Materiais, em tonalidades claras, selecionados para confecção das peças, como metais brancos, vidros transparentes e espelhos, convidam à uma observação atenta a qual busca induzir . Como um adicional à mostra, estão sendo desenvolvidas ações de “Silêncio Compartilhado” em que a artista compartilha um tempo silencioso com o público, além de uma experiência sensorial do silencio através de um vídeo e de esculturas tácteis.
A essência primária da exposição busca resgatar o aspecto ‘xamânico’ da arte, que sugere um encontro com o sagrado. Silencio propõe uma reflexão individual, “uma ação e também uma não-ação, num mundo onde o ruído é a tônica”, declara a artista.
O gesto construtivo é mínimo, potencializando os materiais e o espaço. É um gesto sem palavras, cujo tema é preponderante na seleção dos materiais que sugerem a composição. Habituada a trabalhar com materiais preciosos, Elisa Stecca escolhe o silêncio como elemento valioso, fundamental, como uma maneira de introspecção e possibilidade de acessar níveis não usuais da percepção e espiritualidade.
“Proponho um momento de introspecção, de reflexão, de meditação. Um segundo no tempo/espaço, uma oportunidade de acesso ao profundo, ao sagrado,” diz Elisa Stecca
O silencio leva ao sagrado?
Elisa Stecca responde com exclusividade as perguntas do seu marido, Paulo Tadeu, jornalista, publicitário e publisher da Editora Matrix, a pedido do São Paulo São. Acompanhe:
Sua arte é moderna, em total contraste às peças seculares do museu onde está exposta. O que isso ensina aos visitantes?
Meu trabalho dá continuidade ao acervo do museu, algo que chamo de “arte-sacra contemporânea”. Minhas peças convidam à introspecção, à reflexão, à transcendência e ao encontro com o divino intrínseco em todos nós, o que é algo que as pessoas buscam eventualmente ao se ajoelharem frente a uma imagem de santo, por exemplo.
Meu desejo maior é acolher aquele que se propuser a silenciar e sentir , dentro da minha acepção de espiritualidade que é o exercício do contentamento, da gratidão e da alegria e, nesse sentido, difere da arte-sacra barroca que busca expiação através da culpa e do sofrimento baseados na profunda e arraigada idéia de pecado.
As formas abstratas das minhas peças também funcionam como um silêncio em meio ao figurativo do museu e assim, fazem música, conversam, sem hierarquia.
Quais os grandes mestres do silêncio que lhe inspiram?
O silêncio que procuro representar plasticamente, não é a ausência de sons, mas, o silêncio que precede o Big-bang, o silêncio do Genesis, o Princípio, o Verbo, cheio de potência e de todas as possibilidades e, nesse sentido, não tenho nenhuma referência. Minha referência como discurso amoroso e simples é o mestre dos mestres, Jesus Cristo e suas palavras ditas e também não ditas.
A exposição se chama “Silencio”, primeira pessoa do singular. Isso está ligado a uma atitude, portanto. Qual ação você busca das pessoas?
Minha intenção genuína é acolher o espectador que se sensibilizar com a proposta de refletir, de conectar-se, de transcender. Assim, a atitude que busco nas pessoas é permitir-se.
O que o trabalho de designer de joias tem a ensinar à artista plástica?
Não me considero uma designer de jóias propriamente dita, à medida que a joalheria para mim é uma linguagem para comunicar uma idéia e não um fim em sí mesma. Acredito que artista-joalheira seja mais adequado, uma vez que meus temas são apoios no corpo e no espaço, materiais, mensagem e conteúdo, geralmente campos da escultura.
Por outro lado, o acabamento primoroso, a técnica refinada, uso de materiais nobres, são fundamentais aqui para realização da idéia de preciosismo, da jóia que somos e da lapidação e polimento que podemos nos dar continuamente.
Dessa forma, a artista e a joalheira se ensinam e aprendem o tempo todo.
Serviço
Exposição: “Silencio”
Artista: Elisa Stecca.
Curadoria: Paula Alzugaray.
Período: até 25 de junho de 2017.
Local: Museu de Arte Sacra de São Paulo – www.museuartesacra.org.br
Avenida Tiradentes, 676 – Luz, São Paulo.
Tel.: (11) 3326.5393 – agendamento/ educativo para visitas monitoradas.
Horário:Terça a domingo, das 9h às 17h.
Ingresso: R$ 6,00 (estudantes pagam meia); grátis aos sábados.
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Com informações Silvia Balady Comunicação.