Durante a 1ª reunião aberta da Aliança pela Água, no dia 21 de Janeiro de 2015, bastaria um fósforo ser riscado na sala do Espaço Crisantempo para causar uma grande comoção: os nervos dos participantes estavam à flor da pele, pois o nível do Sistema Cantareira era de apenas 5,6% e, após um 2014 terrivelmente seco, temia-se pelo pior. Uma catástrofe ambiental rondava a região metropolitana.
Mas felizmente São Pedro se apiedou de São Paulo, e as precipitações nos meses de Fevereiro e Março superaram as expectativas, dando um novo fôlego para o abastecimento de água na maior mancha urbana do país. Fôlego esse que pode ser curto, pois o Inverno que se inicia é uma estação tradicionalmente seca. Não por outra razão, já há cinco dias o nível do Sistema Cantareira não sobe. Desde o começo de Abril o nível do maior sistema abastecedor da capital tem oscilado em torno de 20%, ou de 9% negativos, se considerado o uso do “volume morto”.
Menos nervosos, porém atentos à situação ainda crítica , o coletivo Aliança pela Água fez sua 3ª reunião aberta, para apresentar um balanço do que foi feito até aqui e montar uma proposta de atuação conjunta nos próximos meses. A ambientalista Marussia Whatelly coordena essa rede composta por 48 entidades, e consolidou o conhecimento apurado pelo grupo em uma apresentação com imagens e gráficos, que mostraram que a situação do nível total de água nos diversos sistemas que abastecem a Grande São Paulo é pior neste começo de Inverno do que no mesmo período em 2014. Talvez não por outra razão houve um comparecimento recorde a esse encontro, com cerca de 60 pessoas presentes.
“Água é um direito humano, não é mercadoria”. Esse é o princípio básico que norteia a ação da Aliança pela Água. A lógica mercantilista na geração e distribuição da água afastou a população de uma confortável segurança hídrica. A estiagem não foi a causadora, mas apenas o estopim da crise, e a crítica que se faz é que enfrentar essa crise hídrica não passa apenas por fazer obras emergenciais, que a bem da verdade apenas transferem água de uma represa para outra. A questão é conseguir colocar em paralelo a esse modelo tradicional, uma forma mais ampla de gerir a água, considerando a recuperação de nascentes, o reflorestamento de córregos, a despoluição dos rios, a captação de água de chuva, e a utilização de água de reuso, além de uma ênfase na educação ambiental da população.
ONGs de expressão como SOS Mata Atlântica, WWF, Greenpeace, ISA, compõem a Aliança pela Água, ao lado de entidades com atuação local e propostas alternativas, como o uso de cisternas e práticas de reflorestamento. Os meses a seguir serão de monitoramento da situação, e o movimento pretende manter a agenda de reuniões abertas bimestrais, enquanto seguem os trabalhos divididos em grupos de ação.
Após lançar em Dezembro de 2014 uma Carta Aberta, e em Março deste ano o Manual de Sobrevivência para a Crise, a Aliança pela Água começa a preparar um manifesto pautado na construção de uma “nova cultura” para enfrentar a escassez hídrica, cuja realidade deve prosseguir nos próximos anos.
Mais informações no site do movimento, onde pode ser baixado o Manual de Sobrevivência para a Crise: www.aguasp.com.br
A reunião aconteceu no Espaço Crisantempo – Rua Fidalga 521, Vila Madalena, em 18 de junho.
Eduardo Britto – portal ZNnaLinha