Com a cara e a coragem

Ele estava no lugar certo e na hora certa, no mesmo instante em que Mateus da Costa Meira, o tresolucado estudante de medicina, interrompeu a sessão de cinema, em alguma sala do Shopping Morumbi, para disparar sua sub-metralhadora contra o público ali presente.

Enquanto recarregava a arma automática para uma segunda sequência de disparos, Renato lançou-se sobre o alucinado, imbilizando-o, impedindo-o assim de transformar aquela exibição em um filme de terror real.

Em 1999, Renato deveria ter sido eleito o “Publicitário do Ano”.

Coragem nunca faltou para esse carioca, criado em Curitiba, com ascendência nordestina e paulistano convicto.

Homem de múltiplos talentos, Renato é um sujeito que mais pergunta do que afirma.

Desarma certezas alheias, expondo pontos de vistas tão simples quanto inquestionáveis.

Suas indagações e perguntas que sugerem conclusões incômodas, despertam a fúria disfarçada de seus amigos comunistas.

Para a esquerda, Renato seria considerado um direitista, mas, por mais esforços que faça para travestir-se de “reaça”, ele é essencialmente um humanista.

Vez por outra vem à tona uma face que o faz parecer saído do Ramo Davidiano, na forma de um David Koresh raivoso contra a intervenção do Estado na vida do cidadão.

Se houvesse essa classificação possível, Renato seria um anarquista de direita.

Mas não a direita de feição autoritária, mas a libertária, aquela que está nos fundamentos da grande nação americana, que valoriza a livre iniciativa como expressão do indivíduo, da vontade pessoal versus a apatia coletiva.

Renato é assim.

Acredita tanto em suas incontáveis capacidades que abandonou uma carreira certa, na publicidade, como diretor de arte, para fundar seu próprio negócio.

Renato é um cara grande, fisicamente muito forte.

Ilusão acreditar que Renato usaria sua geografia avantajada para alguma ação truculenta contra desafetos, até por que não os possui.

As pessoas costumam se apaixonar por ele.

Renato é uma criatura que sabe possuir um cérebro invejável.

No entanto, num passado remoto, envolveu-se em pequenas arruaças, movido a combustíveis lícitos.

Palhaçada que logo foi descontinuada por sua esposa, Karina, que exigiu dele o comportamento responsável de um futuro pai de família.

O “delinquente” que fracassou rotundamente em seu breve projeto de “bad boy”, constituiu uma bela família, tornando-se um pai que fala, escreve, fotografa e filma seus filhos.

Não só os dele como os dos outros.

O mundo está descobrindo o maravilhoso fotógrafo de crianças e de cenas familares que ele é.

Profundo conhecedor de música negra dos Estados Unidos, apaixonado pelos seres humanos sem distinção, São Paulo seria uma cidade melhor se houvessem mais Renatos por aqui.

***
Zoca Moraes, é redator de propaganda, roteirista e contador de histórias. Conselheiro do São Paulo São, assina a coluna “Chegados“ toda semana.

 

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