A cidade dos postais e a dos letreiros em duas exposições

Mostras trazem o resultado de anos de trabalho de Werner Haberkorn David Drew Zingg. 

O sonho era alto e vertical. Quando aportou em São Paulo, aos 29 anos, em 1936, o engenheiro alemão Werner Haberkorn deixava para trás a crise europeia em busca de subsistir de um novo negócio, a fotocópia, apenas praticado na capital paulista por um estabelecimento na Rua da Quitanda. O sucesso do empreendimento levou-o às fotografias nos cartões-postais na década de 1950.

Sua empresa, a Fotolabor, na elegante Avenida São João, entendia ser preciso aderir ao culto do crescimento vertical paulistano. Sua cidade de sonho não lhe permitiria variar os enquadramentos. Em geral a distância ou a partir do alto, ele via os prédios como templos iluminados a compor a geometria das ruas. A sua era uma cidade clara, limpa, de olho na utopia do horizonte amplo. No Centro Cultural Correios, é possível vislumbrar a reordenação urbana por meio de suas fotografias, de um acervo de 1,2 mil imagens.

Duas décadas depois da chegada de Haberkorn, o americano David Drew Zingg aportava no Rio de Janeiro como membro da equipe do veleiro Ondine em uma corrida oceânica cujo início era Buenos Aires. Zingg se tornaria pessoa carioca desde então, tendo organizado o Concerto de Bossa Nova no Carnegie Hall, de Nova York, em 1962.

Nos anos 1970, contudo, viveria em São Paulo de jornalismo, da música do grupo Joelho de Porco, em que atuava, e das imagens, que em sua totalidade alcançariam os 250 mil itens. A cidade vertical utópica havia muito desmoronara em vielas onde o fotógrafo detectava o improviso na base do existir.

Zingg fotografou São Paulo e o Brasil nos interstícios. Seus letreiros, placas e propaganda suja passaram a dizer tanto sobre a vida nas cidades quanto o sonho dos arranha-céus. No Instituto Moreira Salles de São Paulo estão expostos esses seus sinais, em grande parte produzidos a partir de diapositivos coloridos.

“Fotografia é história”, dizia o americano. “A máquina mostra os dias de hoje àqueles que queiram ver os dias de hoje. Mas a máquina também mostra o ontem àqueles que queiram aprender. O dever de um fotógrafo no Brasil, me parece, é insistir no registro do sofrimento e do prazer, do belo e do irônico. Só o tempo e o público decidirão o significado que as fotografias realmente têm.”

Rosane Pavam em Carta Capitalhttp://goo.gl/i2DSb1

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