma tendência urbana, mas uma estratégia de projeto altamente viável, que em breve poderá chegar a uma cidade perto de você.

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Este artigo é parte do Tópico do ArchDaily: O Futuro das Cidades. Escrito por Kaley Overstreet.Traduzido por Rafaella Bisineli

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